PUBLICADO EM 06 de ago de 2021
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Metroviários de SP enfrentam Doria para manter direitos e a sede

A qualquer momento desta primeira semana de agosto pode acontecer a ação de despejo do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, localizado na zona leste da capital paulista, entre as estações Carrão e Tatuapé da linha 3-vermelha do Metrô.

A categoria espera barrar a entrega da sede do sindicato. Em leilão realizado pelo governo de João Doria (PSDB), no dia 28 de maio, a sede foi vendida por R$ 14,4 milhões para a empresa UNI 28 SPE.

O sindicato repudia a venda e fez uma queixa-crime à polícia para anular o leilão. Segundo a entidade, há irregularidades, como o fato de a atual diretora da UNI 28, Milena Alves Siqueira, ser esposa do coordenador de Gestão de Contratos do Metrô, Mauricio Teixeira Soares.

Os metroviários cobram investigação e a anulação imediata do leilão. A Porte Engenharia é a dona da UNI 28 SPE, criada pelo empresário Marco Antonio Melro.

Os trabalhadores enfrentam, segundo o diretor do Sindicato dos Metroviários, Marcos Freire, uma dupla batalha neste momento, seja por causa da manutenção da sede da entidade, seja porque a resistência a isso se dá em meio a uma campanha salarial por garantia de direitos, mas sem abertura de diálogo por parte do governo paulista.

“Doria quer retirar nossa sede e vem em um processo de privatização que é a grande lógica dele. Atacar o sindicato facilita essa linha de entrega do patrimônio público e do sistema ferroviário. Isso vem desde o governo [de Geraldo] Alckmin, com a proposta de privatizar linhas do Metrô como a 5-Lilás e a 4-Amarela. A CPTM vive a mesma situação. O governo quer avançar com as privatizações de todas as linhas que estão sob a gestão pública”, afirma.

Freire aponta como característica dos governos ligados ao PSDB o ataque às organizações sindicais, em especial às que fazem o enfrentamento contra a entrega dos patrimônios públicos.

“O governo paulista vai destruindo os direitos, fazendo de tudo para enfraquecer a categoria, sucatear nossas riquezas e promover a venda. Desde maio, tem sido árdua a nossa luta para manter nossa sede. O que ele faz hoje com os metroviários, ele certamente fará amanhã com outros sindicatos. Ele não vai parar”, diz.

Mobilizações

Após a decisão do governo Doria, movimentos populares, parlamentares, sindicatos e centrais sindicais têm se mobilizado pela manutenção da sede da entidade.

Representantes de diferentes organizações tem ido até o local, onde atos e vigílias têm ocorrido de forma permanente.

O último protesto foi na terça-feira, dia 3. Na ocasião, o coordenador geral do sindicato, Wagner Fajardo, destacou o fato de a imprensa popular estar noticiando os fatos e criticou a ausência de notícias em veículos da mídia comercial. Após envio de sugestão de pauta aos veículos de comunicação de amplo acesso de público, houve apenas silêncio.

“Existem muitas categorias neste enfrentamento e com pouca visibilidade, há um verdadeiro cerco da imprensa no sentido de não noticiar nada do que acontece”.

Para o secretário de Relações do Trabalho da CUT-SP, Wagner Menezes, o Marrom, a invisibilidade se sobrepõe a todo o ramo do transporte que, de acordo com o dirigente, está sendo desrespeitado pelo governo paulista.

“Doria promoveu um leilão em plena pandemia, sem qualquer diálogo com os trabalhadores. Esse entreguismo das nossas riquezas está sendo feito no transporte, na educação, na saúde, no saneamento e com outras categorias. O governador descarta a história de construção do sindicato desde o final da década de 1980 a duras penas, assim como joga no lixo a história de inúmeros pais e mães de família e o papel social que cumpre o sindicato”.

“É bom lembrar que João Doria é o mesmo cara que pretende se candidatar à Presidência em 2022, o que seria trocar seis por meia dúzia. A retirada de direitos em São Paulo é a mesma que ocorre no governo Bolsonaro no país”, completa.

Solidariedade

O terreno onde hoje está a sede do sindicato foi cedido por comodato em 1987. Desde lá, os trabalhadores construíram o espaço com recursos próprios.

A sede do sindicato, além de atender os metroviários, abriga atualmente pessoas em situação de rua neste período de baixas temperaturas. A acolhida ocorre entre 20h e 8h, desde o dia 30 de julho, em uma ação em parceria com a pastoral do Povo de Rua e a principal referência nesta luta hoje na cidade de São Paulo, padre Júlio Lancellotti.

Fornece não apenas local para dormir e tomar banho como um estacionamento para as “carroças”, veículos utilizados pelas pessoas em situação de rua para recolher materiais recicláveis ao longo do dia como forma de obter uma renda.

Diretor do sindicato, José da Silva, mais conhecido como Amaral, destaca que além representar os trabalhadores diante de negociações coletivas, tanto das linhas públicas como das que foram privatizadas, a entidade realiza trabalhos sociais há muitos anos.

O sindicato também empresta espaços de sua sede a outras categorias de trabalhadores, seja para reuniões ou momentos de lazer.

Durante a pandemia, o diretor comenta que o sindicato tem feito doações de roupas e calçados, além de 200 marmitas diárias. As refeições são feitas, em parceira com a União Brasileira de Mulheres (UBM), na cozinha solidária construída na sede da entidade.

“Temos uma escolinha de futebol de salão, que recebe filhos de metroviários e crianças da comunidade do entorno. Também abrimos espaço para ensaio das escolas de samba Vai, vai e Acadêmicos do Tatuapé. Temos ainda a Banda do Trem Elétrico, bloco de Carnaval do sindicato, que reúne trabalhadores e moradores dos bairros do entorno. Ou seja, a nossa sede presta um serviço social à população como um todo”, afirma Amaral.

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