PUBLICADO EM 25 de jan de 2018
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Quem foi condenado é o povo brasileiro’, diz Lula na Praça da República

Lula foi condenado hoje (24) por unanimidade em segunda instância, por três votos a zero, pela 8ª Turma do Tribunal Federal da 4ª Região (TRF4). “Hoje falaram 10 horas seguidas, leram não sei quantas páginas e não tem um crime. Se apresentarem crime, eu desisto da candidatura. Eu agora quero ser candidato à Presidência da República. Eu agora tenho vontade de ser”, disse ainda o ex-presidente.

Lula na Praça da República, em São Paulo

Com Rede Brasil Atual

“Este é um ato em defesa do Brasil. Eu nunca tive nenhuma ilusão com o resultado do julgamento. Quem está no banco dos réus é o Lula. Mas quem já foi condenado é o povo brasileiro. Tudo tende a piorar quando eles consagrarem a reforma da Previdência”, disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em ato em defesa da democracia na Praça da República, no centro de São Paulo. De acordo com os organizadores, o ato reunia cerca de 50 mil pessoas por volta de 20h, pouco antes do discurso do ex-presidente.

Lula foi condenado hoje (24) por unanimidade em segunda instância, por três votos a zero, pela 8ª Turma do Tribunal Federal da 4ª Região (TRF4). “Hoje falaram 10 horas seguidas, leram não sei quantas páginas e não tem um crime. Se apresentarem crime, eu desisto da candidatura. Eu agora quero ser candidato à Presidência da República. Eu agora tenho vontade de ser”, disse ainda o ex-presidente.

Representantes de movimentos sociais criticaram a sentença e desafiaram quem tentar prender Lula. “Nós vamos rasgar a sentença porque ela não representa o pensamento do povo brasileiro. Mais do que isso, nós temos direito à desobediência civil e à resistência”, afirmou o líder do MST (sem-terra) Gilmar Mauro. “Se quiserem prender Lula, terão de prender milhões de militantes por este país afora”, acrescentou, falando em união de setores progressistas. “Apesar das nossas diferenças, e temos muitas, estamos construindo a unidade de fato.”

O líder do MTST (sem-teto) Guilherme Boulos chamou o julgamento de “farsa, em que três cidadãos passaram o dia falando sem conseguir apresentar nenhuma prova contra este cidadão que está aqui”, afirmou, ao lado de Lula e chamando os desembargadores de “anões jurídicos”.

“O bicho vai pegar”
Segundo ele, o dia traz uma lição: “Eles ultrapassaram a linha vermelha, passaram dos limites. (Isso) leva o povo à radicalização e deixa a rua como única alternativa. Não existe espaço para hesitação, para recuo”.

Anunciando quatro rodovias bloqueadas em São Paulo, Boulos disse que muitas outras virão. “Chega do tempo de obediência. Se tentarem prender, pôr o dedo neste senhor (Lula), o bicho vai pegar neste país.”

Por volta de 20h50, o ex-presidente deixou o local, enquanto parte dos manifestantes saiu em marcha em direção à Avenida Paulista, subindo a Rua da Consolação. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ), Boulos e o presidente da CUT-SP, Douglas Izzo, comandaram a atividade. A Polícia Militar acompanhou todo o trajeto. Não houve incidentes.

Por volta de 21h30 a marcha alcançou a Paulista e em seguida chegou ao vão livre do Masp. A dois quarteirões dali, um grande efetivo policial, com aproximadamente 20 veículos, guardava o quarteirão da Paulista onde fica o prédio da Federação das Indústrias do Estado (Fiesp). A mobilização policial permanecia mesmo após a dispersão dos manifestantes, depois das 22h.

O senador disse ao fim da marcha que o país não vive mais uma ordem democrática. “Isso força a esquerda a se reorganizar, sem apostar tudo na institucionalidade. Normalidade democrática (no país) foi regra, não exceção. Estamos prontos para lutar. Para prender Lula, tem de prender a gente”.

Sergio Luiz Leite, 1° Secretário da Força Sindical  na Praça da República, em São Paulo

Unidade da esquerda
Para o presidente da CUT, Vagner Freitas, os juízes do TRF4 tomaram uma atitude impensável, que leva a um enfrentamento. “Nós vamos derrubar essa medida nas ruas. Lula será lançado candidato amanhã”, afirmou, destacando o anúncio da candidatura à Presidência, que deve ocorrer nesta quinta-feira (25), em reunião da direção nacional do PT. “Hoje foi julgada a Justiça brasileira”, disse ainda. O presidente da CUT considera que se insistirem na votação da reforma da Previdência, em 19 de fevereiro, “vamos construir a maior greve geral da história deste país”.

Também representavam as centrais sindicais o presidente da CTB, Adílson Araújo, Sérgio Luiz Leite, o Serginho, 1º secretário da Força Sindical; Luiz Gonçalves, o Luizinho, presidente da Nova Central em São Paulo, e Edson Carneiro, o Índio, secretário-geral da Intersindical. Fizeram discursos representantes do PT, PCdoB, Psol e PCO.

“Essa ditadura que está colocada será enfrentada por nós. A aparente derrota é válvula propulsora de nossa mobilização”, disse na Praça da República a presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel. “Há uma fissura na democracia brasileira”, acrescentou.

“Hoje é um momento triste. Não foi totalmente inesperado, mas sempre havia um pouco de esperança. Falhas no processo apontadas inclusive por juristas conservadores. O capital financeiro é que comandou esse golpe”, avaliou o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, que deverá ser candidato ao governo do Rio de Janeiro.

“Se os desembargadores pensam que essa decisão tirou Lula do jogo, estão completamente enganados”, disse o presidente estadual do PT e ex-prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, que fez um apelo à unidade da esquerda já no primeiro turno das eleições deste ano para a presidência da República.

Lindbergh Farias disse em seu discurso que daqui a 30 ou 40 anos o país se lembrará desta data. “O julgamento não foi do Lula. Hoje, eles acabaram com a democracia brasileira e com o pacto construído na Constituição de 1988 por todos os partidos e todos os grupos. Primeiro, rasgaram mais de 54 milhões de votos, segundo, rasgaram a Constituição com a Emenda 95 (de teto dos gastos públicos). Agora, querem transformar a eleição em uma fraude, em um jogo de cartas marcadas. Querem tirar o representante do povo que lidera todas as pesquisas. Não vivemos mais em uma democracia no Brasil, é preciso que saibamos disso de uma vez por todas”, disse o senador.

Ele fez referência a ligações do golpe institucional promovido pelo judiciário com os interesses dos norte-americanos. “Você sabe que na história ainda vamos entender o real papel dos Estados Unidos. Lembro quando Lula anunciou o pré-sal, os Estados Unidos colocaram frota no Atlântico Sul. O Brasil foi espionado, os Estados Unidos participaram da conspiração contra Getúlio. Em 1964, o presidente norte-americano colocou tropas à disposição do golpe”, afirmou. O senador disse ainda que o “Judiciário conspira pelas elites contra o povo trabalhador”.

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