A Trapaça, desdobramento da Operação Carne Fraca, foi deflagrada em março deste ano. A operação tinha como alvo um esquema de fraudes descoberto na empresa BRF, gigante do setor de carnes e processados. A investigação da Polícia Federal (PF) aponta que três unidades de produção de frango da BRF – em Carambeí (PR), Rio Verde (GO) e Mineiros (GO) – fraudavam os resultados dos exames para a presença da bactéria salmonela. Uma fábrica de produção de ração da empresa, em Chapecó (SC), e três laboratórios que faziam testes de qualidade com os produtos também foram investigados.
Como consequência, o governo suspendeu as exportações de carne de três fábricas da BRF, obrigando a empresa a dar férias coletivas para seus funcionários.
No relatório de 405 páginas, o delegado Mauricio Moscardi, da Polícia Federal em Curitiba, afirma que, a partir da análise de conversas por mensagens de e-mails e WhatsApp, “concluiu-se que a prática das condutas delitivas não se restringia ao círculo das equipes técnica e gerencial das fábricas da BRF”. “Há, de fato, a participação do corpo diretivo da empresa na trama investigada, o qual tinha ciência de seu modus operandi, e que, não somente se omitiu em relação a fazer cessá-lo, mas, também, participou comissivamente dos atos de ocultação das fraudes, norteando sua execução”, aponta o delegado.
“Destaca-se a participação ativa, em caso envolvendo a detecção de resíduo tóxico em carne de frango pelas autoridades chinesas de Pedro de Andrade Faria (à época diretor-presidente global do Grupo BRF), Abilio dos Santos Diniz (à época presidente do Conselho da BRF) e José Carlos Reis de Magalhães Neto, sócio da Tarpon Investimentos (empresa detentora de “aproximadamente” 7% do capital aberto do Grupo BRF, segundo informações prestadas por Pedro Faria em sede policial).”
O delegado cita, no relatório, uma conversa ocorrida em um grupo do Whatsapp, do qual faziam parte Pedro Faria, Abilio Diniz e José Carlos Reis de Magalhães Neto. O grupo, segundo a PF, foi criado em 12 de dezembro de 2014.
“O contexto das conversas indica o conhecimento do corpo executivo do Grupo BRF sobre a ocorrência de detecção de substâncias nocivas à saúde humana em produtos oriundos das plantas industriais da empresa. Abilio Diniz e Pedro Faria, pela posição hierárquica que ostentavam no quadro corporativo do grupo, possuíam plena capacidade de orientar os círculos sob sua subordinação a tomar as medidas técnicas e eficazes, em âmbito sanitário, para que se determinasse a causa-raiz da contaminação química dos produtos destinados ao consumo e a regularização do processo industrial”, indica o delegado.
Segundo o investigador, “o que ocorreu foram tão somente a lamentação dos executivos pelo vazamento de informação já conhecida, a interlocução sobre o ocorrido e também “a tomada de medidas com o fim de “abafar” a disseminação dos fatos descritos em matéria veiculada na imprensa nacional.
O início da conversa ocorreu em 9 de setembro de 2015. Pedro Faria enviou aos empresários uma matéria do jornal O Estado de S. Paulo que tratava da suspensão da venda de frango de 2 unidades da BRF e da Bello Alimentos pela China.
Na avaliação da PF, “o grupo agia de forma organizada e mantinha comunicação permanente, objetivando iludir auditorias, programadas ou inopinadas, em plantas industriais da BRF, eventos nos quais produtos irregulares eram retirados de depósito e escondidos da fiscalização”.
“A mesma prática era adotada em caso de auditoria de entes estrangeiros, para que as condições de fiscalização estivessem em conformidade adequada a receber as acreditações necessárias para a continuidade de seu processo fabril, e destinação dos produtos, havendo sempre o retorno à rotina irregular de operação tão logo cessassem os atos de auditoria”, relata o delegado.
Procurada, a BRF ainda não informou que vai comentar o indiciamento.
(Com Estadão Conteúdo)
Fonte: Veja