Metade dos engenheiros civis chamados para a Secretaria de Obras Públicas (SOP) no mais recente concurso desistiu da carreira pública. Dos 46 profissionais nomeados, 23 não assumiram ou deixaram o cargo. Os dados, de março de 2023, foram obtidos pelo Sindicato dos Servidores de Nível Superior do RS (Sintergs) e pela Sociedade de Engenheiros e Arquitetos da Secretaria de Obras do RS (Seasop).
A perda de talentos também pode ser verificada nas outras funções. De 111 nomeados, 37 não tomaram posse ou assumiram e, em seguida, pediram exoneração. Ou seja, 33,33% dos nomeados para os cargos de analista arquiteto e analista engenheiro nas áreas de Engenharia Civil, Mecânica, Elétrica, de Produção, de Minas e de Segurança do Trabalho não tiveram interesse em permanecer no Estado.
Os salários abaixo do valor de mercado é um dos motivos para a debandada. “Ao não pagar o piso salarial da categoria, o Estado não dá o exemplo, descumpre a legislação e não reconhece a responsabilidade técnica vitalícia dos arquitetos e engenheiros sobre as obras públicas”, comenta o engenheiro civil Valdir Fiorentin, diretor de Comunicação do Sintergs. Uma das consequências é que o Estado abre mão de contar com os serviços destes engenheiros e arquitetos em projetos de reformas de escolas, hospitais e demais prédios públicos.
A falta de perspectiva devido à ausência de um plano de carreira também desestimula a permanência no serviço público. “A pessoa fica estagnada no cargo, sem nenhum crescimento, porque todas as vantagens que existiam, como triênios e quinquênios, foram removidas”, explica o engenheiro civil Guilherme Toniolo, diretor de Política Salarial do Sintergs. O dirigente critica que o governo equiparou as obrigações do serviço público com a iniciativa privada, como no caso da aposentadoria pelo teto do INSS, mas não igualou os direitos e nem os salários aos do mercado de trabalho.
O engenheiro mecânico Luciano Neves da Fontoura, presidente da Seasop, define como lamentável a decisão do Estado de não atualizar o salário dos servidores conforme a inflação. “Por que os trabalhadores da iniciativa privada têm direito à reposição inflacionária anual e quem trabalha no Estado não tem? O resultado está aí, gastamos dinheiro público para selecionar profissionais e os perdemos para a concorrência, para o mercado”, avalia Fontoura.
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