PUBLICADO EM 10 de mar de 2020

Por que OMS hesita em classificar pandemia de coronavírus

Entidade afirma que, caso fosse uma gripe comum, classificação já seria de pandemia. Entretanto, existe receio de mais alarde sobre o coronavírus

Pandemia é quando um vírus se espalha simultaneamente em um grande número de locais em todo o globo. Tal transmissão acontece de forma independente, sem focos específicos – Foto: Fernando Frazão/Agencia Brasil

Diversas regiões do mundo passam por uma epidemia de covid-19, doença provocada por uma recente mutação de um coronavírus. O fato está presente nas conversas de cidadãos em todo o mundo, nos noticiários e, de forma intensa, é alvo de muitas fake news. Hoje (9), a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que existe uma “ameaça real” de pandemia de coronavírus – quando uma doença se espalha em níveis não apenas locais, mas entre diversos países e continentes.

Essa forma de transmissão acontece de forma independente, sem focos específicos. Então, seria virtualmente impossível controlar sua dispersão isolando pessoas. O tratamento do surto seria alterado para a construção de planos sanitários mais abrangentes.

O líder dos trabalhos da OMS em relação ao coronavírus, Michael Ryan, disse que se a epidemia fosse de algum tipo de influenza – grupo de vírus responsáveis pela gripe –, o órgão já teria declarado pandemia do coronavírus. Existe, entretanto, o temor de que essa classificação declaração aumente os níveis de pânico e as especulações em torno da nova doença.

A doença transmitida pelo covid-19 é considerada de baixa letalidade, que se manifesta com sintomas de um resfriado comum. A mortalidade não atinge 3% dos infectados, sendo a imensa maioria desses casos entre pacientes com mais de 80 anos. O número de mortes de crianças, por exemplo, é próximo de zero.

A baixa letalidade da doença não significa que não sejam necessários esforços coletivos, de autoridades médicas, serviços públicos, do meio científica e da sociedade em geral. O que não ajuda é o pânico e a disseminação de boatos sem fundamento.

O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, disse existir uma pressão de alguns países para que o mundo trate a situação como de pandemia de coronavírus. Desta forma, porém, os esforços de combate poderiam, na prática, ser reduzidos.

Ghebreyesus afirmou que autoridades insinuaram que, pelo fato de a doença ser letal majoritariamente entre idosos, os esforços poderiam ser menores nessa categoria. O diretor-geral disse que, caso o mundo trate o tema dessa forma, seria “uma decadência moral” da sociedade. “Todos contam; idosos e jovens (…) Que seja uma pandemia ou não, a regra do jogo é clara: não desistir.”

Velocidade
A doença foi identificada na China em dezembro. Seu epicentro é a província de Hubei, da capital Wuhan. Na última semana, autoridades chinesas anunciaram que as transmissões no epicentro estavam totalmente controladas. Então, os números da doença começaram a regredir no país. São mais de 110 mil casos confirmados; cerca de 80 mil na China. Mais de 70% dos doentes já estão totalmente curados. Morreram quase 4 mil.

A OMS acredita que o surto tenha iniciado sua dispersão no fim do ano passado. Logo, este é o ponto que desperta maior preocupação de agentes de saúde e da comunidade científica: a velocidade e facilidade do amplo contágio. Mesmo menos letal do que outros vírus, como o H1N1 ou o Sars, a rapidez com que o coronavírus se espalhou é motivo de alerta.

Em apenas uma semana, o panorama da doença foi drasticamente alterado. Grandes quarentenas e restrições na China, aliado à propagação global, mudou o foco de preocupação para países como Irã e Itália, que vivem um crescimento drástico de casos. São quase 8 mil casos na Itália, com 463 mortes confirmadas até o momento.

Ontem, o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, anunciou medidas drásticas para tentar conter o rápido avanço da doença. Fechamento de museus e pontos turísticos, restrições em bares e restaurantes e até proibição de entrada e saída de pessoas no norte do país, região da Lombardia, mais afetada, com mais de 5 mil casos.

Saúde pública
O coronavírus é um problema de saúde pública global. O enfrentamento envolve ações governamentais, que incluem tratamento direto aos pacientes. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) concentra tal responsabilidade com os cidadãos: financia pesquisas para descobrir tratamentos e atendem infectados nas diversas unidades da maneira mais adequada.

Nem todos os países contam com a garantia da saúde pública como direito. Nos Estados Unidos, por exemplo, um pai, Frank Wucinski, com sua filha de três anos, voltou da China no início do mês e foi parado pela vigilância sanitária no aeroporto de Nova York. Ele foi obrigado, pelas autoridades, a ficar de quarentena e realizar uma série de exames para poder ir para casa.

No fim, os exames deram negativo para covid-19. Mesmo forçados à quarentena, no fim o hospital responsável pela quarentena e exames mandou a conta de US$ 4 mil, algo em torno de R$ 20 mil. “Não tivemos escolha”, disse ao The New York Times, “quando as contas apareceram, era apenas uma coceira no meu estômago sem saber como pagaria”, completou.

O caso despertou a crítica de norte-americanos insatisfeitos com a virtual ausência de saúde pública no país. O autointitulado socialista senador Bernie Sanders, que disputa as prévias do partido Democrata para o pleito presidencial, que acontece neste ano, declarou que: “assim que tiver uma vacina para esta doença, é obrigação do Estado distribuir gratuitamente”. No Brasil, doenças com surtos registrados são distribuídas gratuitamente pelo SUS, algo que não acontece lá.

Velhos conhecidos e precauções
Para controle da doença, todo cidadão pode ajudar com medidas básicas, recomendadas por órgãos de saúde. Medidas que também devem ser tomadas para conter o avanço de outras doenças, tais como cepas de gripes mais letais como o H1N1, ou até mesmo contra a dengue, que é mais letal (3,8%) e anda desapercebida por conta do alarde em torno do coronavírus.

Em 2019, o Brasil registrou 1.544.987 casos de dengue, um aumento de 488% em relação ao ano anterior de acordo com dados do Ministério da Saúde. Também aumentou o número de pacientes com zika e chikungunya, com 52% e 30% respectivamente. Para as três doenças, a recomendação já é de amplo conhecimento: não deixar água parada para evitar a proliferação do mosquito aedes aegypti e utilizar repelente em áreas de risco, especialmente grávidas em relação ao zika vírus, que está ligado a problemas de desenvolvimento do feto.

Fonte: Rede Brasil Atual

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