PUBLICADO EM 30 de set de 2020
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Morreu Quino, que desenhou o inconformismo. E criou Mafalda

Desenhista argentino morreu hoje, aos 88 anos, um dia depois do “aniversário” de sua icônica personagem

Quino, no banco da Praça San Telmo, em Buenos Aires, com estátua de sua mais famosa criação, a Mafalda. Foto: EDUARDO DI BAIA

Por Vítor Nuzzi (RBA)

Em novembro de 1954, a revista semanal argentina Esto Es publicou a tira de um estreante de “linha lacônica”. Joaquín Salvador Lavado Tejón, o Quino, tinha 22 anos. Esse traço se tornou marca registrada do artista, possivelmente o desenhista de língua espanhola mais conhecido no mundo. Em boa parte, isso se deve à personagem Mafalda, a nacionalista rebelde nascida em 1964 e que ontem havia completado 56 anos. Quino morreu nesta quarta-feira (30), aos 88 anos, depois de sofrer um AVC na semana passada.

Nascido em Mendoza em 17 de julho de 1932, aos 13 anos, já decidido a ser desenhista, matriculou-se na Escola de Belas Artes. Cansou de pintar no gesso, e aos 18 foi para Buenos Aires procurar um editor. Levou mais de três anos até conseguir. “No dia em que publiquei minha primeira página, tive o momento mais feliz da minha vida”, recordou.

Nasce uma personagem

Casado com Alicia Colombo desde 1960, três anos depois ele publicou seu primeiro livro, Mundo Quino. Nessa época, foi apresentado a uma agência de publicidade que procurava alguém para lançar uma linha de produtos eletrodomésticos. A campanha não foi para a frente, mas ali começou a nascer a mais famosa de suas personagens. “Mafalda, la chica de pelo negro que odia la sopa y está en contradicción con los adultos”, como definiu.

A primeira tira com Mafalda foi publicada pela primeira vez em 29 de setembro de 1964, no semanário Primera Plana. Não demorou muito para que ela se tornasse um fenômeno inclusive internacional. Era a garotinha inconformada com as mazelas do mundo, sempre questionando seus pais. E também fanática pelos Beatles, que surgiram na mesma época.

Mafalda chegou à Itália, por exemplo, em 1969, apresentada por ninguém menos que Umberto Eco. No Brasil, álbuns publicados nos anos 1980 (com tiras de 1965 dos jornais El Mundo e Córdoba) tiveram tradução de Mouzar Benedito e edição de Henfil.

Criador e criatura

Quino parou de desenhar Mafalda e sua turma em junho de 1973. Queria dedicar-se a outros projetos. Tempos depois, descobriu-se que o fim das tiras estava também relacionado à situação política da Argentina. Mas ela já ganhara vida própria. Tornou-se uma das personagens mais icônicas de todos os tempos. Quem vai a Buenos Aires, por exemplo, dificilmente deixa de ir ao bairro de San Telmo, local de uma feira famosa e onde está Mafalda, sentada em um banco.

Em 2018, foram inauguradas estátuas de Mafalda, Manolito e Susanita em Mendoza, terra natal do escritor. Mas, assim como a personagem transcendeu o criador, a obra de Quino vai muito além da criatura. Quino é “um dos maiores autores de humor gráfico que já houve”, disse tempos atrás a cartunista Laerte.

Em entrevista ao jornal Página/12, em 2004, Quino contou do que tratava em suas tiras: “Da relação entre os fracos e os poderosos”.

Reprodução

Tira clássica de Quino: a empregada arruma tudo, inclusive o quadro ‘Guernica’

Fonte: Rede Brasil Atual

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