PUBLICADO EM 27 de mar de 2020
COMPARTILHAR COM:

O mundo novo vira sonho possível com a união de quem acredita no futuro; músicas

Em tempos de combate à pandemia do coronavírus, a seleção de músicas desta edição versa sobre a vida que temos e a que desejamos para nós e para as futuras gerações. Mesmo em isolamento, continuar trabalhando com afinco para queimar toda a semente do mal. O dinheiro não vale mais que a vida humana. As cinco canções aqui apresentadas vislumbram toda a força necessária para resistir e derrotar o inimigo da vida.

Por Marcos Aurélio Ruy

“Admirável Gado Novo”, de Alceu Valença e Zé Ramalho, fez muito sucesso, principalmente ao ser incluída na novela “Rei do Gado”, em 1996, da Rede Globo, como música de um personagem sem-terra em luta pela reforma agrária.

Uma contundente crítica à exploração da força de trabalho pelo capital voraz e demolidor de sonhos. Porque para não levar uma vida de gado é preciso ciência no que se faz e fazer com conhecimento de causa.

Admirável Gado Novo (1979), de Alceu Valença e Zé Ramalho

Vocês que fazem parte dessa massa

Que passa nos projetos do futuro

É duro tanto ter que caminhar

E dar muito mais do que receber

E ter que demonstrar sua coragem

À margem do que possa parecer

E ver que toda essa engrenagem

Já sente a ferrugem lhe comer

 

Eh! Oh! Oh! Vida de gado

Povo marcado eh! Povo feliz…

 

Lá fora faz um tempo confortável

A vigilância cuida do ¨normal¨

Os automóveis ouvem a notícia

Os homens a publicam no jornal

E correm através da madrugada

A única velhice que chegou

Demoram-se na beira da estrada

E passam a contar o que sobrou

 

Eh! Oh! Oh! Vida de gado

Povo marcado eh! Povo feliz…

 

O povo foge da ignorância

Apesar de viver tão perto dela

E sonham com melhores tempos idos

Contemplam esta vida numa cela

Esperam nova possibilidade

De verem esse mundo se acabar

A arca de Noé, o dirigível

Não voam nem se pode flutuar

Não voam nem se pode flutuar

João Bosco homenageia o poeta russo Vladmir Maikovski (1893-1930). Chamado de o “Poeta da Revolução” russa, de 1917, que instaurou o primeiro Estado socialista no mundo. Além de revolucionário, Maiakovski é considerado um dos maiores poetas do mundo. Recitou as dores e os amores de um povo em busca do futuro.

O mineiro João Bosco é um dos grandes nomes da música popular brasileira. Canta e toca violão de um modo único e inconfundível. Suas melodias e poesias cantam as necessidades de um povo faminto de justiça.

 

Maiakovski (E Então que quereis; 1989), de João Bosco

Fiz ranger as folhas de jornal

Abrindo-lhes as pálpebras piscantes.

E logo

De cada fronteira distante

Subiu um cheiro de pólvora

Perseguindo-me até em casa.

Nestes últimos vinte anos

Nada de novo há

No rugir das tempestades

Não estamos alegres,

É certo,

Mas também por que razão

Haveríamos de ficar tristes?

O mar da história

É agitado.

As ameaças

E as guerras

Havemos de atravessá-las.

Rompê-las ao meio,

Cortando-as

Como uma quilha corta

As ondas.

Em sua versão de “Impossible Dream” (1966) de Joe Darion e Mitch Leigh, Chico Buarque mostra a necessidade de tenacidade para suplantar o inimigo maior da classe trabalhadora e a ditadura vigente em 1972 quando fez a versão.

“Sonhar mais um sonho impossível” é mostrar resistência a tudo o que torna a vida um inferno para quem vive dos frutos de seu trabalho e não pensa em acumular riquezas.

 

Sonho Impossível (1972), versão de Chico Buarque; interpretação de Maria Bethânia

Sonhar

Mais um sonho impossível

Lutar

Quando é fácil ceder

Vencer

O inimigo invencível

Negar

Quando a regra é vender

Sofrer

A tortura implacável

Romper

A incabível prisão

Voar

Num limite improvável

Tocar

O inacessível chão

É minha lei, é minha questão

Virar esse mundo

Cravar esse chão

Não me importa saber

Se é terrível demais

Quantas guerras terei que vencer

Por um pouco de paz

E amanhã, se esse chão que eu beijei

For meu leito e perdão

Vou saber que valeu delirar

E morrer de paixão

E assim, seja lá como for

Vai ter fim a infinita aflição

E o mundo vai ver uma flor

Brotar do impossível chão

Jaime Melo Maciel Júnior, conhecido por Jaloo, é um cantor, DJ e compositor paraense. Canta em Chuva o sentimento de transgressão ao status quo de uma burguesia voltada apenas para os seus interesses mesquinhos.

Porque “o ciclo d’agua é uma dança eterna” e sem água não se vive. Por isso quando ouvir que querem privatizar a água resista.

 

Chuva (2016), de Iara Rennó e Thalma de Freitas; interpretação de Jaloo

Ar quente vai subir

Ar frio vai descer

Vapor que vem do mar

Geleiras vão derreter

 

O vento vai soprar

Tudo pode acontecer

As nuvens vão se condensar

E, depois, vão dissolver

 

Porque quando o sol aquece a Terra

Muita água se libera

E a gravidade da atmosfera

Faz pressão que nem panela

 

Quando vai chover bem muito

Você vem para o meu mundo

E eu te conto como acontece a chuva

E eu te conto como acontece a chuva

 

Chuva molha, molha, cai

Chuva chove, chove, sai

Chuva molha, molha, vem

Chuva, chuva

 

Chuva molha, molha, cai

Chuva chove, chove, sai

Chuva molha, molha, vem

Chuva, chuva

O ciclo d’agua é uma dança eterna!

Oh, lua lua luar

Me leva contigo pra passear

Nelson Cavaquinho talvez seja o compositor brasileiro mais melancólico, porém, em “Juízo Final” a sua melancolia se transformou num grito de esperança. Essa esperança que enche as pessoas de brios para defender o que é justo.

Como neste momento, todas as pessoas se unem contra o egoísmo de um sistema que escraviza e põe o dinheiro acima de tudo, inclusive da vida. Pois o amor ainda será eterno novamente porque os sol sempre brilha.

 

Juízo Final (1973), de Élcio Soares e Nelson Cavaquinho; interpretação de Beth Carvalho

O sol há de brilhar mais uma vez

A luz há de chegar aos corações

Do mal será queimada a semente

O amor será eterno novamente

 

É o Juízo Final

A história do Bem e do Mal

Quero ter olhos pra ver

A maldade desaparecer

ENVIE SEUS COMENTÁRIOS

QUENTINHAS