Por Cristiane Oliveira
Finda a Copa do Mundo 2018 e com ela parte de nossa diversão. Foi imprevisível e, por isso, surpreendente e emocionante.
As seleções consideradas grandes e tradicionais sucumbiram, muitas já na primeira fase do torneio. O Brasil restou até as quartas, quando foi arrebatado pela superioridade belga. O selecionado canarinho até apresentou um bom futebol, mas a velha fórmula foi superada pelo rigor tático e força europeus.
Ao olhar para os quatro finalistas, chega-se à dura conclusão de que o futebol latino-americano está à beira do abismo. De todos nossos irmãos a pior situação, sem dúvida, foi a da Argentina. Destroçada, deixou o mundial em meio à escancarados bate-bocas. Desorganização interna, falta de investimentos, de planejamento e corrupção são algumas das razões para esta triste realidade.
O futebol é um esporte que assume várias dimensões (geopolítica inclusive) e a Copa consegue reunir todas elas. O maior evento de futebol do mundo nos apresentou um gigante chamado Rússia. O maior país do planeta foi acolhedor – como uma grande matrioska – recebeu a todos com festa e carinho.
Avaliações positivas não faltam: sobre a organização, transporte, comunicação e segurança, este último item incontestável. Nem de longe comparável aos lamentáveis episódios violentos da Eurocopa em 2016, na França.
Esta também foi a Copa do assédio contra as profissionais, principalmente de imprensa, e a FIFA – com seus caquéticos dirigentes – perdeu uma enorme oportunidade de mostrar ao mundo como seriamente reconhecer e enfrentar este problema. A Federação oficialmente informou que treinou suas equipes para evitar o assédio e que os sistemas de monitoramento auxiliaram na identificação dos assediadores e que tais dados servirão “no futuro” (?!?). A grandiosidade do evento permitiria ações muito mais construtivas e educativas do que uma simples intenção futura.
A Copa das surpresas. Quem conseguiria imaginar a Croácia como finalista? Valente, a seleção conseguiu um honroso e merecido vice-campeonato e, de quebra, o melhor jogador do torneio. A campeã França apresentou um futebol irreparável nos sete jogos que a levaram até o título. Fortes, jovens, talentosos e disciplinados, “les bleus” foram conduzidos com maestria por Didier Deschamps.
Uma seleção francesa para a qual não é necessário fazer o “biquinho” com os lábios ao pronunciar os nomes de seus atletas: Pogba, Mbappé, Kinipembe, Umtiti, Kanté, Dembélé, Matuidi, N´Zonzi são alguns exemplos de um time multiétnico que envolveu 17 nações. Para além de franceses e espanhóis, há descendentes de Filipinas, Mali, Mauritânia, Senegal, Argélia, Itália, República Democrática do Congo, Haiti, Angola, Camarões, Guiné, Marrocos, Togo e Martinica e Guadalupe.
Oxalá a França e o mundo aprendam a grande lição deixada pela Copa deste ano: a necessidade premente de convivência e respeito com as mulheres, os negros, os imigrantes e seus descendentes e façam valer seu próprio legado de liberté, egalité, fraternité.
Cristiane Oliveira é secretária-executiva, pós-graduanda em Direito e Processo do Trabalho, assessora da Secretaria-Geral da CTB