PUBLICADO EM 20 de jul de 2022
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Greve histórica da Producta completa 30 anos

Hoje, o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba relembra mais uma mobilização histórica. Os 30 anos da greve na Producta, considerada a mobilização mais violenta já enfrentada pela categoria no Paraná. Cansados do arroxo salarial e das más condições de trabalho, os trabalhadores, liderados pelo SMC, iniciaram uma paralisação que durou 13 dias.

A empresa, que hoje não existe mais, era localizada em Araucária e produzia artigos para camping como fogões e churrasqueiras portáteis. O dono era de um militar do exército que recorreu ao Pelotão de Choque da Polícia Militar para tentar intimidar os trabalhadores. A reação violenta resultou em vários trabalhadores e diretores do SMC espancados. O assessor do SMC, Nelson Custódio da Silva, perdeu parte da visão.

“A greve foi realizada por falta de proteção de máquinas 4 trabalhadoras perderam os dedos da mão. O assessor Custódio, o “Bozo”, ex-funcionário da Bosch, levou uma cacetada no olho quando defendia uma trabalhadora grávida de 4 meses que estava na greve e era funcionária da empresa. Mesmo apesar do avisos que ela estava grávida os policiais batiam de todas as formas. Então, eu, o Clementino e o Bozo tentamos fazer com que os policiais parassem de bater, porém, o efetivo da polícia era de dois caminhões cheio de policiais e vários cachorros. Era dez vezes o número de trabalhadores na empresa. Clementino apanhou muito eu tive 9 pontos na cabeça de uma cacetada da PM”, diz o diretor do SMC, Núncio Manalla, que esteve na mobilização na época.

Em razão deste episódio, o então governador Roberto Requião criou uma Lei determinando que, a partir daquele momento, a PM só poderia acompanhar as greves a distância para manter a ordem, não podendo mais interferir fisicamente no movimento.

“Aquela foi uma dura greve, num período que a mentalidade da ditadura militar, onde tudo era decidido na base da imposição pela força, ainda estava bem viva no Brasil. Mesmo assim, os trabalhadores na se intimidavam em ir para a luta. Infelizmente, essa mentalidade tem ressurgido no Brasil com a polícia voltando a ser usada pelo patronal para tentar intimidar os trabalhadores em porta de fábrica. Nesse ano eleitoral, teremos a oportunidade de mudar isso. Polícia é para garantir a ordem e a segurança da sociedade e não para ser usada para constranger os trabalhadores que só querem melhorar de vida”, diz o presidente do SMC, Sérgio Butka.

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“Outra greve que permanece na memória pela violência, foi a da Producta. Ocorreu em 1992. Considerada por muitos diretores da entidade, como a mais violenta dos últimos 40 anos. Foram 13 dias de paralisação. Na tentativa de proteger os trabalhadores, vários diretores e funcionários do SMC foram violentamente agredidos pela Polícia Militar. Os diretores Núncio Mannala e Clementino Tomaz Vieira, tiveram dedos quebrados e escoriações por todo o corpo. O assessor de mobilização, Nelson Custódio da Silva, conhecido como Bozo, também foi violentamente agredido e em consequência ficou cego de um olho. A ação do pelotão de choque da PM foi tão violenta que o governador Roberto Requião criou lei proibindo a Polícia Militar de interferir em greves e conflitos sociais.

Cláudio Gramm foi eleito diretor da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do Paraná em 1990. Depois se elegeu para a diretoria do SMC. Tem experiência na área de saúde do trabalhador. Foi eleito para a cipa na Camargo Correia e na New Holand, hoje CNH. Ele lembra dessa greve. “O pessoal parou por reajuste salarial e melhores condições de trabalho. Nem os EPIs -Equipamentos de Proteção Individual- a empresa fornecia”. Cláudio fala que nunca viu tantos policiais numa greve. “O major Justino foi para lá com os policiais. Levaram o canil todo da PM. Tinha farda preta, farda amarela. Com certeza tinha mais policiais que trabalhadores. A PM bateu em todo mundo. Além do Bozo, Núncio, Clementino, o Bira – Ubirair Chaves-, que era nosso funcionário, também apanhou bastante”.

Mas o mais grave, segundo Cláudio Gramm, foi o fato de a empresa contratar novos funcionários, mesmo em greve, o que é ilegal. A Producta acabou sendo autuada pelo Ministério Público do Trabalho por isso. “Eles traziam esses trabalhadores em furgões sem ventilação. Não aconteceu uma tragédia por pouco. Esses trabalhadores poderiam ter morrido asfixiado dentro desses furgões”. Wilson Tataren, também diretor do SMC tem a explicação do porquê de tantos policiais. “Os trabalhadores comentavam que o dono da Producta era um coronel aposentado do Exército”. Tataren relata que os trabalhadores pulavam as janelas dos ônibus para não furar a greve. “A polícia vinha e descia o cacete nos trabalhadores, querendo obrigá-los a entrar para trabalhar. A gente interferia e eu, por exemplo, acabei preso. Virou uma guerra. Olha, sem exagero, não sei como não morreu ninguém”. Diva Lima da Silva (Na época integrante do Departamento da Mulher Metalúrgica) concorda. “É por essas e outras que eu sempre disse: Deus é metalúrgico, com certeza”

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