Sair de casa para uma simples caminhada na vizinhança tem se tornando um desafio para os idosos no Brasil. Segundo uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz de Minas Gerais, 43% das pessoas com mais de 50 anos afirmam ter medo de cair na rua por causa de defeitos nas calçadas.
Madalena Cavalcante, de 50 anos, é uma destas pessoas. Ela trabalha como doméstica no bairro do Ipiranga, na zona sul de São Paulo e reclama das condições das calçadas do bairro onde trabalha e mora. “São degraus, buracos, é difícil caminhar com segurança, tem que ficar muito atento”, afirmou.
“Tem ruas que não gosto nem de passar, pois é perigoso, as vezes você tem até que passar pelo meio da rua. Você faz isto para não cair, e acaba correndo risco de ser atropelada”, diz Madalena. Quando foi abordada pela reportagem do R7, a doméstica passeava com os cachorros de seus patrões e enfatizou que durante o passeio “o cuidado tem que ser redobrado”.
Não existe uma legislação nacional para que se crie normas para calçadas brasileiras. Atualmente, o Estatuto das Cidades define que a responsabilidade é de cada prefeitura. Na cidade de São Paulo, a Lei 15.442/2011 estipula que a responsabilidade sobre a conservação da calçada pertence ao proprietário do imóvel — calçadas em mau estado de conservação ou fora de padrões podem ser punidas com multas que podem chegar a R$300 por metro quadrado.
Para a arquiteta e gerontologa Adriana Romeiro de Almeida Prado, a pesquisa traz um cenário preocupante pois “em 2030 os idosos serão em número maior do que jovens e crianças” e é fundamental que o idoso possa estar inserido na sociedade e possa participar dela com liberdade.
“Devemos lembrar também que não é só o idoso que utiliza a calçada, todos nós usamos e deveria haver um esforço do poder público para garantir calçadas mais uniformes. Podia ser feito até uma campanha por um caminhar mais saúdavel”, diz a especialista.
Quedas e tombos
A aposentada Maria Luiza, de 63 anos, sofreu uma queda na mesma região há cerca de dez dias. O desabafo veio nas redes sociais, acompanhado de fotos dos ferimentos. “Indo pela calçada, meti o pé num buraco e olha o que aconteceu. Não quebrei por sorte!”, escreveu Maria Luiza.
Segundo a professora Maria Fernanda Lima Costa, uma das coordenadoras da pesquisa, os resultados impressionaram. “Não esperávamos resultados tão desfavoráveis”, afirmou.
Costa enfatizou ainda que 85% da população idosa vive em áreas urbanas e que o cuidado com as calçadas deve se tornar uma preocupação mais frequente do Poder Público. “A cidade precisa garantir condições adequadas para essa população, o Brasil está devendo isso”, disse a pesquisadora.
O ministro da Saúde, Gilberto Occhi, afirmou nesta segunda (1º), dia em que foi apresentado os resultados da pesquisa, reconheceu o problema. “Sabemos que isso é realidade, as calçadas são inadequadas. É necessário o diagnóstico para que todos nós possamos tomar as medidas.”
O estudo foi conduzido em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e ouviu 10 mil pessoas com mais de 50 anos em 70 municípios de todas as regiões do país, inclusive as principais capitais.
Fonte: Portal R7