PUBLICADO EM 25 de jan de 2020
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O que nós podemos aprender com o grafite antigo

São Paulo, janeiro de 2016. Foto: André Tambucci/ Fotos Públicas

Em 1810, durante sua primeira Grande Tour pela Europa, Byron gravou seu nome em uma base da coluna no Templo de Poseidon, na costa do mar Egeu. Embora o próprio Byron pode não ter escrito o nome que foi deixado lá, a história se tornou parte da história do monumento, procurado por seus admiradores entre as centenas de outros nomes gravados por todo o templo.

O moderno grafite, no entanto, é recebido com uma reação muito diferente. Em 2014 um turista russo foi multado em 20.000 euros por escrever um grande “K” em uma parede do Coliseu, em Roma, o quinto incidente desse tipo naquele ano. E, no ano anterior, turista chinês ganhou as manchetes por gravar seu nome – Ding Jinhao – no torso de uma figura no templo de Ramsés II, em Luxor.

Qual o pensamento por trás desses atos? Os turistas estão procurando notoriedade, se tornar parte de um monumento histórico? Ou simplesmente é parte da experiência de visitar o local?  E, mais longe, porque o grafite histórico, que era igualmente destrutivo, é considerado evocativo e tentador? Os motivos por trás deles, afinal, são provavelmente os mesmos. Com a distância do tempo, contudo, o grafite vem nos dizer sobre as vidas e os momentos que poderiam de outro modo ter sido perdidos.

O grafite mais antigo de um nome de uma pessoa em um monumento foi identificado pelo historiador Lionel Casson em uma caverna em Wadi Hammamat, no Egito – o nome de Hena, um oficial sob Menutuhotep III, em 2000 AC, está cinzelado no arenito ao lado de uma lista de  suas conquistas. Na Grécia antiga, também, stoás (pórticos em colunas) eram os locais de encontro dos filósofos e os locais para as lições dos estudantes. Nós, portanto, frequentemente vemos alfabetos e versos homéricos escritos em suas paredes. Variações na ortografia podem nos dizer uma quantidade enorme sobre os dialetos e os níveis de alfabetização desses estudantes, quando os tabletes de cera e fragmentos de papiros nos quais eles trabalhavam foram perdidos há muito tempo.

E não é apenas monumentos e prédios: Miltíades, um general da Batalha da Maratona, em 490 AC, que persuadiu os atenienses a lutar apesar de seu número menor, gravou seu nome no capacete que usou. Baseado na estratigrafia da descoberta e dedicação de um capacete persa encontrado perto, parece que Miltíades dedicou o real capacete que ele tinha usado durante a batalha, gravando seu nome na bochecha do guarda de bronze, para que Zeus soubesse de quem a oferta vinha. Na Ágora Ateniense, também, um escudo espartano foi encontrado com uma inscrição notando que os atenienses o capturaram durante a Batalha de Sphakteria, em 425 AC. Sem tais grafites, os objetos ainda seriam impressionantes, mas muito menos úteis para os historiadores, como suas inscrições fornecem uma proveniência exata.

Texto de Laura Aitken-Burt

Tradução e adaptação: Luciana Cristina Ruy

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