PUBLICADO EM 17 de dez de 2023
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Gilberto Gil canta: Roda; música

Gilberto Gil, cantor e compositor brasileiro

Gilberto Gil, cantor e compositor brasileiro

O poema aponta a chave da desigualdade como a ânsia por mais riqueza dos que já têm dinheiro em contraste com a dificuldade dos menos favorecidos. E questiona a exploração dos pobres e a falta de escrúpulos daqueles que buscam mais poder e riqueza. A ideia da “roda” simboliza que este processo é cíclico.

No verso:

“Se morre o rico e o pobre
Enterre o rico e eu
Quero ver quem que separa
O pó do rico do meu

Gil chama a atenção para o fato que a diferença social é condição material desta vida e que, entretanto, todos terão o mesmo fim: a morte, o enterro e a redução ao pó.

Lançada no início da ditadura militar, “Roda” é uma crítica à desigualdade social, exploração e a busca por equidade entre diferentes camadas da sociedade. É, desta forma, um discurso político de resistência e um chamado ao engajamento que a situação exigia. Apesar de sua ligação com o contexto histórico da década de 1960, ela oferece ainda uma reflexão atual e pertinente.

 

Roda
(Composição: Gilberto Gil/1965)
Intérprete: Gilberto Gil

Meu povo, preste atenção
Na roda que eu te fiz
Quero mostrar a quem vem
Aquilo que o povo diz
Posso falar, pois eu sei
Eu tiro os outros por mim
Quando almoço, não janto
E quando canto é assim

Agora vou divertir
Agora vou começar
Quero ver quem vai sair
Quero ver quem vai ficar
Não é obrigado a me ouvir
Quem não quiser me escutar

Quem tem dinheiro no mundo
Quanto mais tem, quer ganhar
E a gente que não tem nada
Fica pior do que está
Seu moço, tenha vergonha
Acabe a descaração
Deixe o dinheiro do pobre
E roube outro ladrão

Agora vou divertir
Agora vou prosseguir
Quero ver quem vai ficar
Quero ver quem vai sair
Não é obrigado a escutar
Quem não quiser me ouvir

Se morre o rico e o pobre
Enterre o rico e eu
Quero ver quem que separa
O pó do rico do meu
Se lá embaixo há igualdade
Aqui em cima há de haver
Quem quer ser mais do que é
Um dia há de sofrer

Agora vou divertir
Agora vou prosseguir
Quero ver quem vai ficar
Quero ver quem vai sair
Não é obrigado a escutar
Quem não quiser me ouvir

Seu moço, tenha cuidado
Com sua exploração
Se não lhe dou de presente
A sua cova no chão
Quero ver quem vai dizer
Quero ver quem vai mentir
Quero ver quem vai negar
Aquilo que eu disse aqui

Agora vou divertir
Agora vou terminar
Quero ver quem vai sair
Quero ver quem vai ficar
Não é obrigado a me ouvir
Quem não quiser escutar

Agora vou terminar
Agora vou discorrer
Quem sabe tudo e diz logo
Fica sem nada a dizer
Quero ver quem vai voltar
Quero ver quem vai fugir
Quero ver quem vai ficar
Quero ver quem vai trair

Por isso eu fecho essa roda
A roda que eu te fiz
A roda que é do povo
Onde se diz o que diz

Fonte: Centro de Memória Sindical

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