Mesmo adotando uma série de medidas para reduzir gastos, como fechamento de agências próprias e corte de patrocínios, o prejuízo da estatal em 2017 já alcançava R$ 2,03 bilhões até novembro; 17% a mais do que o déficit do mesmo período do ano passado; será o terceiro ano seguido no vermelho, superando todas as estimativas pessimistas feitas pelo próprio governo; em meio às discussões sobre uma eventual privatização dos Correios, a Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Sest) apresentou ao Palácio do Planalto uma projeção que apontava prejuízo de R$ 1,3 bilhão neste ano
A sangria financeira na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) não foi estancada pelo novo governo. Mesmo após uma série de medidas para reduzir gastos, como fechamento de agências próprias e corte de patrocínios, o prejuízo da estatal em 2017 já alcançava R$ 2,03 bilhões até novembro – 17% a mais do que o déficit do mesmo período do ano passado.Será o terceiro ano seguido no vermelho, superando todas as estimativas pessimistas feitas pelo próprio governo. Em meio às discussões sobre uma eventual privatização dos Correios, a Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Sest) apresentou ao Palácio do Planalto uma projeção que apontava prejuízo de R$ 1,3 bilhão neste ano.
Em uma tentativa desesperada de inverter a trajetória, o ministro Gilberto Kassab (da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) cruzou a cidade e foi despachar na semana passada com o presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Ives Gandra Martins Filho.
Os Correios – vinculados ao Ministério das Comunicações – judicializaram sua disputa com sindicatos em torno do Postal Saúde, empresa responsável pela gestão do convênio médico dos trabalhadores, que representa mais de 80% do rombo acumulado nos últimos três exercícios.
As duas partes passaram o ano inteiro buscando um acordo, mas as tentativas de mediação do TST fracassaram por causa da resistência dos sindicatos à proposta dos Correios. A companhia acaba de entrar com uma ação judicial para reduzir seus aportes e Kassab foi pedir a Ives Gandra que o julgamento ocorra logo no início de 2018. Quanto mais a agonia se prolongar, conforme advertiu o ministro na conversa, mais perto se estará do colapso.
A cada R$ 100 com gastos do plano de saúde, os Correios bancam R$ 93 e os trabalhadores arcam com R$ 7. Hoje o benefício abrange funcionários da ativa e aposentados, mas se estende nas mesmas condições para cônjuges, filhos e pais. Na ação judicial, a estatal pleiteia bancar 100% dos gastos, mas restritos aos empregados (ativos ou inativos), sem dependentes. Dispõe-se ainda a transferir 15% do resultado líquido – em caso de lucro – para abater os custos do convênio.
“É essencial para o nosso equilíbrio e a nossa sustentabilidade”, disse o presidente da ECT, Guilherme Campos, que relativiza o déficit verificado neste ano. Para ele, o resultado foi muito prejudicado pelo programa de demissões voluntárias, que teve a adesão total de mais de 6 mil pessoas. A reserva contábil para o pagamento dos incentivos às demissões está sendo feita no balanço de 2017. Ela representa uma despesa adicional de R$ 1,2 bilhão nas contas, mas sem o mesmo impacto imediato no fluxo de caixa porque as indenizações são parceladas em oito anos.
“Sem o PDV e as despesas com o Postal Saúde, estaríamos terminando este ano praticamente no zero a zero”, afirmou o presidente. Segundo ele, isso significa que as medidas de austeridade e racionalização tiveram reflexo. Houve fechamento de agências aos sábados, redução do número de unidades da rede própria (sem mexer nas franqueadas), corte de patrocínios culturais e esportivos, adiamento de férias para trabalhadores – a fim de economizar com o adicional, que é de 70% (e não 30%), por acordo coletivo.
Muitos sindicatos e associações de empregados, porém, desconfiam que a cartilha apregoada por Campos – ex-deputado federal e hoje vice-presidente nacional do PSD – busca deteriorar as contas da empresa tão somente para tornar menos complicada sua privatização no futuro.
Eles apontam que algumas iniciativas promissoras ficaram estancadas ou tiveram pouco avanço. Um projeto de lei apresentado em maio pela deputada Maria do Rosário (PT-RS) dá à administração pública federal a prerrogativa de contratar diretamente os Correios para serviços postais. “Estimativas menos otimistas da própria estatal calculam o valor de R$ 20 bilhões [como potencial de receitas]”, afirmam Maria do Rosário e os demais co-autores do projeto.
Um aspecto destacado pelos críticos é a queda em torno de 5% nas receitas da empresa. A tentativa de relicitação do Banco Postal, que engordava o caixa dos Correios, fracassou. Concorrentes no mercado de encomendas expressas, que não constituem monopólio, também avançam.
Diante dos três anos seguidos de prejuízo – que já totalizam mais de R$ 6 bilhões -, os indicadores operacionais sofreram um tombo. O número de indenizações por perdas, atrasos e roubos de objetos saltou de 7.534 em 2015 para 12.434 em 2017 (até outubro). Houve aumento de R$ 140 milhões para R$ 187 milhões, na mesma comparação, como forma de reparo aos clientes.