Em entrevista ao podcast Flow nesta terça-feira (18), o apresentador Igor 3K cobrou de Lula “autocrítica” do PT por “escândalos de corrupção”. Lula rebateu que, na verdade, a origem do antipetismo é outra. E citou avanços sociais durante de seus governos, que causaram insatisfação em setores da elite. “Você acha que a elite brasileira engoliu de graça o PT fazer uma lei para registrar a empregada doméstica em carteira, com jornada de trabalho, direito a férias, descanso semanal? Que eles aceitaram o fato da gente fazer com que as pessoas pobres da periferia chegassem a fazer universidade?”
Lula destacou que expandiu de 3,5 milhões para 8 milhões as matrículas em universidades, através de programas de inclusão. “E vai ter mercado para essa galera?”, questionou o entrevistador, com sintoma de algum preconceito. Estaria preocupado com uma macroeconomia que precisa de excluídos, já que não haveria lugar para todos? Apesar do questionamento, Igor reconheceu os avanços: “Eu me formei pelo ProUni”.
“Eu fico feliz que você é um ‘cara’ que se formou pelo ProUni. O ProUni foi a coisa mais extraordinária. A mulher do Haddad, a Ana Estela, pensou nisso em um projeto para São Paulo, e aproveitamos um projeto nacional”, relatou. “Eu viajo pelo Brasil, as pessoas mostram um papelzinho escrito e falam, ‘Lula, sou do ProUni’, sou o primeiro da minha família.”
O que mudou?
A entrevista de Lula ao Flow passou de 1 milhão de espectadores em tempo real no canal oficial, durante 1h40mim – com Bolosnaro, em agosto, a conversa teve quase 5h. Além disso, a participação de Lula foi destaque nas redes sociais. No Twitter, a hashtag #LulaNoFlow ocupou o primeiro lugar nos trending topics (temas mais comentados), com mais de 130 mil menções, na primeira hora. O podcast Flow com Lula se aproximou de 6 milhões de visualizações antes da meia-noite.
O apresentador do Flow perguntou “o que mudou” para que Lula conseguisse tais avanços no seu governo. “Os mais pobres passaram a ganhar mais. O salário mínimo aumentava todo ano. O agricultor familiar começou a ganhar mais.” Citou políticas de estímulo a pequenos agricultores, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), quando o governo comprava parte da produção para compor estoques de regulação e para garantir alimentos saudáveis aos estudantes das escolas públicas.
“A gente inverteu um pouco a lógica de achar que os pobres não podem subir um degrau na ascensão social. Tiramos 36 milhões de pessoas da miséria absoluta. Acabamos com a fome, que voltou agora, forte. E conseguimos colocar 42 milhões de pessoas com padrão de classe média baixa”. Foi o tempo, segundo Lula, em que a população do Nordeste passou a “encostar o jegue”, porque havia adquirido uma motocicleta.
Sobre os rumos do PT, Lula admitiu que o partido se distanciou das suas bases originais, porque o mundo do trabalho também mudou. “Na minha época, a Volkswagen tinha 47 mil trabalhadores, hoje tem 7 mil.” Mas disse que o partido não pode abandonar as populações que moram nas periferias das cidades brasileiras: “Se for pra ser igual aos outros, a gente não precisa existir.”
Do aborto ao teto de gastos
Foram inúmeros os temas abordados na entrevista. Lula respondeu, por exemplo, sobre a polêmica do aborto. “Sou contra o aborto. Não é bom para o pai nem para a mãe. Sou contra pessoalmente. Quem tem que decidir é a lei, não eu. É preciso parar de inventar, parar de fetiche, de inventar coisas”.
Voltou a rebater fake news absurdas criadas pelo campo bolsonarista. “Falam que o Lula vai fazer banheiro unissex. É absurdo. Esses caras não têm respeito. Sou pai de cinco filhos. Tenho netos e bisnetos. Esses caras pensam que podem mentir na igreja; lugar que vamos para cuidar da espiritualidade e não para mentir”.
Voltou a combater as políticas contracionistas na economia. “Teto de gastos para quem?”, questionou o ex-presidente. “Só vale pagar juros para banqueiros? Educação não é gasto, é investimento. Cuidar da saúde é investimento. Precisamos tratar as pessoas com dignidade. Ninguém quer discutir aumento de salário, jornada de trabalho”, disse Lula.
Corintiano, Lula fez brincadeiras relacionadas ao futebol, e ironizou o apoio do atacante Neymar ao atual presidente às vésperas do primeiro turno. “Não fico puto, o Neymar tem direito de escolher o que ele quiser para ser presidente. Eu acho que ele está com medo de, se eu ganhar as eleições. eu vá saber o que o Bolsonaro perdoou da dívida do Imposto de Renda dele.”
Fonte: Rede Brasil Atual