Por Marcos Aurélio Ruy
“Admirável Gado Novo”, de Alceu Valença e Zé Ramalho, fez muito sucesso, principalmente ao ser incluída na novela “Rei do Gado”, em 1996, da Rede Globo, como música de um personagem sem-terra em luta pela reforma agrária.
Uma contundente crítica à exploração da força de trabalho pelo capital voraz e demolidor de sonhos. Porque para não levar uma vida de gado é preciso ciência no que se faz e fazer com conhecimento de causa.
Admirável Gado Novo (1979), de Alceu Valença e Zé Ramalho
Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer
Eh! Oh! Oh! Vida de gado
Povo marcado eh! Povo feliz…
Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do ¨normal¨
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou
Eh! Oh! Oh! Vida de gado
Povo marcado eh! Povo feliz…
O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam esta vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível
Não voam nem se pode flutuar
Não voam nem se pode flutuar
João Bosco homenageia o poeta russo Vladmir Maikovski (1893-1930). Chamado de o “Poeta da Revolução” russa, de 1917, que instaurou o primeiro Estado socialista no mundo. Além de revolucionário, Maiakovski é considerado um dos maiores poetas do mundo. Recitou as dores e os amores de um povo em busca do futuro.
O mineiro João Bosco é um dos grandes nomes da música popular brasileira. Canta e toca violão de um modo único e inconfundível. Suas melodias e poesias cantam as necessidades de um povo faminto de justiça.
Maiakovski (E Então que quereis; 1989), de João Bosco
Fiz ranger as folhas de jornal
Abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
De cada fronteira distante
Subiu um cheiro de pólvora
Perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
Nada de novo há
No rugir das tempestades
Não estamos alegres,
É certo,
Mas também por que razão
Haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
É agitado.
As ameaças
E as guerras
Havemos de atravessá-las.
Rompê-las ao meio,
Cortando-as
Como uma quilha corta
As ondas.
Em sua versão de “Impossible Dream” (1966) de Joe Darion e Mitch Leigh, Chico Buarque mostra a necessidade de tenacidade para suplantar o inimigo maior da classe trabalhadora e a ditadura vigente em 1972 quando fez a versão.
“Sonhar mais um sonho impossível” é mostrar resistência a tudo o que torna a vida um inferno para quem vive dos frutos de seu trabalho e não pensa em acumular riquezas.
Sonho Impossível (1972), versão de Chico Buarque; interpretação de Maria Bethânia
Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer
O inimigo invencível
Negar
Quando a regra é vender
Sofrer
A tortura implacável
Romper
A incabível prisão
Voar
Num limite improvável
Tocar
O inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão
Jaime Melo Maciel Júnior, conhecido por Jaloo, é um cantor, DJ e compositor paraense. Canta em Chuva o sentimento de transgressão ao status quo de uma burguesia voltada apenas para os seus interesses mesquinhos.
Porque “o ciclo d’agua é uma dança eterna” e sem água não se vive. Por isso quando ouvir que querem privatizar a água resista.
Chuva (2016), de Iara Rennó e Thalma de Freitas; interpretação de Jaloo
Ar quente vai subir
Ar frio vai descer
Vapor que vem do mar
Geleiras vão derreter
O vento vai soprar
Tudo pode acontecer
As nuvens vão se condensar
E, depois, vão dissolver
Porque quando o sol aquece a Terra
Muita água se libera
E a gravidade da atmosfera
Faz pressão que nem panela
Quando vai chover bem muito
Você vem para o meu mundo
E eu te conto como acontece a chuva
E eu te conto como acontece a chuva
Chuva molha, molha, cai
Chuva chove, chove, sai
Chuva molha, molha, vem
Chuva, chuva
Chuva molha, molha, cai
Chuva chove, chove, sai
Chuva molha, molha, vem
Chuva, chuva
O ciclo d’agua é uma dança eterna!
Oh, lua lua luar
Me leva contigo pra passear
Nelson Cavaquinho talvez seja o compositor brasileiro mais melancólico, porém, em “Juízo Final” a sua melancolia se transformou num grito de esperança. Essa esperança que enche as pessoas de brios para defender o que é justo.
Como neste momento, todas as pessoas se unem contra o egoísmo de um sistema que escraviza e põe o dinheiro acima de tudo, inclusive da vida. Pois o amor ainda será eterno novamente porque os sol sempre brilha.
Juízo Final (1973), de Élcio Soares e Nelson Cavaquinho; interpretação de Beth Carvalho
O sol há de brilhar mais uma vez
A luz há de chegar aos corações
Do mal será queimada a semente
O amor será eterno novamente
É o Juízo Final
A história do Bem e do Mal
Quero ter olhos pra ver
A maldade desaparecer