PUBLICADO EM 11 de dez de 2020
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O sopro da revelação para impedir os fascistas de destruir os sonhos e a vida

O sonho de uma sociedade sem preconceito, sem racismo, sem violência e pela cultura da paz e dos direitos humanos também une as canções selecionadas.

por Marcos Aurélio Ruy

Seis canções para fortalecer os ânimos da resistência ao atraso. São artistas comprometidos com a arte e com a vida. Talentos da música popular brasileira, extremamente rica e diversa. A esperança é o fio condutor destas importantes músicas que nos levam a pensar sobre os acontecimentos recentes da história do país e sobre ao ponto que chegamos com uma sociedade adoecida pelo ódio ao outro, ao diferente.

O sonho de uma sociedade sem preconceito, sem racismo, sem violência e pela cultura da paz e dos direitos humanos também une as canções selecionadas. Artistas que despontam ao lado de artistas mais conhecidos do grande público. Todos lembram que “o novo sempre vem”, como canta Belchior. Basta ouvir e pensar.

Flaira Ferro

Na estrada desde 2013, a cantora e compositora pernambucana Flaira Ferro esbanja talento com canções politizadas e voltadas para a mudança e para a construção de algo que suplante o sistema capitalista que oprime e impede a classe trabalhadora de sonhar.

“Mesmo que o destino

Reserve um presidente adoecido

E sem amor

A juventude sonha sem pudor

Flor da idade, muito hormônio

Não se curva ao opressor

 

Pode apostar

A rebeldia do aluno é santa

Não senta na apatia da injustiça

Agita e inferniza e a rua avança

Escola não tem medo de polícia”

 

Estudantes (2019), de Flaira Ferro

Kleiton e Kledir

A dupla gaúcha Kleiton e Kledir conta com alguns clássicos da MPB. Em “Viração”, a dupla canta a força da unidade para virar o mundo da burguesia de cabeça para baixo.

“Nos muros nos olhos do povo

Habita a mesma tristeza

Porque os braços de ferro

Nos prendem como represa

Mas o que eles não sabem

Não sabem ainda não

É que na minha terra

Um palmo acima do chão

Sopra uma brisa ligeira

Que vai virar viração

Ah mas eles não sabem

Que vai virar viração”

 

Viração (1980), de José Alberto Fogaça e Kleiton Ramil

El Efecto

A banda El Efecto foi formada em 2002, no Rio de Janeiro. Eclética a banda se pauta por temas sociais com mistura de gêneros musicais brasileiros com o rock. Segundo eles próprios, o grupo se movimenta “entre a angústia e a esperança, o pessimismo da razão e o otimismo da luta. Não se trata de pensar a arte como um escape para as frustrações de uma vida resignada, mas sim de tomá-la como um estímulo, um ponto de partida para questionamentos”.

“Braços baratos, curvados

Em nome de um grão

Pisados, moídos, pilados

No corpo carregam impressas

As farpas, os prantos, os calos

As marcas das veias abertas

Sombras do passado, cantos, vozes ancestrais

Movimentam rios profundos

Brota no silêncio o sopro da revelação

Que faz do grão vermelho o espelho dos mundos”

 

Café (2018), de El Efecto

Edu Krieger

O carioca Edu Krieger começou a carreira profissional em 2006. Com um trabalho politizado e voltado para temas sociais, Krieger se destaca no cenário atual da MPB sendo gravado por dezenas de intérpretes.

“Capricha no tempero

Azeita o caruru

Mistura o candongueiro

Com flauta de bambu

Baião, maculelê

Sanfona e caxambu

 

Feira livre é aqui

Leva dois maracatus com tucupi

Feira livre que só

Vale até baião de dois com carimbo”

 

Feira Livre (2009), de Edu Krieger e Raphael Gemal

Larissa Luz

A baiana Larissa Luz se identifica com o afrofuturismo e o afro-punk. Larissa interpretou Elza Soares na peça musical “Elza”. Ela canta o antirracismo, contra o machismo, a cultura do estupro e pela construção de uma nova sociedade.

“Não deixe que a corrida maluca da vida louca

Te jogue num precipício de mansões

Garota ninguém nos disse que seria fácil

Segura a onda, dá na cara e continuar

Não deixe que tentem te colonizar

Te converter, te doutrinar

Te alienar, eu quero voar

Escrever meu enredo

Liberdade é não ter medo”

 

Descolonizada (2016), de Larissa Luz

Chico César

O paraibano Chico César é um dos mais importantes nomes da MPB com um som eclético e poesia altamente comprometida com a classe trabalhadora e com a esperança. “Pedrada” é uma verdadeira pedrada no obscurantismo e fé no futuro.

“Ê, república de parentes, pode crer

Na nova Babilônia eu e você

Somos só carne humana pra moer

E o amor não é pra nós

Mas nós temos a pedrada pra jogar

A bola incendiária está no ar

Fogo nos fascistas

Fogo, Jah!”

 

Pedrada (2020), de Chico César

 

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