Por Rafael Marques
2019 foi um ano muito difícil para os trabalhadores na Ford no Brasil e, aparentemente, 2020 não será diferente.
Esse ano começou com o anúncio do fechamento da fábrica em São Bernardo do Campo, a que estava a mais tempo em operação no País, além de ajustes contundentes no campo de prova de Tatuí, com a demissão de metade dos trabalhadores, e também pressão sobre os companheiros de Camaçari.
Ao longo do ano, a principal carga ficou em São Bernardo, onde a decisão de sair do mercado de caminhões no Brasil prejudicou entre 20 e 30 mil trabalhadores na região metropolitana de São Paulo, entre funcionários diretos e indiretos.
Houve um enxugamento forte em Tatuí e não se sabe qual será a estratégia de curto prazo para o campo de provas. Ainda a fábrica de transmissão e motores de Taubaté teve redução de mais de 150 trabalhadores por PDV (Plano de Demissão Voluntária), em abril.
Agora, as notícias que chegam de Camaçari é que a Ford voltou a pressionar, exigindo redução de custos trabalhistas, fornecedores, diminuição em áreas de logística, jornadas e PLR (Participação nos Lucros e Resultados), com chantagem pesada sobre os companheiros da planta baiana, como condição para investimentos futuros.
Significa que o sofrimento de São Bernardo segue para as outras plantas que a Ford tem no Brasil.
Terminamos o ano com uma grande indefinição do que acontecerá com a planta do ABC Paulista, em função das tentativas até o momento não consolidadas de compra pela Caoa, que relatou um esfriamento nas negociações, mas que ainda não se encerraram.
Em reunião com o presidente da Ford na América do Sul, Lyle Waters, ele afirmou o interesse de outras duas empresas, podendo haver uma terceira, sem revelar o nome delas.
Ele também se comprometeu a manter reuniões regulares conosco, por que não deixaremos essa questão esfriar e precisamos acompanhar toda a evolução das conversas, para assegurar que os compromissos firmados entre Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e Caoa, de condições de trabalho, sejam referência para qualquer outra empresa interessada.
Por isso, é necessário continuar pressionando a Ford por informações e cobrar o governador do Estado de São Paulo daquilo que ele se comprometeu, que foi acompanhar o caso até o final.
Não podemos deixar os trabalhadores na Ford sem conhecimento dos próximos passos, por que eles aguardam com esperança e com muita ansiedade por um desdobramento.
Todo esse cenário que se apresentou ao longo deste ano de 2019 nos revela a importância de continuar batalhando para encontrar saídas para os trabalhadores na Ford em São Bernardo, mas que também é fundamental compreender o que se dará no setor automotivo nos próximos dez anos, com grandes mudanças em função das novas tecnologias embarcadas, com modelos elétricos e autônomos, além de decisões globais, que ameaçam a produção no Brasil.
Nesse momento de muitas incertezas precisamos encontrar uma resposta para um questionamento legítimo: onde a Ford quer chegar no Brasil?
Rafael Marques é presidente do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento, o TID-Brasil e ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC