Por Carolina Maria Ruy
Invisível é o termo que melhor define as mulheres pobres e negras na década de 1960, no Mississippi, EUA. Ser invisível, neste caso, não é o poder da onipresença. É ser desconsiderado pelos direitos civis.
Nesta situação viviam as serviçais negras em plena década de 1960, como mostra o filme Histórias Cruzadas. É um paradoxo: mulheres fortes, robustas, com medo de meninas frágeis. Figuras cínicas e irritantes, que aparentam doçura. O apartheid estadunidense foi assim. Extremista. Taxativo.
Por meio de fatos do cotidiano o filme fala da absurda situação dos negros e do início da conturbada luta pelos direitos civis em meados do século passado. O enredo se desenvolve, sobretudo, pela dúbia relação das empregadas negras com suas patroas brancas. Dúbia por ser uma relação maternal, em princípio, reforçada pela recorrente falta de experiência das mães biológicas, e ser, posteriormente, uma relação de poder, uma vez que todas as garotas brancas deviam, obrigatoriamente, aprender a ser patroas das negras. A amizade entre as duas não era aceita pela sociedade.
Daí o medo das mulheres fortes ao menor sinal de aproximação das brancas. No entanto, das piores situações de discriminação emergem as sementes da mudança.
O filme é, enfim uma boa oportunidade de repensar a história. É um filme leve, colorido, que, misturado ao drama, traz cenas engraçadas e uma dose de ternura. Ele levanta questões sobre a construção psicológica dos preconceitos e sobre a desigualdade social do trabalho. Fatos arcaicos, mas não tão distantes no tempo. Uma doença social que deixou sequelas.
Histórias Cruzadas (The Help)
EUA, 2011
Direção: Tate Taylor
Elenco: Emma Stone, Bryce Dallas Howard, Viola Davis, Octavia Spencer
Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical
Do livro “O mundo do Trabalho no cinema”, publicado por Centro de Memória Sindical