PUBLICADO EM 22 de jul de 2019
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Morre professor aposentado da USP que criou a ‘pílula do câncer’

Gilberto Orivaldo Chierice, criador da ‘pílula do câncer’ – Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Morreu aos 75 anos, na sexta-feira (19), em São Carlos, o professor aposentado da USP Gilberto Orivaldo Chierice. Ele ficou conhecido por criar a “pílula do câncer”, nome popular da fosfoetanolamina.

Ele foi enterrado na manhã de sábado (20) no Cemitério Nossa Senhora do Carmo.

Pai de um casal de filhos e descendente de italianos, Chierice nasceu em Rincão, no interior de São Paulo. Terminou a graduação em química pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara em 1969. Concluiu, depois, o mestrado e o doutorado em química na USP, em 1973 e 1979, respectivamente.

De 1976 a 2007, trabalhou no Instituto de Química de São Carlos (IQSC-USP). Foi nesse período que desenvolveu e distribuiu a “fosfo” para pacientes de câncer.

Ao estudar as propriedades da molécula nos anos 1980, viu que trabalhos antigos apontavam uma relação entre a “fosfo” e a presença de tumores em animais, o que sugeria que ela poderia ser cancerígena.

Pensou, então, que havia a possibilidade de ser o contrário: o organismo poderia estar produzindo a substância para combater o tumor. Sua equipe conseguiu que a Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu fizesse um teste de toxicidade da “fosfo” em roedores. “Ficou demonstrado que ela não era tóxica, muito pelo contrário, e que podia ser usada em qualquer ser vivo”, disse ele à Folha em 2016.

No entanto, nenhum medicamento pode ser distribuído a pacientes sem ter passado pelos chamados ensaios clínicos, estudos que verificam sua segurança e eficácia.

Ao longo dos anos, ele disse que nunca distribuiu menos de 40 mil pílulas por mês e estimava que 700 pessoas faziam uso mensal da substância. Em sua opinião, esse número provaria que a molécula é eficaz no combate ao câncer, afirmação da qual quase todos os demais especialistas discordam —sem um controle rígido do estado de saúde de cada paciente e um acompanhamento constante de longo prazo, é impossível saber se a causa da melhora desses pacientes foi mesmo a “fosfo”.

“Como o médico indicava e o paciente estava melhorando, eu pensei: que mal haveria em dar?”, disse ele à Folha.

A falta de evidências sobre a segurança e a eficácia do produto, no entanto, levou especialistas a questionar seu uso informal. No currículo de Chierice constam só seis trabalhos publicados sobre a molécula em revistas científicas internacionais (de um total de mais de 80 envolvendo outras áreas de pesquisa ao longo de sua carreira). As pesquisas saíram entre 2011 e 2013 e versam apenas sobre a ação da “fosfo”, como é chamada, em culturas de células em laboratório e animais.

No fim de 2015, após uma enxurrada de ações judiciais e manifestações organizadas pelos pacientes que queriam ter acesso à substância, o MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) anunciou que investiria R$ 10 milhões para testar a eficácia da fosfoetanolamina, a começar por ensaios com animais de laboratório.

Ao mesmo tempo, o governo estadual de São Paulo traçou um plano para iniciar estudos controlados da molécula com cerca de 200 pacientes humanos.

A falta de benefícios aos pacientes fez com que os estudos fossem cancelados.

O IQSC lamentou a morte de Chierice. “Os professores, alunos e funcionários do IQSC expressam suas condolências aos familiares e amigos do Prof. Gilberto e esperam que todos consigam encontrar amparo neste momento de tristeza”, disse, em nota.

“Foram 37 anos de trabalho dedicados ao Instituto, desde seus primeiros anos no curso de bacharelado em química, até a consolidação do programa de pós-graduação em química analítica, do qual foi orientador de dezenas de mestres e doutores.”

Fonte: Folha SP

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