O operário apaixonado vê seu amor refletido no cotidiano da fábrica. Isso porque suas referências estão lá. Ele vive na fábrica. Vive obediente à rotina imposta pelo apito, pelo gerente, pela chaminé de barro.
A música foi lançada no início de um intenso período de industrialização no Brasil. A nova identidade operária, com seus símbolos e rituais, se formava no imaginário popular em um país em rápida transformação. Os versos simples falam muito sobre uma época na qual o operariado recém formado se viu dentro de um sistema ainda novo e que moldou sua subjetividade. Noel Rosa, da dureza do cotidiano, extrai linda poesia!
Três Apitos
(Composição: Noel Rosa/1938)
Intérprete: Orlando Silva
Quando o apito da fábrica de tecidos
Vem ferir os meus ouvidos,
eu me lembro de você
Pois você anda sem dúvida bem zangada
E está interessada em fingir que não me vê
Você que atende ao apito de uma chaminé de barro
Por que não atende ao grito tão aflito
Da buzina do meu carro?
Sou do sereno, poeta muito soturno
Vou virar guarda-noturno e você sabe por quê
Mas só não sabe que enquanto você faz pano
Faço junto do piano esses versos pra você
Obs: Imagens do vídeo: fotos do poeta Noel Rosa
Fonte: Centro de Memória Sindical
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