Por José Carlos Ruy
Nesta terça-feira, 19, completam-se os 100 da morte, por tifo, em Moscou, daquele que é o patrono dos jornalistas comprometidos com a luta do povo e o compromisso com a conquista de um mundo mais justo e progressista: John Reed.
Nascido em Portland (Oregon, EUA), em 1887, ele viveu pouco – somente 32 anos, mas suficientes para compor uma obra que registra o testemunho de grandes revoluções e da sangrenta luta de classes em seu próprio país, os EUA. Tinha pouco mais de 20 anos de idade quando foi ao México cobrir a revolução liderada por Pancho Villa, em 1910. Seu relato da revolução mexicana, onde se destacam suas qualidades de escritor e jornalista que “tem lado” – ao contrário do dogma liberal de que jornalista “não tem lado” – estão reunidas no livro “México rebelde”, publicado no Brasil pela Editora Civilização Brasileira, na década de 1960.
John Reed, que era colaborador do jornal alternativo “The Masses,” Iligado à esquerda nos EUA, foi um jornalista profundamente ligado à luta do povo. Foi ligado ao Partido Socialista nos EUA, e depois participou da fundação do Partido Comunista dos Trabalhadores. Sua militância e sensibilidade políticas, anticapitalista, podem ser vistas também no livro “Eu vi um novo mundo nascer”, uma antologia de textos que descrevem a aguda luta de classes nos EUA, organizada pela editora Boitempo (2001). Antologia onde se pode ver sua descrição da greve de mineiros em 1914, no estado do Colorado (EUA), onde ocorreu o Massacre de Ludlow, em que mineiros grevistas foram reprimidos a tiros pela Guarda Nacional, a serviço da família proprietária das minas, os magnatas Rockefeller. Entre as dezenas de mortos, houve mulheres e crianças. A descrição daqueles acontecimentos por John Reed é comovente e mobilizadora da luta contra a opressão.
A genialidade de John Reed resultou num livro clássico da esquerda, “Os dez dias que abalaram o Mundo”, onde descreve os acontecimentos com aguda observação dos movimentos que levaram os bolcheviques ao poder em 7 de novembro de 1917 (ou 25 de outubro, segundo o velho calendário). Observação dos acontecimentos registrada com rigorosa fidelidade aos acontecimentos e rara qualidade literária. De tal forma que Lênin (que se tornou amigo de John Reed) registrou num prefácio para o livro:
“Com imenso interesse e igual atenção li, até o fim, o livro ‘Os dez dias que abalaram o mundo’, de John Reed. Recomendo-o, sem reservas, aos trabalhadores de todos os países. É uma obra que eu gostaria de ver publicada aos milhões de exemplares e traduzida para todas as línguas, pois traça um quadro exato e extraordinariamente vivo dos acontecimentos que tão grande importância tiveram para a compreensão da Revolução Proletária e da Ditadura do Proletariado.”
O prognóstico de Lênin se cumpriu e “Os dez dias que abalaram o mundo” se tornou uma das obras mais lidas em todo o mundo, por trabalhadores e militantes da luta pelo progresso social.
John Reed, que foi, a pedido do próprio Lênin, sepultado junto às muralhas do Kremlin (é o único estrangeiro que recebeu esta honra), deixou a vida faz 100 anos. Mas vive no coração e na mente daqueles que rejeitam toda forma de tirania e lutam contra ela.
José Carlos Ruy é jornalista e escritor.