O valor do novo plano foi citado por sindicalistas que têm de explicar aos trabalhadores as razões de novos “sacrifícios” pedidos pela GM. Entre eles, estão redução do piso salarial e da participação nos resultados, terceirização em todas as áreas e aumento da jornada de trabalho.
Nem a empresa nem pessoas que participam das negociações confirmam oficialmente o valor do novo investimento. O prefeito de São Caetano do Sul, José Auricchio Júnior, afirma apenas que “o novo ciclo representará garantia de, pelo menos, mais dez anos de funcionamento da planta na região”.
A discussão sobre os rumos da montadora começou no dia 18, quando o presidente da GM Mercosul, Carlos Zarlenga, enviou carta aos funcionários dizendo que a situação do grupo depende da volta, ainda este ano, da lucratividade da operação, que está negativa desde 2016.
Na carta, ele reproduz texto em que a presidente mundial da companhia, Mary Barra, demonstra estar insatisfeita com os resultados da América do Sul (Brasil e Argentina). “Não vamos continuar investindo para perder dinheiro”, disse ela.
Zarlenga disse que um plano para viabilizar investimentos na região foi entregue à matriz. “Do sucesso desse plano dependem os investimentos da GM e o nosso futuro.”
Na semana passada, Zarlenga iniciou encontros com dirigentes sindicais das fábricas de São Caetano do Sul e São José dos Campos, ambas em São Paulo. O grupo tem mais três fábricas, uma de carros em Gravataí (RS) e duas de autopeças em Mogi das Cruzes e Joinville (SC).
Hoje será a vez de encontro com fornecedores, de quem Zarlenga espera redução de preços. Dos concessionários já teria obtido corte de 1 ponto porcentual da comissão das vendas.
O prefeito Auricchio diz que está previsto para dezembro o início da produção de um SUV na fábrica de São Caetano, possivelmente a nova Tracker. “A empresa tem novos investimentos definidos, mas precisa saber se tem a garantia dos quatro pilares (governos, sindicatos, concessionárias e fornecedores) que devem trabalhar de forma sincrônica e harmônica”, diz.
“Com a conclusão de tudo isso haverá o anúncio positivo dos investimentos”, afirma Auricchio. Segundo a Secretaria Municipal de Fazenda, dados preliminares indicam que, do repasse total de ICMS recebido no ano passado, 24% (R$ 80 milhões) foram de responsabilidade direta ou indireta da GM. Em relação ao ISS, a montadora recolheu R$ 6,5 milhões, 3% do total.
Em São José dos Campos, onde a GM é a terceira maior empresa – atrás da Revap e da Embraer –, o secretário de Inovação e Desenvolvimento Econômico, Alberto Marques Filho, diz que “a empresa tem intenção de produzir novos veículos em 2023 e, para isso, teria de fazer investimentos para preparar as linhas a partir deste ano”.
Segundo Marques, o município se dispõe a suspender a cobrança de ISS e IPTU da GM, “mas primeiro queremos saber que investimento será destinado à cidade para então avaliarmos prazos e se a renúncia será total ou parcial”.
Do governo do Estado, a GM espera receber créditos acumulados de ICMS, retidos há quatro anos. O imposto é pago pelas empresas nas exportações e deveria ser devolvido em forma de crédito a ser descontado de outros impostos. Só as montadoras têm mais de R$ 5 bilhões retidos, dizem fontes do setor. No ano passado, a Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo informou que tinha um calendário para a devolução que iria até 2020. Em 2018, seriam devolvidos R$ 1,2 bilhão às montadoras. Na sexta-feira, o órgão disse que devolveu no ano passado R$ 770 milhões e não informou quando vai liberar os outros R$ 430 milhões.
Fonte: O Estado S.Paulo