PUBLICADO EM 20 de set de 2018
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Por trás dos protestos anti-guerra que varreram a América em 1968

Conforme a presença militar americana crescia, crescia paralelamente a batalha pela paz. Vinha crescendo, desde a Resolução do Golfo de Tonkin de 1964, e a subsequente decisão de Johnson pelo bombardeamento na Operação Rolling Thunder. Grupos de direitos civis, como os Estudantes pela Sociedade Democrática (SDS) e o Movimento pelo Discurso Livre, tinham marchado em Washington e outros lugares. Jovens publicamente queimavam suas cartas de alistamento.

Manifestantes anti-guerra em frente à Casa Branca em janeiro de 1968. Foto PhotoQuest / Getty Images.

Manifestantes reunidos na Casa Branca circulavam ao redor da cerca, carregando cartazes onde se lia “Pare a Guerra”, “Tragam os militares para casa agora”, “Nós choramos por nossos soldados, eles estão morrendo em vão”. Conforme os manifestantes andavam, alguns entregavam flyers, sinais de paz instantâneos, e seguravam velas. Seu canto era tão alto que eles podiam ser ouvidos de dentro da mansão executiva. “Não há paredes suficientes para isolar o som”, a filha mais nova de Lyndon Johnson, Luci, mais tarde se lembrou do constante refrão “Ei, ei, caças LBJ, quantas crianças vocês mataram hoje?”.

Logo as vozes de protesto chegaram às salas da Casa Branca. Quando a cantora e estrela de Batman, Eartha Kitt, participou de um almoço na Casa Branca no qual Johnson falou, ela se levantou e repreendeu o comandante chefe. “Você manda o melhor desse país para fora, para serem baleados e mutilados”, disse Kitt. “Eles se rebelam nas ruas. Eles não querem ir para a escola, porque eles vão ser arrancados de suas mães para serem baleados no Vietnam”.

Enquanto pessoalmente ofendido por Kitt critica-lo tão publicamente na Casa Branca, Johson sabia porque as pessoas protestavam. Ele sabia porque eles imploravam por seus pais, filhos, irmãos e namorados para voltarem para casa do Vietnam. Ambos maridos de suas filhas estavam servindo lá. O marido de Luci, Patrick Nugent, servia na Guarda Nacional do Ar, e o marido de Lynda, Capitão Charles Robb, comandava uma companhia de rifle Marina. “Para o crédito de Johnson, sua família havia posto seu dinheiro onde a boca do comandante chefe estava”, disse o historiador Mark Updegrove à LIFE. Mesmo assim, disse Updegrove, o Presidente acreditava profundamente que ele devia manter a nação lutando, porque “às vezes você tem que tomar uma posição, você não pode tomar a liberdade de graça”.

Conforme a presença militar americana crescia, crescia paralelamente a batalha pela paz. Vinha crescendo, desde a Resolução do Golfo de Tonkin de 1964, e a subsequente decisão de Johnson pelo bombardeamento na Operação Rolling Thunder. Grupos de direitos civis, como os Estudantes pela Sociedade Democrática (SDS) e o Movimento pelo Discurso Livre, tinham marchado em Washington e outros lugares. Jovens publicamente queimavam suas cartas de alistamento. A “Nova Esquerda” apelidou os Estados Unidos da “Amerika”, e a imprensa alternativa disseminava informação anti-guerra através de seus próprios novos serviços.

Não eram apenas estudantes de esquerda e hippies que se opunham à guerra. Muitas pessoas eram contra, porque não havia consenso de que os Estados Unidos fossem vencer. Isso fomentou o crescimento da organização de Veteranos do Vietnam contra a Guerra e inspirou Jeannette Rankin, a primeira mulher eleita para o Congresso, a liderar 5.000 mulheres em marcha para o Capitólio. Uma corretora financeira, Paine Webber, Jackson & Curtis, foi longe e disse que a paz no Vietnam seria “a coisa mais otimista que poderia acontecer no mercado de valores”.

A entrada de Eugene McCarthy na corrida presidencial de 1968 deu uma grande força para o movimento anti-guerra. As batalhas de Khe Sanh e a Ofensiva Tet mudaram a concepção sobre a guerra de muitos americanos, que percebiam que os nortes vietnamitas se recusavam a enfraquecer.

O apoio dos americanos à maneira com que Johnson estava lidando com a guerra caiu para um terço entre março de 1967 e o início de 1968. Sobre o movimento antiguerra Anthony De Curtis disse à LIFE: “Era sobre capitalismo e sobre algo que precisava ser derrubado e não pela consciência”.

Os protestos se espalharam. As escolas serviam como o principal centro de agitação. Isso era encorajado pela decisão da administração de Johnson de abolir os adiamentos de alistamentos dos estudantes mais graduados em um movimento que afetou 650.000 homens. Naquele contexto o boxeador Muhammad Ali, banido do box por recusar o alistamento, percorreu os campos, dando centenas de discursos.

Na Escola de Direito de Harvard, o professor Alan Dershowitz ensinava uma aula de maneiras legais para resistir ao alistamento. Os estudantes lá, assim como na Universidade de Radcliffe e Boston, participavam de uma greve de fome de quatro dias contra a guerra. E na Columbia, 3.5000 estudantes e 1.000 membros da faculdade boicotavam as aulas em protesto. Membros do SDS liderados pelo estudante universitário Mark Rudd expressavam sua oposição ao envolvimento da escola com o Instituto de Análise de Defesa e pesquisa de armas para os militares, enquanto também lutavam pela construção de um novo ginásio, que eles se queixavam que oferecia acesso discriminatório para os residentes da vizinhança do Harlem. Eles também tomavam prédios das escolas e ocupavam o escritório do diretor. Quando 1.000 policiais de Nova York desceram no campus da Columbia para acabar com os protestos, essa resposta resultou em muitos feridos e 700 prisões.

A agitação se espalhou por centenas de escolas. Uma pesquisa do Jornal de Milwaukee apontou que 75% dos estudantes apoiavam os protestos organizados como um “meio legítimo de expressar as queixas dos estudantes”. E alguns abandonavam os princípios de Gandhi de não violência defendidos por Martin Luther King Jr. Houve três ataques criminosos na Southern Illinois University, por aqueles que se opunham à guerra. Estudantes de muitas universidades também se opunham ao recrutamento pelos lucros das empresas da guerra, e protestavam contra os investimentos das universidades em empresas como Dow Chemical, que fabricava napalm, uma gasolina gelatinosa usada no Vietnam em bombardeios e lança-chamas.

Alguns dos que se opunham à guerra invadiram escritórios de alistamento. Padre Daniel Berrigan, e oito outros membros da Igreja Católica entraram no escritório do Serviço Seletivo em Catonsville, Maryland, e confiscaram centenas de fichas de alistamento. No lado de fora, eles destruíram as fichas com seu próprio napalm caseiro. Um grupo que ficou conhecido como 14 Milwaukee invadiu o escritório do Serviço Seletivo da cidade e pegou 4.000 fichas de alistamento classe 1-A, arrastando-as em sacos e as queimando em um parque do outro lado da rua.

Fonte Daniel S. Levy para time.com

Tradução Luciana Cristina Ruy

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