Por Carolina Maria Ruy
Políticos
Norma Rae (EUA, 1979, direção: Martin Rit)
Um filme pronto para integrar qualquer debate político sobre uma mulher que é operária e mãe solteira. Fez muito sucesso nos movimentos sociais à época, influenciando mulheres trabalhadoras. Hoje, entretanto, pode soar datado e panfletário.
Pão e rosas (Inglaterra, 2000, direção: Ken Loach)
Este filme também tem uma mensagem política bem definida. Ele conta a jornada de Maya, que sai do México para entrar e se estabelecer de forma clandestina nos EUA. Ela trabalha como faxineira junto com outros imigrantes ilegais e acaba se engajando na luta social, mesmo que isso seja um grande risco para ela.
As sufragistas (Reino Unido, 2015, direção: Sarah Gavron)
Sobre a histórica campanha pelo direito ao voto. Mostra importantes campanhas e personalidades deste movimento na Inglaterra, como as ativistas Emmeline Pankhurst e Emily Davison. É um filme correto, com um discurso feminista bem marcado. Chega a parecer uma encenação sobre um artigo histórico.
Meryl Streep em três tempos
As Pontes de Madison (EUA, 1995, direção: Clint Eastwood)
O filme mostra o encontro existencial entre a dona de casa Francesca, interpretada por Meryl Streep, e o fotógrafo da National Geografic, Robert (Clint Eastwood). Ao contrário de Miranda Priestly e, mais ainda de Margaret Thatcher (que Streep interpretou anos depois), Francesca é uma típica dona de casa que se anulou em nome da família. Ela abandonou seus sonhos para cuidar do marido e dos filhos. Quando conhece Robert, ela tem a dimensão do que abriu mão, mas se vê presa à esta vida. É um filme sensível e atemporal.
O Diabo Veste Prada (EUA, 2006, direção: David Frankel)
Aqui Streep interpreta Miranda Priestly, a editora da Runway, uma das mais influentes revistas de moda do mundo. Priestly é o retrato da mulher poderoso, vítima de sua fama, e que não mede esforços para se impor em um ambiente ultracompetitivo. É um filme moderno, divertido, que mostra mulheres se relacionando no trabalho, ora com rivalidade, ora com solidariedade, que coloca questões sobre a vida contemporânea, mas que não se propõe a aprofundá-las.
A Dama de Ferro (Reino Unido, França, 2011, direção: Phyllida Lloyd)
Mesmo que sua atuação política tenha sido marcada por um retrocesso na área social, para os trabalhadores e para os sindicalistas, sobretudo, a vida da Primeira-Ministra do Reino Unido (de 1979 a 1990), Margaret Thatcher, interpretada por Meryl Streep, não deixa de ser um caso interessante sobre uma mulher poderosa em um mundo dominado pelos homens. O filme, entretanto, embora revele o reacionarismo e a “mão-de-ferro” com que Thatcher governou a Inglaterra, foca na doença e na solidão que a abateram em seus últimos anos de vida.
Forçou a barra
A Papisa Joana (Alemanha, 2009, direção Sönke Wortmann)
A história deste filme defende que no século 9 uma mulher disfarçada de homem chegou ao topo da hierarquia do Vaticano. Existe uma lenda sobre isso, mas ela não tem credibilidade e é considerada uma sátira antipapal. O filme é um panfleto contra o Patriarcado, contra a secular dominação dos homens sobre as principais instituições humanas. Sua intenção até pode ser boa, mas seu enredo não convence ninguém.
A dolorosa condição das babás
Diário de uma babá (EUA, 2007, direção: Shari Springer Berman, Robert Pulcini)
O tema da babá, da mulher que cria o filho do patrão, é delicado e caro às mulheres. Em Diário de uma babá a sutil brutalidade do descaso nas relações familiares na alta sociedade é mostrado de forma bem-humorada e inteligente. Uma babá assume mais do que os cuidados com a criança uma vez que seus pais, que vivem uma vida de aparências, não conseguem criar vínculos profundos com ela.
Histórias Cruzadas (EUA, 2011, direção: Tate Taylor)
Típico. Babás negras, cuidando das crianças brancas, com suas mães inexperientes, ainda quase crianças. O filme mostra a dúbia relação das empregadas negras com suas patroas brancas. Uma relação que é maternal, por um lado e opressiva, por outro. Levanta, através deste tema, a questão do racismo nos EUA na década de 1960, sobretudo no sul do país (se passa no Mississippi) e fala do início da conturbada luta pelos direitos civis em meados do século passado.
