Em vários países do mundo, mais recentemente Portugal, se têm discutido ou já implementado a jornada semanal de trabalho reduzida para 4 dias com intenção de melhorar qualidade de vida e produtividade, sem redução de salários. A Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT) alerta que redução de jornada sem redução de salário sempre foi pauta da categoria, mas é preciso que proposta seja discutida com a classe trabalhadora.
A afirmação é do presidente interino da CNM/CUT, Loricardo de Oliveira, que se diz preocupado e atento sobre a questão do total de horas trabalhadas.
“Este debate precisa ser feito pelo movimento sindical. Nós, metalúrgicos, já temos na nossa categoria empresas que trabalham 40 horas, outras 42, mas na sua grande maioria são 44 e muitas vezes com horários extras. E não se trata disso”, afirmou Loricardo.
A mesma preocupação atinge o presidente da Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Químicas, Eléctricas, Farmacêutica, Celulose, Papel, Gráfica, Imprensa, Energia e Minas em Portugal (CGTP-IN), Rogerio Silva. No último semestre, em Portugal, a proposta de jornada reduzida entrou em fase de teste no setor privado, foi incluída na Agenda do Trabalho Digno, entrará em fase de estudos e está sob análise para funcionar na administração pública. Porém, segundo o sindicalista, o movimento sindical está de olho na questão da regulamentação das horas trabalhadas.
“A proposta de redução de jornada é um tema que está em forte debate, aqui em Portugal e no mundo, mas nós defendemos a tese que junto com a jornada de 4 dias deve se regulamentar o tempo de trabalho, passando das 40 horas semanais para 35. Além disso, vamos defender condições de trabalho e qualidade de vida para as trabalhadoras e os trabalhadores”, afirma o português.
Segundo ele, o perigo está em ter uma jornada de 4 dias e 12 horas de trabalho. “Não podemos permitir, porque isso traria consequências graves para saúde”.
Para Loricardo, a redução da jornada deve voltar a ser pauta prioritária dos metalúrgicos e metalúrgicas da CNMCUT nas suas negociações coletivas, inclusive de PLR.
“Colocar uma pauta de redução de jornada é pensar o trabalho decente, acabar com o trabalho precário a informalidade e trazer mais pessoas para o trabalho formal. Nossa defesa é mais empregos com dignidade”.
Saúde das mulheres
É comprovado cientificamente que as mulheres trabalham mais do que os homens, devido a dupla jornada. A jornada semanal das mulheres dura em média 3,1 horas a mais do que a dos homens considerando o tempo dedicado ao emprego e ao cuidado da casa e de seus moradores.
Reduzir a jornada para 4 dias de trabalho impactaria também na saúde das mulheres, como aponta a secretária da Mulher na CNM/CUT, Marli Melo. Segundo ela, é uma pauta de defesa da dignidade.
“O impacto da redução de jornada na vida das mulheres é de qualidade de vida, temos dupla jornada, estamos nos setores mais precários com jornada exaustiva e isso nos traz danos físicos e mentais. Precisamos trazer com mais ênfase esse debate no sindicato, essa é uma pauta para dignidade dos trabalhadores e trabalhadoras”, destaca.
Metas para sindicatos?
Paises como Belgica, Islândia, Escócia, Suécia, Espanha, Alemanha, Nova Zelância e Japão já implementaram redução de jornada para 4 dias trabalho sem redução de salário. Com folga de três dias, a semana passou para 35 ou 36 horas semanais para
A Bélgica é o país mais recente a adotar o modelo de jornada de trabalho reduzida. Agora, segundo reportagem do Yahoo, os funcionários podem escolher entre trabalhar quatro ou cinco dias por semana, mantendo-se a mesma carga horária total. A jornada semanal clássica belga é de 38 horas, mas o empregado tem a opção de trabalhar 45 horas numa semana e deduzir as sete horas adicionais na seguinte.
O Secretário-Geral da Industriall Global Union, Atle Høie, disse que a redução de jornada para 4 dias pode se tornar uma meta para os sindicatos no mundo.
“Estou ciente que alguns sindicatos filiados já discutem esta proposta, mas ainda é minoria. A redução do tempo de trabalho pode ser mais uma escolha nos países ricos, mas pode ser uma bandeira do movimento sindical em todo mundo”, afirma.
Saída para o desemprego
Para o secretário de Relações Internacionais da CNM/CUT, Maicon Michel Silva, em seu artigo “A redução da Jornada de Trabalho sem redução de salário mais uma vez entra em cena”, diz que é urgente que trabalhadoras e trabalhadores brasileiros retomem a luta pela redução da jornada de trabalho sem redução salarial, de forma coordenada e unitária, para reverter esse quadro de desemprego, estagnação econômica e superexploração do trabalho que acontece no Brasil.
“Somente com uma política de retomada do crescimento econômico com justiça social, direitos, redistribuição de renda e que busque o pleno emprego, elaborada com a participação da classe trabalhadora, em que todos tenham a oportunidade de ter um trabalho decente, poderemos avançar e desenvolver o Brasil. E isso passa por essa luta histórica da classe trabalhadora”, ressalta ele, que finaliza: “Redução de jornada sem redução de salário JÁ!”
Distribuição de renda
Para o presidente interino da CNM/CUT, a redução de jornada também impacta na distribuição de renda. Segundo ele, pensar na distribuição de renda é pensar na oportunidade de garantir o futuro e esperança para muitos homens e mulheres que estão entrando no mercado de trabalho.
“A estratégia da CNM é pensar a industrialização como meio de renda e solução possível de participação na riqueza nacional e a redução da jornada de trabalho para garantir renda e aumento de salário, além de fazer com que a renda seja melhor distribuídos no país”, destaca.
Fonte: Redação CNM/CUT