O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu hoje (1º), em entrevista coletiva para a imprensa independente, que o país tem de gastar o que for preciso para enfrentar a crise do coronavírus, sem se preocupar com a questão fiscal. “É diferente governar em tempo de normalidade e de anormalidade. O Brasil antes tinha governo para 35% e 65% da população ficava fora. Mas o nosso governo começou a colocar os pobres no orçamento da União”, disse ao responder à jornalista Cláudia Motta, da RBA.
“Nós fizemos 74 conferências nacionais para definir as políticas públicas. Mas em uma crise como essa você não se preocupa com a questão fiscal. Quando tem uma guerra você gasta o que for necessário para vencer a guerra”, afirmou.
“O coronavírus é um inimigo imbatível, o único jeito é ficar dentro de casa. Vamos gastar o que tiver de gastar para salvar o povo, depois a gente senta para ver como resolver”, defendeu.
“Está na hora de pedir para o rico dar uma contribuição. O Bolsonaro deve sancionar hoje ou amanhã a renda emergencial de R$ 600, mas até agora não saiu um centavo. Mas para os banqueiros foram R$ 200 bilhões”, afirmou, referindo-se às operações do Banco Central para administrar a crise financeira que culminou com a desvalorização do Real e queda das ações.
“É preciso fazer o dinheiro chegar na mão das pessoas, depois a gente vê como consertar o Brasil. Foi assim em todas as guerras. A guerra do Paraguai consumiu do Brasil o equivalente a 11 anos de orçamento”, afirmou ainda.
“Tem que fazer o que for preciso, testes, máscaras, comprar o que tiver de comprar para salvar a vida das pessoas. É preciso de dinheiro novo para salvar a população.”
A uma pergunta da RBA, sobre a influência das fake news nas eleições de 2018, Lula afirmou que as mentiras de campanha foram apenas um aparte de um processo maior de demonização do PT. “Nós perdemos as eleições para as fake news e muitas outras coisas. Não há uma razão única. O PT foi vitimado durante todo o processo de campanha. A Rede Globo transformava as mentiras do Moro em verdades.”
Participaram da entrevista com Lula os jornalistas Cláudia Motta, da RBA, Eleonora de Lucena, do Tutaméia, Fernando Brito, do Tijolaço, Fernado Morais, do Nocaute, Joaquim Carvalho, do DCM, Laura Capriglione, do Jornalistas Livres, Leonardo Attuch, do Brasil 247, Nina Fideles, do Brasil de Fato, Renato Rovai, da revista Fórum, e Talita Galli, da TVT.
Assista à íntegra da entrevista de Lula
https://www.youtube.com/watch?v=QvRVpF7tUtQ&feature=emb_logo
Bolsonaro e Trump
“Para o bem da sociedade brasileira, fica em casa, Bolsonaro, não fica por aí transmitindo (o coronavírus). Bolsonaro tem de ficar em casa e parar de andar por aí. Bolsonaro começa a perceber que não é uma ‘doencinha’. Devia dizer, errei e encontrar solução. O Trump que achava que não chegava aos EUA, e hoje o país é epicentro da doença. Ele precisa fazer igual ao Trump e liberar o dinheiro.”
“Não vi um empresário colocando seus lucros para cuidar dos doentes. A gente está precisando ser mais duro. Se o Estado não tem dinheiro, tem muita gente com barra de ouro guardada“
Governo e gestão da crise
“Nesse momento a cabeça tem de estar no vírus. E o Bolsonaro que trate de encontrar saída. Chegamos ao ponto de disputa entre entes federativos. Bolsonaro que faça o papel e libere o dinheiro.”
Sobre os 580 dias em que ficou preso
Nos 580 dias do cárcere, leu muito para que “o ódio não corroesse a alma”. “No isolamento agora é se cuidar. O governo tem de garantir condições para os que tem de trabalhar. Há muitos médicos e profissionais de saúde ficando doentes, sem garantia do Estado, vão se negar a trabalhar. Qual é o papel do estado?”
O papel dos ricos na crise do coronavírus
“Só o Estado forte é capaz de enfrentar esse vírus. Não vi um empresário colocando seus lucros para cuidar dos doentes. A gente está precisando ser mais duro. Se o Estado não tem dinheiro, tem muita gente com barra de ouro guardada. A hora é de a onça beber água e colocar os pobres no centro das políticas.”
Bolsonaro e os governadores
“Bolsonaro, não fosse turrão, conversasse com governadores e prefeitos. Mas não… Os recursos não chegam na ponta. Seu papel é coordenar as pessoas, ouvir quem gosta e quem não gosta. Ele sabe que está enfraquecido aos olhos da sociedade em relação à condução do país na estatura de um presidente. A eleição foi toda cheia de trambique. Agora é vencer o coronavírus, respeitando ciência da saúde e o povo.”
Renda emergencial
“O Congresso poderia entrar com medida para que as pessoas comecem a receber e começar a viver com dignidade. Já deveria ter dinheiro chegando para as pessoas. Ainda não foi feita testagem, se tivéssemos feito, saberíamos onde tem gente contaminada. Nada disso foi feito. Eu poria a máquina pública do país pra funcionar de forma harmoniosa pra suprir as necessidades. O congresso deveria ter papel maior em tempo de desgoverno, fazer um decreto parlamentar.
“O churrasqueiro só tem o churrasco para sobreviver. Essas pessoas querem se cuidar. Fico pensando nos milhares de vendedores de churrasco, por falta de oportunidade. Mas para a proteção do povo brasileiro, tem de ficar em casa. Coronavírus vai ensinar as pessoas que se não for forte, o Estado não vai resolver os problemas. É preciso fiscalizar a distribuição desse dinheiro.”
Impeachment
Lula disse na entrevista que é preciso identificar corretamente o crime de responsabilidade que Bolsonaro cometeu. Mas que está havendo radicalização. “Já houve pedido de renúncia, e o fora Bolsonaro, que já está forte. A sociedade está começando a ficar irritada pela insegurança que ele passa. Muitas mães estão com os filhos em casa, que não vão na escola, e não têm o que comer. As pessoas precisam saber se estarão protegidas”. Lula lembrou o que falou para o papa Francisco: “As pessoas precisam voltar a se gostar”.
Fonte: Rede Brasil Atual