PUBLICADO EM 13 de ago de 2021
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Para ex-presidente da Anvisa, Ricardo Barros fez ‘pirotecnia” na CPI

“O Ministério da Saúde não queria comprar vacina”, aponta Gonzalo Vecina, sobre a tentativa do líder do governo de culpar a CPI da Covid por negociações de imunizantes supostamente interrompidas. Laboratórios também desmentem declaração de Barros

O laboratório da Pfizer, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a União Química, também negaram que as investigações da CPI da Covid atrapalharam a negociação de venda de vacinas – Foto: Jefferson Rudy/ Ag. Senado

Em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta sexta-feira (13), o ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Gonzalo Vecina, contestou a declaração do deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, em depoimento à CPI da Covid. Para o médico infectologista e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Barros fez “uma pirotecnica para esconder os fatos” ao dizer que os trabalhos da comissão estariam “afastando do Brasil” as empresas fabricantes de vacina.

O líder do governo teria sido relacionado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, ao suposto esquema irregular de negociação do Ministério da Saúde para a compra da vacina Covaxin. De acordo com o deputado Luis Miranda (DEM-DF), no dia em que ele e seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, apresentaram as denúncias a Bolsonaro, em 20 de março, o mandatário teria afirmado que o caso era “rolo” de Barros.

Escondendo os fatos

A declaração de Miranda até hoje não foi desmentida por Bolsonaro, que já confirmou ter se reunido com os irmãos Miranda. Para o ex-presidente da Anvisa, as apurações apontam que “o Ministério da Saúde não queria comprar vacina”. Ele lembra que o Brasil teve muita dificuldade de conseguir as doses diretamente com os laboratórios, mas agiu de modo diferente na compra com intermediárias. Como no caso da participação da empresa Precisa Medicamentos no processo da Covaxin.

“O que sabemos agora por fatos, comprovadamente, é que paralelamente havia uma negociação para a compra da vacina Covaxin, da Índia. Uma vacina que não tinha terminado os estudos de fase clínica e não tinha autorização nem da Agência de Vigilância Sanitária da Índia. Mas que, aqui no Brasil, valeria US$ 1 a mais para cada um dos participantes dessa negociata”, observou Vecina. “Então tudo indica que o que Ricardo Barros fez ontem na CPI foi uma pirotecnia para esconder fatos. E ele está está enterrado até o pescoço nesses fatos”, completou.

Em nota, o laboratório da Pfizer, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pela vacina da AstraZeneca, e a União Química, representante da Sputnik-V, negaram que as investigações da CPI da Covid tenham atrapalhado a negociação de venda de vacinas. Ainda ontem, conforme reportou a RBA, a farmacêutica chinesa CanSino Biologics, que também vem negociando com o Brasil, desmentiu o líder do governo na Câmara.

Terceira dose?

As vacinas, conforme reforça o infectologista, ainda são o principal caminho para o Brasil enfrentar a pandemia de covid-19, principalmente com o avanço da variante delta. De acordo com Vecina, é urgente que o país faça bloqueios, adote o distanciamento social e amplie a testagem para conter a nova cepa e impedir um repique de casos.

“O problema é que não temos vacinas em quantidade suficiente. Nesse momento, para evitar que mais idosos morressem, já existe conhecimento acumulado dizendo que a terceira dose faz isso, mas como damos a terceira dose se não terminamos de dar a primeira dose ainda? É preciso terminar, dar a segunda dose e vacinar os jovens. Mas essa é uma discussão a ser travada por um conjunto de pessoas que entendem do assunto. Estava na hora de existir um governo, e como não tem governo, acho que os secretários estaduais de Saúde deveriam ocupar o espaço do ministério da Saúde e tomar essas decisões”, analisa Gonzalo Vecina.

Fonte: Rede Brasil Atual

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