Que horas ela volta (Brasil, 2015, direção: Anna Muylaert)
Não é bem sobre uma babá, mas a relação da Val, uma pernambucana conformada com o tratamento que recebe como empregada doméstica em uma família rica de São Paulo, com a filha e sua relação com o filho da patroa são chaves para o filme. O diferencial aqui é a capacidade crítica e questionadora da filha, que chega em São Paulo para estudar e resgata seu relacionamento com a mãe.
Roma (México, 2018, direção: Alfonso Cuarón)
O filme mexicano, lançado pela Netflix, lembra em muitos pontos Que horas ela volta. Mas, neste caso, a relação da empregada, Cleo, com a família para a qual ela trabalha, é mais humana. Passado no início da década de 1970, Roma mostra como muitas famílias são criadas por mulheres. Os homens do filme são do tipo que abandonam as mulheres grávidas, ou deixam suas famílias. As mulheres, então, mostram solidárias, independente de etnias e classe social.
Objetificação da mulher
A outra (Inglaterra, 2008, direção: Justin Chadwick)
O conturbado casamento do rei Henrique VIII, da Inglaterra, com Ana Bolena revela como a mulher é tradicionalmente depreciadas em vários níveis: é vista como um ser destinado apenas à procriar e para dar prazer ao homem, sua vida pertence ao homem que pode usá-la como bem entende, até descarta-la, e, ainda, o filho homem é o esperado porque só ele poderá ser o sucessor do rei. Sabe-se que Henrique VIII teve, na verdade, seis esposas, e dispôs da vida delas como quis, sempre com o objetivo primordial de conceber um filho homem. Sabe-se também que, ironicamente, este rei nunca alcançou seu objetivo de fazer um sucessor e que suas duas filhas foram rainhas Maria I de Inglaterra, a Maria Sangrenta, e Isabel I, também chamada de “A Rainha Virgem”.
Para rever seus conceitos
Aprendendo com a vovó (EUA, 2015, direção: Paul Weitz)
A vovó da história é o avesso de todos os padrões esperados da mulher. É bissexual, abandonou o namorado bonitão na juventude para viver “la vida loca”, é uma escritora de sucesso que desperta paixões em mulheres jovens, é despojada e meio atrapalhada. Sua filha, uma empresária que fez fortuna, é workaholic e emplacável. Sua jovem neta, que teme a mãe poderosa, procura a avó pois precisa fazer um aborto. Três gerações de mulheres independentes. Os homens aqui são inúteis. A neta não tem pai, é resultado de uma inseminação artificial. O carinha que a engravidou é um completo tonto, infantilóide, sem nenhum miolo na cabeça. O filme exagera um pouco, mas é interessante como uma narrativa da plena autonomia das mulheres. É muito divertido também. As atrizes Lily Tomlin (de Gracie and Frankie) e Julia Garner, a avó e a neta, estão muito bem.
Dumplin’ (EUA, 2018, direção: Anne Fletcher)
Recentemente muitos filmes abordam a mesma temática: uma garota muito acima do peso que não se sente aceita, amada, muito menos atraente, vive uma situação que a faz ter maior autoestima. Com autoestima, não se enquadrar nos padrões de beleza deixa de ser um problema. Elas passam a ser aceitas, amadas e até desejadas. Entram nesta lista: Sexy por acidente (2018), Sierra Burgess é uma Loser (2018) e Megarromântico (2019). Dumplin’ quase se encaixa aí, mas ele tem uma graça a mais. Primeiro porque a protagonista não se subestima por estar acima do peso. Ela é uma adolescente crítica. Segundo porque, sendo crítica e segura de si, ela também despreza pessoas que vivem segundo os padrões impostos pela sociedade. Tudo se passa quando ela junta um grupo de amigas “contra o sistema” para participar de um tradicional concurso de miss o Texas. A participação é, inicialmente, apenas uma forma de protesto. Mas, com a ajuda de amigas drag queens elas conseguem participar e mudar os parâmetros do concurso. É um filme juvenil, sensível e fofo, como o nome diz.
Carolina Maria Ruy é coordenadora do Centro de Memória Sindical
rita de cassia vianna gava
Ah filmes inesquecíveis
Valerá pena relembrar