PUBLICADO EM 01 de fev de 2018
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Moradores da Cidade do Cabo temem o caos com a falta d’água

O quadro lembra um filme de desastre de Hollywood. Em abril, a Cidade do Cabo chegará ao Dia Zero. Que ninguém diga que não foi avisado!

O governo alerta que o Dia Zero pode superar tudo o que uma grande cidade já enfrentou, desde a 2.ª Guerra e dos ataques do 11 de Setembro. A polícia ainda estuda como proceder, já que “o policiamento normal será totalmente inadequado”. Os moradores, com os nervos à flor da pele, sussurram entre si que “o caos se aproxima”.

A razão do alarme é simples e sinistra: as reservas de água da Cidade do Cabo estão perto do fim. Se os níveis continuarem a cair, a cidade vai declarar o Dia Zero em menos de três meses. Torneiras das casas, da indústria, do comércio, serão fechadas até que venha a chuva. A cidade de 4 milhões de habitantes terá de fazer fila para obter água racionada nos 200 postos de distribuição previstos. Os efeitos do racionamento serão sentidos na saúde pública e na ordem social.

“Quando o Dia Zero chegar, o Exército terá de intervir”, previu Phaldie Ranqueste enquanto carregava seu utilitário com grandes contêineres de água colhida numa fonte em frente da qual se formara uma longa fila.

Nunca ninguém imaginou que tal situação pudesse ocorrer na Cidade do Cabo. Ela é famosa por sua agressiva política ambiental, que inclui o criterioso manejo de água numa região cada vez mais seca do mundo. Mas, após três anos da pior seca em um século, a Cidade do Cabo corre o risco de se tornar uma das poucas grandes cidades do planeta a ficar sem água encanada.

Hospitais, escolas e outras instituições vitais continuarão recebendo água, mas para o restante da vida urbana o racionamento será severo.

Os problemas da Cidade do Cabo resumem um dos grandes perigos na esteira das mudanças climáticas: o crescente risco de secas severas e recorrentes. Na África, um continente particularmente vulnerável aos efeitos das mudanças do clima, a situação da Cidade do Cabo é um forte alerta para outras cidades e países do continente que pouco fizeram para se adaptar a uma emergência do tipo.

Os líderes políticos da Cidade do Cabo pretendem se unir “para derrotar o Dia Zero”. À medida que os níveis dos reservatórios continuam a cair, a cidade se movimenta para concluir usinas de dessalinização e aumentar a captação de água subterrânea. A partir de fevereiro, os moradores estarão sujeitos a pesadas multas se excederem o novo limite diário de consumo, que passará dos atuais 87 litros de água por pessoa para menos de 50 litros.

Até poucos anos, a situação não poderia ser mais diferente. Em 2014, os reservatórios transbordavam, após anos de boas chuvas. Em 2015, a organização C40, que congrega cidades de todo o mundo empenhadas em combater os efeitos das mudanças climáticas, deu à Cidade do Cabo o prêmio de “melhor adaptação” por seu manejo da água.

O sucesso da Cidade do Cabo na conservação de água é inegável. Embora a população tenha aumentado em 30% desde o início dos anos 2000, o consumo geral de água permaneceu estável. Muitos dos novos moradores foram assentados em áreas pobres, onde o consumo de água é menor, o que acabou baixando o consumo per capita.

Diversificação. Por outro lado, as medidas adotadas para a preservação de água – eliminar vazamentos, instalar hidrômetros, reajustar tarifas – tiveram um efeito talvez poderoso demais. A cidade preservou tanto que não se preocupou em descobrir novas fontes de abastecimento.

A maior parte de sua água ainda vem de seis reservatórios que dependem da chuva, uma situação de risco numa região árida em que o clima está mudando. Os reservatórios, que há poucos anos estavam cheios, estão hoje abaixo de 26% de sua capacidade, segundo funcionários.

Para Helen Zille, governadora da Província de Cabo Ocidental, o racionamento é inevitável. A grande pergunta, segundo ela, é como garantir o fornecimento de água e evitar a anarquia quando o Dia Zero chegar.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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