PUBLICADO EM 22 de abr de 2023

João do Vale canta: Minha história; música

João do Vale, cantor e compositor brasileiro

A poesia em forma de baião Minha história, composta e interpretada por João do Vale em 1965, é um retrato tocante das desigualdades sociais que marcam a infância e a trajetória de milhões de brasileiros.

Com linguagem simples e ritmo envolvente, o autor transforma sua própria vivência em testemunho coletivo, denunciando as limitações impostas pela pobreza e pela falta de acesso à educação. Ao narrar a distância entre sua realidade e a dos colegas que puderam estudar, João do Vale explicita a estrutura excludente da sociedade, onde o talento artístico não compensa a ausência de oportunidades.

Ainda assim, o eu lírico não guarda rancor: ele se alegra com as conquistas dos outros, mesmo carregando a consciência de que muitos, como Mané, Pedro e Romão, continuam invisíveis, sem estudo nem voz.

Trata-se, portanto, de uma poesia que articula memória, crítica social e afetividade, ao mesmo tempo em que eleva o baião a instrumento de resistência e expressão popular.

Minha história
(Composição: João do Vale/1965)
Intérprete: João do Vale

Seu moço, quer saber, eu vou cantar num baião
Minha história pra o senhor, seu moço, preste atenção
Eu vendia pirulito, arroz doce, mungunzá
Enquanto eu ia vender doce, meus colegas iam estudar
A minha mãe, tão pobrezinha, não podia me educar
A minha mãe, tão pobrezinha, não podia me educar

E quando era de noitinha, a meninada ia brincar
Vixe, como eu tinha inveja, de ver o Zezinho contar:
– O professor raiou comigo, porque eu não quis estudar
– O professor raiou comigo, porque eu não quis estudar
Hoje todo são doutô, eu continuo joão ninguém
Mas quem nasce pra pataca, nunca pode ser vintém
Ver meus amigos doutô, basta pra me sentir bem
Ver meus amigos doutô, basta pra me sentir bem

Mas todos eles quando ouvem, um baiãozinho que eu fiz,
Ficam tudo satisfeito, batem palmas e pedem bis
E dizem: – João foi meu colega, como eu me sinto feliz
E dizem: – João foi meu colega, como eu me sinto feliz
Mas o negócio não é bem eu, é Mané, Pedro e Romão,
Que também foram meus colegas, e continuam no sertão
Não puderam estudar, e nem sabem fazer baião

#Música&Trabalho

Fonte: Centro de Memória Sindical

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