PUBLICADO EM 29 de set de 2022
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Livro mostra como arte e cultura ressignificam as periferias

Foto: Rovena Rosa/Agencia Brasil

Nesta quinta-feira, 29 de setembro, às 19 horas, no Boteco da Dona Tati (Rua Conselheiro Brotero, 506 – Barra Funda) acontecerá o evento de lançamento do livro A Formação das Sujeitas e dos Sujeitos Periféricos, do filósofo Tiarajú Pablo D’Andrea. A partir de uma visão da formação cultural da periferia, a obra ressalta a produção de intelectuais que transformaram a compreensão das ditas “quebradas”. O grupo de rap Racionais MC’s e coletivos culturais dirigem a narrativa, como elementos que refletem uma nova sociedade a partir das lutas antirracista, antipatriarcal e anticapitalista.

Além de membro do Programa de Pós-Graduação Mudança Social e Participação Política da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, o autor também é um morador da periferia da zona leste de São Paulo, no bairro de Itaquera. Imerso em experiências coletivas, Tiarajú faz uma retrospectiva da organização política e cultural nas periferias de São Paulo que, de acordo com o autor, criou um ambiente de resistência da classe trabalhadora diante do neoliberalismo da década de 1990 até os dias atuais.

O livro é produto da tese de doutorado do filósofo, que já foi pesquisador convidado da École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris. Atualmente, Tiarajú coordena o Centro de Estudos Periféricos, sediado em Itaquera. A tese, intitulada A formação dos sujeitos periféricos: cultura e política na periferia de São Paulo, foi defendida em 2013 e somente agora se tornou um livro. De acordo com o autor, o estudo teve por objetivo reverter estigmas e preconceitos contra sujeitos periféricos e mostrar como a cultura desenvolvida nas periferias ajudou a ressignificar esses locais, distanciando-os da percepção única de que são cenários de violência e de pobreza.

Estudando a quebrada

A pesquisa de Tiarajú parte do contexto social da década de 1990, quando as periferias de São Paulo sofriam os desdobramentos do neoliberalismo e um alto índice de homicídios. No mesmo período, o autor indica uma explosão de atividades culturais que, segundo ele, conseguiram resistir e, junto a outros fenômenos, fez surgir na periferia uma nova subjetividade, centrada no orgulho dessa condição. Ao Jornal da USP, Tiaraju fala que tais subjetividades periféricas não se resumem, apenas, a habitar a periferia. “Mas, [trata-se] da ação de afirmar o pertencimento a ela. Dessa forma, há uma condição urbana e cultural que deriva de um processo histórico, de migração nordestina e de presença negra, com qualidade de vida precária, que resulta em uma percepção social e ação política própria desses grupos periféricos”, afirma.

Foram nove anos entre a finalização do doutorado e a publicação do livro. Para o pesquisador, isso se deve à criticidade e às questões que levantava, como o elitismo nas universidades públicas de São Paulo e a ideia de que a produção de conhecimento poderia vir de outros espaços diferentes das regiões centrais em que essas escolas estão localizadas. Durante o desenvolvimento da pesquisa, Tiarajú conta que conforme expunha a realidade da periferia, havia uma resistência para a continuidade de seu trabalho. “Minha tese incomodou um pouco”, diz.

O filósofo explica que sentiu necessidade de transformar a pesquisa em livro por causa da distância temporal e para poder aprofundar assuntos pouco abordados nela“O conceito de sujeitas e sujeitos periféricos está mais organizado no livro”, afirma ele. Na introdução, o autor expõe que a obra usa um intervalo de tempo que se inicia e finaliza com dois genocídios: o da década de 1990, causado pela alta letalidade policial e a ocorrência de três grandes chacinas – Carandiru, Candelária e Vigário Geral – e o causado pela pandemia de covid-19. Além disso, o autor acrescentou dois capítulos finais, que tratam da realidade brasileira no ano de 2022.

Um dos elementos presentes no livro e na tese é a referência ao grupo musical Racionais MC ‘s. Tiarajú acredita que o álbum Raio X Brasil, lançado pelo grupo em 1993, foi um marco fundamental para o autorreconhecimento da população periférica. O autor faz uma análise musicológica e política das composições do grupo, mas também traz uma homenagem a eles. “[Os Racionais MC’s] ajudaram a gente a pensar o mundo e a se compreender em um momento em que as periferias estavam numa crise subjetiva muito grande”, diz. “É uma obra de arte que a todo momento interage com a realidade, a partir de sua sensibilidade e de uma leitura muito fina e muito concreta do que está acontecendo na realidade”, complementa.

Com apoio da Fundação Rosa Luxemburgo, a obra é uma publicação da Dandara Editora e recebeu a menção honrosa no Prêmio de Musicologia da Casa de Las Américas, em Cuba. No prefácio e abas (ou “orelhas” do livro), Tiarajú contou com outros organizadores. Entre eles: o professor de Jornalismo na USP, Dennis de Oliveira, a pesquisadora da USP, Carolina Freitas, e a professora de Sociologia da Universidade Estadual de Londrina, Daniela Vieira. “Convidei pessoas que foram boas leitoras da tese”, explica o pesquisador.

Na EACH, Tiarajú é membro do Programa de Pós-Graduação em Mudança Social e Participação Política (PROMUSPP) da USP. O programa busca formar pesquisadores que analisem a sociedade a partir de suas transformações sociais, junto aos desafios de desenvolvimento das cidades. Como a EACH surgiu em um contexto de ausência de uma universidade pública na zona leste de São Paulo, o PROMUSPP busca compreender essas mudanças sociais e as participações políticas que as envolvem.

Fonte: Jornal da USP

Foto: Dandara Editora

A Formação das Sujeitas e dos Sujeitos Periféricos
Dandara Editora
Ano: 2022
Páginas: 288

Disponível para compra no site da editora.
Saiba mais sobre o lançamento da obra aqui.

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