PUBLICADO EM 20 de out de 2021
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“Não vamos ceder até o iFood se manifestar”: entregadores seguem em greve

Foto: GABRIELA MONCAU/BRASIL DE FATO

Fazia frio na noite de domingo (17) em Atibaia, interior paulista. Ainda assim, entregadores de aplicativo se reuniam na frente do McDonalds da cidade.

Penduradas na placa, faixas anunciavam a greve por melhores condições de trabalho, iniciada na sexta-feira (15). Em cima das bags no chão, doações de alimentos para garantir o sustento nos dias brecados. Os entregadores afirmam que seguirão sem rodar até que tenham suas reivindicações atendidas.

Entre as demandas da greve estão o aumento das promoções e da taxa mínima por coleta (que está em R$ 5,31), o fim de duas ou mais entregas por corrida e também o fim das suspensões de conta feitas sem justificativa.

Atibaia é a sétima cidade de uma onda de breques que vêm acontecendo no mês de outubro e, no momento, é a única que mantém a paralisação. Com períodos variados de duração – de um a oito dias – as greves de entregadores contra os apps de delivery aconteceram em Paulínia (SP), Jundiaí (SP), Maceió (AL), São Carlos (SP), Bauru (SP) e Niterói (RJ).

Apesar do ineditismo das mobilizações, que se espalharam por diferentes cidades e tornaram inoperantes as entregas de comida por vários dias seguidos, não houve ainda qualquer contato por parte das empresas de apps com os grevistas.

Entre elas está o iFood, a maior empresa do ramo de entregas do país e, por isso, alvo principal dos breques; que também atingem Uber Eats, Rappi, Box Delivery e James Delivery.

“Estão vendo tudo parado e querendo nos vencer pelo cansaço, porque têm um poder aquisitivo maior”, avalia João Marcos*, grevista de Atibaia. “Mas a gente vai conseguir porque não vamos ceder até o iFood se manifestar”, salienta.

Sem dizer se pretende fazer contato com os grevistas, o iFood informou ao Brasil de Fato que “respeita o direito constitucional e democrático de realização de manifestações” e que a empresa “está permanentemente atenta a todo o seu ecossistema”.

A onda de breques de vários dias

“A luta não começou aqui, começou lá em São José”, afirmou em vídeo um dos entregadores de Jundiaí, no sexto e último dia da greve na cidade. Ele se refere ao breque de seis dias que aconteceu em setembro em São José dos Campos (SP), o de maior duração até então, e que inspirou a onda grevista de outubro.

“Pegamos o bastão. Hoje está em Jundiaí, e iremos passar o bastão”, continua: “Demos um soco bem forte no estômago do iFood. Agora rapaziada, vocês dão um no rosto, e depois numa nacional iremos derrubar esse gigante que quer derrubar nossa categoria de motoboy”.

“Essa onda está acontecendo porque os motoqueiros começaram a abrir o olho para a desigualdade que tem”, analisa João Marcos.

Em frente ao bloqueio do McDonalds em Atibaia, o entregador Jorge Luís* gesticulava, com a mão enfaixada por conta de um acidente de moto durante o serviço, enquanto decrevia a importância das greves se espalharem pelos municípios.

“O que a gente está fazendo não é para mim ou para o próximo, é em busca de melhoria para todos”, explica Jorge. “Então queremos que todos os municípios onde estão passando pela mesma situação que nós entregadores passamos, se juntem a nós. Dá um breque na sua cidade, chama os motoqueiros, conversa”, convoca.

“Se a gente conseguir brecar em outras cidades a gente vai conseguir causar um impacto e mostrar para o iFood que as coisas não são do jeito deles, que a gente também tem que ser valorizado”, expõe Luciano Mota*.

“No auge da pandemia, na linha de frente – no sol, na chuva, no feriado, largando a família – era quem? Nós, os motoqueiros”, diz Luan Borges*, que trabalha como entregador do iFood há três anos. “O que a gente está fazendo é só por um direito nosso, a reivindicação de uma melhoria”, aponta.

“Então chegou a hora. Que a gente já está cansado mesmo”, afirma Luan: “Não vamos nos render”.

* Os nomes foram alterados para preservar as fontes.

Fonte: Brasil de Fato

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