PUBLICADO EM 08 de mar de 2021
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Mulheres conquistam espaço em ciência e tecnologia, mas salários ainda são abismo entre gêneros

Segundo dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, houve aumento de 3,6% na quantidade de profissionais mulheres em serviços ligados à engenharia e de 38% em ciências físicas e naturais, ambos de 2017 a 2019. No mesmo período, houve crescimento de 4,5% na quantidade de mulheres em carreiras ligadas à tecnologia da informação.

Aos 19 anos, Flávia Cruz queria ser engenheira e prestar o vestibular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Por conselhos da família, ela desistiu da carreira e optou pelo curso de letras. Durante décadas, ela atuou como tradutora de livros e teve uma trajetória bem-sucedida.

Mas, determinada a seguir a carreira dos sonhos, ela decidiu cursar engenharia elétrica e eletrônica aos 36 anos, mesmo sob questionamentos de familiares. Hoje, aos 49, ela é diretora do departamento de ciências exatas e tecnologias do Instituto de Engenharia e coordena projeto de inclusão de mulheres no setor.

“Meu irmão perguntou: Tem certeza que você quer fazer isso [estudar engenharia]?. Estamos ganhando espaço no mercado de trabalho, embora ainda devagar. Falta a gente ter mais voz, gritar mais”, disse ela.

Mulheres como Flávia estão conquistando, aos poucos, mais espaço nas áreas de ciência, tecnologia e engenharia no Brasil. A diferença salarial, no entanto, continua refletindo a ampla desigualdade de gênero que existe nessas áreas.

Segundo dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, houve aumento de 3,6% na quantidade de profissionais mulheres em serviços ligados à engenharia e de 38% em ciências físicas e naturais, ambos de 2017 a 2019. No mesmo período, houve crescimento de 4,5% na quantidade de mulheres em carreiras ligadas à tecnologia da informação.

As diferenças nas médias salariais, contudo, são grandes. A exceção fica por conta da engenharia, em que os salários divergem pouco e a remuneração das mulheres supera a dos homens entre 2018 e 2019 (veja gráficos abaixo).

Apesar do progresso nas últimas décadas, o número global de mulheres pesquisadoras ainda é muito pequeno: 35% de todos os estudantes matriculados em cursos de exatas, segundo a ONU Mulheres (entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres).

“As mulheres ganham, em média, 27% menos [que os homens] porque estão em carreiras menos remuneradas. Um exemplo é que a maioria dos enfermeiros é mulher e a maioria dos médicos é homem. Além disso, estudos empíricos mostram que elas tendem a negociar menos aumentos salariais e mudanças de cargo”, afirmou Tayná Leite, gerente do Programa Ganha-Ganha no Brasil.

O projeto é uma aliança entre a ONU Mulheres, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a União Europeia (UE) para promoção da igualdade de gênero no setor privado.

Desigualdade na carreira acadêmica

No Brasil, a realidade no mundo acadêmico não é diferente. As pesquisadoras tendem a ter carreiras mais curtas e remuneração inferior. Embora elas representem 33,3% de todos os pesquisadores do país, apenas 12% dos membros das academias de ciências nacionais são mulheres.

“Com a pandemia, uma universidade francesa fez testes para um programa de doutorado às cegas e aprovou mais mulheres. Ficou claro que existe um viés de preconceito na escolha. Elas têm total capacidade para gerar produção científica. O estereótipo que recai sobre meninos e meninas é o que faz com que a gente perca talentos”, disse Tayná.

Dados divulgados pelo Ministério da Educação, pela plataforma Nilo Peçanha, apontam que o número de mulheres formadas em cursos de química na rede federal de educação profissional, científica e tecnológica do país subiu 1,16% de 2017 a 2019. No mesmo período, houve queda de 14,21% na quantidade de homens em formação.

Nos cursos de engenharia, a participação feminina cresceu 22,5% de 2017 a 2019. Entre o público masculino, a alta foi de 28% no mesmo intervalo.

Em tecnologia da informação, informação e jogos digitais, a participação das mulheres foi de apenas 369 em 2017 para 423 em 2019 (alta de 14,6%). Entre os homens, o aumento foi bem mais representativo: passou de 1.376 para 1.781 (+24,9%).

Fonte: Sindpd

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