PUBLICADO EM 05 de maio de 2022
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Mês do trabalhador para reforçar identidade coletiva e de luta!

por Juruna e Ronaldo Leite

Neste ano, os sindicatos voltaram às praças para comemorar o 1º de maio. Retomar as ruas, mesmo com o corte de financiamento promovido por Temer e Bolsonaro, mostra como os sindicatos estão vivos!

O ato da Praça Charles Miller completou o conjunto de atos do Dia do Trabalhador realizados desde o aprofundamento da escalada recessiva e conservadora, com a posse de Jair Bolsonaro. Nos 4 anos desta gestão presidencial, marcada por um perfil anti-trabalhador, fizemos bem em unir nossas forças para enfrentar todos os males que tivemos e ainda temos que enfrentar. Realizamos 2 atos online nos anos em que a pandemia estava mais forte, 2020 e 2021, e presenciais, um no início e outro no fim do desgoverno.

Comparações com os megaeventos realizados na Praça Campos de Bagatelle, com shows populares e sorteios de prêmios para a população, que alguns insistem em fazer, são incorretas. Desde 2017, as comemorações expressam nossa resistência, nosso pesar com a pandemia, além de reafirmar nossas lutas.

É importante trazer esse contexto para desfazer interpretações que usam métricas de comparação incompatíveis com a realidade atual. Isso porque os atos do 1º de Maio servem como um termômetro político e tem um peso muito grande em um ano eleitoral. A falsa comparação do 1º de Maio de 2022 com outros eventos e a cobrança de uma linearidade que não existe, induz a uma avaliação política errada, de esvaziamento, quando na verdade estamos atuando em prol das mudanças que o país precisa.

Não vamos deixar de fazer aqui um balanço daquilo que podemos melhorar. Para além dos discursos sobre nossas pautas, que são necessários, mas que precisam fluir melhor, a comemoração do Dia do Trabalhador deve, antes de tudo, atrair o povo. E não há incompatibilidade em fazer um evento popular com um nível político elevado.

Podemos, nós sindicalistas, mudar algumas coisas, mexer aqui e ali, fazer juntos ou separados, convidar artistas de sucesso e até mesmo realizar sorteios para que o público compareça para prestigiar, se divertir e se envolver nos debates acerca dos rumos do país. Avançamos em nosso papel de mobilizar e de atualizar o movimento sindical.

Mas, à parte todo e esforço e boa vontade, devemos considerar, e muitos analistas escondem ou não se dão conta, que existem questões profundas que dizem respeito à disseminação no senso comum de uma campanha antissindical. Estas têm a mesma raiz da mentalidade escravocrata que se perpetua no Brasil, mesmo depois da abolição de 1888. Isso está no centro dos problemas. Problemas que pavimentaram as reformas liberais de Michel Temer, a vitória de Jair Bolsonaro, a pobreza, o desemprego e a precarização.

Hoje, a mentalidade antissindical se disfarça de um discurso moderno. Os defensores da reforma trabalhista que retirou direitos, por exemplo, dizem que devemos olhar para a frente e não para trás. Como se restituir direitos fosse olhar para trás e, aprofundar a reforma, olhar para frente. Na verdade, é a reforma, com sua ampla retirada de direitos, que é o retrocesso ao Brasil pré-CLT.

Mais do que isso, a fantasia pós-moderna que prega um discurso antissindical mascara ideias conservadoras que não ajudam os trabalhadores. Estamos falando de discursos que incentivam a divisão do movimento social e político em pautas individuais baseadas em diferenças em detrimento da união de forças daqueles que querem e precisam se organizar para a luta. Esta é uma arma que atualmente os neoliberais usam para colocar os trabalhadores uns contra os outros e, sobretudo, contra o movimento sindical. Está evidente quem ganha com isso. E, percebendo sua decadência, os arautos do liberalismo tenderão a ficar ainda mais agressivos.

Após a longa pandemia e com as adversidades políticas e econômicas, entretanto, a realidade se impõe; a consciência sobre a importância dos sindicatos e da luta pelos direitos tem ganhado espaço e cada vez mais pessoas vem percebendo a falsidade do discurso meramente identitário sem base social e de classe. A fundação do sindicato na Amazon nos EUA e as mudanças na legislação trabalhista na Espanha são alguns exemplos.

Essas são as questões de fundo que não só desafiam o nosso 1º de Maio, mas que tentam nos liquidar dia a dia. Por isso, além de continuar avançando em nossos atos e exercícios de diálogo e de unidade, precisamos também reforçar o discurso pró-trabalhador e esforçar para elevar a consciência política do povo brasileiro.

Lançar o mês do trabalhador é uma forma de valorizar e reforçar nossa identidade operária para que todos e todas tenham em mente tudo pelo que devemos lutar: jornada de trabalho decente, valorização salarial, saúde e segurança no trabalho, aposentadoria digna, convenção coletiva. Nosso movimento é um movimento agregador, que respeita a diversidade e aproxima a todos. E é com ele que vamos superar a crise, o desgoverno e criar condições para um país melhor

João Carlos Gonçalves, Juruna, 69 anos, é secretário-geral da Força Sindical e vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo

Ronaldo Leite, 44 anos, é carteiro e secretário geral da CTB (Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil). Também é Conselheiro Fiscal do Sindicato dos Correios do Rio de Janeiro

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