
Bob Dylan/Foto: Alberto Cabello
Por Marcos Aurélio Ruy
As canções selecionadas desta edição comprovam a máxima de que toda boa obra não perde a atualidade. Do folk rock de Bob Dylan ao samba urbano de Paulo Vanzolini (1924-2013), as músicas podem dar as respostas que os ventos sopram, mas não se percebe claramente por pura distração.
Então deixe o som entrar e medite a respeito do que estamos fazendo ou não para impedir a destruição da vida e do planeta por governantes compromissados apenas com o dinheiro e com os muito ricos.
Bob Dylan
O único compositor a ganhar um Prêmio Nobel de Literatura foi o norte-americano Robert Allen Zimmerman, Bob Dylan, em 2016, pelo conjunto de sua obra. De tantas canções imortalizadas influenciando gerações, a premiação soa como merecida.
“Blowin’ in the Wind” (Soprando no Vento) é um dos seus primeiros grandes sucessos. Canção que embalou toda uma geração de hippies mostrando a vontade de cair no mundo para conhecê-lo e encontrar as respostas. “Quantas mortes serão necessárias até que ele saiba que muitas pessoas morreram?” é um recado direto, em pleno século 21, para os defensores da morte e do capital ou vice-versa.
“Quantas vezes um homem deve olhar para cima
Antes de poder ver o céu?
Sim, e quantos ouvidos um homem deve ter
Antes de poder ouvir as pessoas chorarem?
Sim, e quantas mortes serão necessárias até que ele saiba
Que muitas pessoas morreram?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento”
Blowin’ in the Wind (Soprando no Vento; 1963), de Bob Dylan
Johnny Hooker
John Donovan Maia, conhecido como Johnny Hooker é um dos novos nomes da MPB. Vindo de Pernambuco, seu talento transborda como também transborda a sua defesa da igualdade de direitos para os LGBTs. Compôs “Volta” para o filme “Tatuagem” (2013), de Hilton Lacerda, entre muitas outras canções.
“Dizem que fugi por te querer demais
Como quero tantas outras, todas sempre iguais,
Dizem por aí que meu cabelo de rapaz
E o meu olhar de homem, mas eu faço muito mais”
Boato (2015), de Johnny Hooker
André Abujamra
Integrante da dupla Os Mulheres Negras, criada em 1985, o paulista André Abujamra esbanja talento em suas canções mesclando ritmos nacionais com rock. O outro integrante da banda, que terminou em 1991, era Maurício Pereira.
Com a dissolução dos Mulheres Negras, André criou a banda Karnak e atualmente tem carreira solo. Segundo sua canção selecionada, “o mundo tá muito doente”. Alguém tem dúvida?
“O mundo caquinho de vidro
Tá cego do olho, tá surdo do ouvido
O mundo tá muito doente
O homem que mata
O homem que mente”
O Mundo (1995), de André Abujamra; canta Lúdica Música
Zeca Baleiro
O maranhense José Ribamar Coelho Santos, conhecido como Zeca Baleiro, é um dos grandes talentos da MPB. Suas canções misturam sons de maneira impensável e suas poesias não conhecem tabu. Em 2009 compôs “Toca Raul” para atender o pedido que sempre vinha de sua plateia: “toca Raul”. Ele toca.
Em “Banguela” ele canta um país de banguelas que sonha com outra vida.
“Favela não é hotel
Vida não é novela
Qual é a graça desgraça
Que há no riso do banguela?
Mulher é pro carinho
Vinho que a uva deu
Deserto é do camelo
Novelo de teseu”
Banguela (2000), de Zeca Baleiro
Paulo Vanzolini
O paulistano Paulo Vanzolini (1924-2013) foi um zoólogo que compôs clássicos da música popular brasileira como “Ronda”, citada por Caetano Veloso em sua intrigante “Sampa” e “Na Boca da Noite”, em parceria com Toquinho.
Em “Volta por Cima” canta a vida e já denuncia a degeneração de uma sociedade onde prevalece o individualismo e a hipocrisia. Elza Soares faz uma releitura desse clássico, gravada pelo cantor paulista Noite Ilustrada (Mário de Souza Marques Filho/1928-2003), em 1962. A “cantora do milênio” canta “mulher de moral não fica no chão e não quer que ninguém lhe venha dar a mão”. Ela pode tudo.
Volta por Cima (1962), de Paulo Vanzolini; canta Noite Ilustrada