Pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) em parceria com o Datafolha aponta, por exemplo, que 1,6 milhão de mulheres maiores de 16 anos sofreram espancamento ou tentativa de estrangulamento nos 12 últimos meses. Nos 12 meses encerrados em fevereiro de 2017, foi 1,4 milhão de mulheres.
“Os números mostram que a violência contra a mulher ainda é muito alta e cotidiana. Muitas dessas mulheres têm dificuldade em buscar ajuda”, diz Olaya Hanashiro, pesquisadora do FBSP.
Ao todo, para esta edição da pesquisa, foram feitas 2.084 entrevistas em 130 municípios no começo de fevereiro. Posteriormente, houve a extrapolação dos resultados, para ilustrar toda a população brasileira. Homens também foram entrevistados, mas somente para medir a percepção da população sobre os casos de violência.
O levantamento mostra que, ao todo, 16 milhões de mulheres sofreram algum tipo de violência no ano passado. Os atos vão desde insulto, humilhação ou xingamento (12,5 milhões), passando por empurrão, chute ou batida (4,7 milhões), toques ou agressões físicas por motivos sexuais (4,6 milhões) até ameaças com facas e armas de fogo (1,7 milhão) e espancamento e tentativa de estrangulamento. Muitos desses números não são diretamente comparáveis com a edição anterior da pesquisa, por diferenças metodológicas.
Mesmo assim, a percepção a respeito desses atos caiu. Entre os entrevistados, 59% afirmaram ter visto uma mulher sendo agredida física ou verbalmente no último ano – queda em relação aos 66% vistos na pesquisa anterior.
Para Olaya, é difícil apresentar uma única explicação para o recuo. Segundo ela, a queda pode estar ligada, por exemplo, à “resistência” dentro de uma parcela da sociedade, contrário ao fortalecimento das discussões sobre gênero e violência.
“Embora a comparação com os dados de 2017 indique redução nos níveis de percepção da violência contra a mulher, os dados de vitimização (atos de violência) não corroboram essa informação”, diz o FBSP.
Outro dado preocupante é que 76,4% das vítimas afirmaram que conheciam o seu agressor, fosse ele cônjuge, ex-namorado ou vizinho. Ela ainda chama a atenção para o fato de 52% das mulheres que sofreram algum tipo de violência no último ano não terem procurado nenhuma ajuda, nem das autoridades nem da família.
“Essa mulher está sofrendo sozinha, sem a ajuda das instituições adequadas, que são as do Estado e que deveriam atuar em rede: segurança pública, saúde, Judiciário”, diz Olaya. Apenas 10,3% procuraram uma delegacia da mulher, enquanto 8% visitaram uma delegacia comum. “Quantas delegacias da mulher existem? Qual o horário de funcionamento? Qual é a qualidade do atendimento? O tipo de ajuda que a mulher vai encontrar em um posto desses é importante. Ela pode ficar em uma situação ainda pior, de humilhação ou de exposição”, afirma.”
Fonte: Valor Econômico