Com bateria, mestre-sala e porta-bandeira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi neste domingo (25) à tradicional Portela, em Madureira, zona norte do Rio de Janeiro, e falou em rever a “reforma” trabalhista e abolir o chamado teto de gastos. O petista voltou a criticar o atual presidente por decretar sigilos em vários temas delicados para seu governo. E novamente pediu um esforço final para “virar votos” e evitar abstenções na eleição do próximo domingo, 2 de outubro.
Lula chegou à rua Clara Nunes no final da manhã com o prefeito carioca, Eduardo Paes (PSD), um aliado informal, e nomes da escola, como Tia Surica, integrante da Velha Guarda da Portela. “É um prazer recebê-lo. Eu já digo que é nosso presidente. Que ele vai ganhar no primeiro turno, se Deus quiser”, afirmou, já do lado de dentro, no palco, diante da quadra lotada. Ela presenteou Lula com um chapéu, que o ex-presidente usou durante todo o tempo em que permaneceu ali.
Imóveis com dinheiro vivo
O petista dedicou parte de sua fala ao período em que esteve preso. “Era preciso desmascarar, e a gente só desmascara quando reage. Não só provei minha inocência, como provei a culpa do (Sergio) Moro e do (Deltan) Dallagnol”, afirmou. “O Moro fala que não. Ora, eu fui absolvido em 26 processos, duas vezes na ONU e na Suprema Corte. Agora, quem é que quer acreditar que eu não fui absolvido? Foram as pessoas que acreditaram nas mentiras do Moro e do Dallagnol, divulgadas pelo meios de comunicação intensamente.” Lula lembrou que “muita gente boa” já foi presa, como Nelson Mandela e Martin Luther King.
Em seguida, voltou a questionar o atual presidente. “Ele não explica como é que comprou 51 imóveis com dinheiro vivo”, disse Lula, citando ainda os sigilos de 100 anos decretados por Jair Bolsonaro. “No nosso governo a gente tinha o Portal da Transparência, que você poderia saber o centavo que era gasto em tempo real. E gente tinha a Lei de Acesso à Informação. A corrupção no nosso governo apareceu porque a gente tirou o tapete da sala. Quando a gente é sério, a gente não tem medo.” O ex-presidente ressaltou que nunca tentou “controlar” o Ministério Público ou a Polícia Federal, que sempre tiveram liberdade de investigação. “Eu quero as instituições do Estado fortes, para preservar a democracia.”
Revisão da lei trabalhista
Ele reafirmou que vai anular os sigilos assim que assumir a Presidência da República. “Eu vou ganhar as eleições, vou tomar posse e vou acabar com o sigilo dele no primeiro mês. É simples assim. Bolsonaro precisa parar de ser garganta, de ser arrogante, e precisa saber que tem contas a prestar”, disse Lula, falando ainda sobre o chamado orçamento secreto. “Ele vai ter que explicar algumas coisas não pra mim, pra sociedade brasileira.”
Segundo o petista, o que tem crescido no país é a economia informal, com trabalhadores sem registro e sem direitos, o que deve exigir uma revisão da legislação trabalhista, após a “reforma” implementada em 2017. “Vamos ter de repactuar a relação entre capital e trabalho”, afirmou Lula, usando o termo “ajuste” nessa questão. Assim, não se pretende voltar à situação anterior, mas “a gente também não quer ficar sem calça e sem cueca no meio da rua”.
PIB, inflação e comida
Ainda na área econômica, o ex-presidente comentou sobre a inflação, cujo índice oficial recuou nos últimos meses. Mas ele observou que isso não é sentido pela população no dia a dia. “A inflação que vale para o trabalhador é o preço da comida”, afirmou. Ele aproveitou para criticar o governo por ter praticamente abolido os estoques reguladores da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que ajudavam a manter os preços dos alimentos.
Lula também citou o PIB, que segundo ele às vezes é usado para “enganar” a população. “Esse PIB só é importante pro povo quando parte dele é distribuída pro povo. Faz quatro anos que não se aumenta o salário mínimo.” O petista disse ainda que um presidente “não pode ficar segurando dinheiro” dos municípios, afirmou que vai acabar com o teto de gastos e chamou de “estupidez” a ideia de privatizar a Petrobras. Também falou em acabar com as invasões de áreas indígenas.
No final, ele voltou a pedir que as pessoas conversem com indecisos ou pessoas que ainda pensam em se abster de votar. E lembrou que é necessário não aceitar provocações nestes últimos dias de campanha. “Não vamos nos preocupar em tentar convencer um fanático bolsonarista a votar na gente. Deixa ele.”
Fonte: Rede Brasil Atual