Por Carolina Maria Ruy
São inusitadas a leveza e a descontração quando se está falando sobre uma guerra sangrenta. Mas o humor mostra aqui uma de suas funções mais nobres que é servir como ferramenta para entender o absurdo e para aguentar o tranco. A ironia toma o lugar do deboche e o despojamento sela a união daquele grupo de médicos cirurgiões na Guerra da Coreia (1950 a 1953).
Nesta toada M.A.S.H. não rebaixa o sofrimento e a gravidade da situação, mas sim nos permite ver toda a humanidade ali envolvida. Os protagonistas, os jovens cirurgiões Duke e Hawkeye, demonstram como relações de trabalho, hierarquia, turnos etc., se mantêm mesmo em meio à guerra. O humor irônico surge como um subterfúgio dos doutores diante do horror da situação.
No ano em que o filme foi lançado, 1970, a agressão dos Estados Unidos contra o Vietnã já se arrastava por quinze anos. De forma velada, uma vez que foi contextualizado na Guerra da Coreia, M.A.S.H. foi o primeiro filme a abordar questões relacionadas àquela guerra. Denunciou as batalhas que fizeram milhares de vítimas e deu notoriedade ao diretor, Robert Altman, que até então havia dirigido filmes e programas de televisão sem muito destaque.
O filme se passa, ficcionalmente, na Guerra da Coreia, mas a referência ao Vietnã era implícita e indisfarçável. A história se passa no 4.077º Hospital Cirúrgico Móvel do Exército Americano, na Coreia, e relata as aventuras amorosas dos cirurgiões do Exército, que inventam as mais hilariantes aventuras e procuram, assim, manter a cabeça em ordem em meio a um mundo que, em virtude da guerra, desabava.
M.A.S.H.
EUA, 1970
Direção: Robert Altman
Elenco: Donald Sutherland, Sally Kellerman, Elliott Gould, Tom Skerritt, Robert Duvall
Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical. Do livro “O mundo do Trabalho no cinema”, publicado por Centro de Memória Sindical
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