Por Carolina Maria Ruy
Em 1910, o senador Ransom Stoddard chega a uma pequena cidade para o funeral de uma lenda de outros tempos, Tom Doniphon. No filme, passado em flash back, Stoddard resgata histórias de sua juventude em entrevista ao repórter Maxwell Scott. O funeral o recorda da época em que era advogado na cidade e desejava usar a lei, e não a força, para deter o terrível pistoleiro Liberty Valance.
Ele se lembra de como conhecera Doniphon, respeitado caubói que insistia na lei do revólver. Doniphon e Stoddard eram dois opostos. Dois lados da mesma moeda. Um pela força, outro pela lei, ambos buscavam a justiça. Ambos ansiavam por dias melhores para aquele esquecido vilarejo. E ambos compartilhavam o interesse pela mesma mulher.
Tom Doniphon era o único homem cuja força e coragem eram reconhecidas por Liberty Valance. Mas a chegada do advogado Stoddard trouxe novos ares. Quando começa a dar aulas para o povo da cidade, Stoddard assume como lema: “A educação é a base para a lei e a ordem”. Ele desejava transformar o lugar em um distrito, mudança contrária aos interesses de Valance.
Mas a parceria de Stoddard e Doniphon, mesmo tensa, seria a solução para aplacar o facínora. O surpreendente duelo final marca a evolução social do lugar e a fundação de uma cidade.
Aquele território sem lei faz parte do imaginário estadunidense uma vez que, até a década de 1820, a maior parte dos territórios a oeste dos Montes Apalaches não era povoada. Ao longo da primeira metade do século 19, milhares de americanos e imigrantes europeus passaram a mover-se para o oeste, em direção aos novos territórios obtidos pelos Estados Unidos da Inglaterra, após a guerra da independência, e da França, após a compra da Louisiana. No fim do século 19, época em que se passa a história contada no filme, eram dominados pela lei das armas, realidade ainda comum na conquista do Oeste dos Estados Unidos.
Voltando a 1910. Ao final da entrevista para o jornalista Maxwell Scott, Stoddard revelou quem realmente matara Valance e pergunta: “Vai usar essa história, Mr. Scott?”. O jornalista, então, responde: “Este é o Oeste, senhor. Quando a lenda antecede os fatos, publique-se a lenda”.
O Homem que Matou o Facínora (The Man Who Shot Liberty Valance)
EUA, 1962
Direção: John Ford
Elenco: John Wayne, James Stewart, Lee Marvin, Edmond O’Brien, Vera Miles, Andy Devine, John Carradine, Lee Van Cleef
Carolina Maria Ruy, jornalista, coordenadora do Centro de Memória Sindical
rita de cassia vianna gava
Justiça na bala é mais jogo de poder do que justiça
Hoje parte da sociedade resolvendo bala o que na maioria o preço é alto