PUBLICADO EM 30 de out de 2019
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Filmes que tratam da relação entre dados sigilosos, imprensa e governo

As investigações sobre a morte da vereadora Marielle Franco, assim como os vazamentos, pelo site The Intercept Brasil, de mensagens que mostram colaboração entre o então juiz Sergio Moro e o procurador da República Deltan Dallagnol, quando ambos integravam a força-tarefa da Operação Lava Jato, mostraram como a imprensa é importante em uma democracia.

Todos os homens do presidente. Divulgação.

Por Carolina Maria Ruy

Estes casos, que abalam a política nacional, lembram outros casos em que tramas ou conversas sigilosas tornaram-se públicos, mudando eleições e governos ou levando poderosos aos bancos dos réus.

Durante a Guerra do Vietnã, por exemplo, o jornal Washington Post publicou documentos secretos, vazados pelo ex-analista militar norte-americano, Daniel Ellsberg, sobre as ações dos Estados Unidos na Guerra.

Poucos anos mais tarde, em 1972, um dos mais emblemáticos escândalos vazados pela imprensa, o caso Watergate, resultou na renúncia do presidente americano Richard Nixon em 1974.

Mais recentemente o WikiLeaks, de Julian Assange, tornou-se símbolo de vazamentos de dados sigilosos, divulgando uma série de documentos e conversas entre chefes de estado.

Também recente é o caso do Edward Snowden, o ex-analista de sistemas da Agência de Segurança Nacional Estadunidense, que tornou públicos detalhes de vários programas do sistema de vigilância global americana a partir de 2014. Como no Brasil, os vazamentos promovidos por Snowden foram divulgados pelo jornalista Glenn Greenwald que, por este trabalho, ganhou o Prêmio Pulitzer de jornalismo em 2014.

Veja alguns casos desses, reconstituídos em filmes instigantes, na ordem em que foram lançados:

Todos os homens do presidente (EUA, 1976. Direção: Alan J. Pakula)

Lançado no calor do desfecho do caso Watergate, apenas dois anos depois da renúncia de Nixon, Todos os homens do presidente mostra a tensa relação entre o informante, Garganta Profunda (Deep Throat), e os repórteres do jornal Washington Post, Bob Woodward e Carl Bernstein, o peso de obter informações secretas, a pressão do governo e os possíveis riscos que o jornal e os jornalistas corriam ao se envolver nesta arriscada operação.

Woodward e Bernstein, interpretados por Robert Redford e Dustin Roffman, se dedicaram, durante meses a percorrer as pistas fornecidas pelo informante e estabeleceram as ligações entre a Casa Branca e o assalto ao edifício de Watergate durante a campanha eleitoral dos EUA, de 1972. Suas descobertas incriminaram o presidente Richard Nixon quem em 24 de julho de 1974, foi julgado pela Suprema Corte dos Estados Unidos e, em 9 de agosto, ele renunciou à presidência.

O quinto poder (EUA, 2013. Direção: Bill Condon)

Embora tenha sido criticado e rejeitado por Julian Assange, o filme conta a versão de seu colega Daniel Domscheit-Berg, sobre a criação do Wikileaks. Domscheit-Berg ajudou Assange a fundar o site para fornecer uma plataforma para que denunciantes anônimos pudesse expor segredos do governo e crimes corporativos.

Lançado em dezembro de 2006, em meados de novembro de 2007, o Wikileaks já continha 1,2 milhão de documentos. Sua glória viria em 2010, quando o publicou uma série de documentos sigilosos do governo dos Estados Unidos que haviam sido vazados pela ex-militar transexual, Chelsea Manning. Um deles era um vídeo de 2007, que mostrava o ataque de um helicóptero Apache estado-unidense, matando pelo menos 12 pessoas – dentre as quais dois jornalistas da agência de notícias Reuters – em Bagdá, durante a ocupação do Iraque. Outro documento polêmico mostrado pelo site naquele ano foi a cópia de um manual de instruções para tratamento de prisioneiros na prisão militar de Guantánamo, em Cuba. Para dar conta de processar e divulgar as informações que recebia o Wikileaks criou parceria com os jornais El País, Le Monde, Der Spiegel, The Guardian e The New York Times,.

Para Julian Assange, o filme foi feito para denegrir a imagem do Wikileaks. Por outro lado, de pessoas que conviveram com ele alegam que o longa desmistifica a imagem heroica do jornalista.

Citizenfour

EUA, 2014. Direção: Laura Poitras

O documentário revela as conversas dos jornalistas Laura Poitras e Glenn Greenwald com o analista de sistemas, ex-administrador de sistemas da CIA e ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na sigla em inglês), Edward Snowden, nas quais ele revela a extensão da vigilância global e de ações de espionagem feitas pelos EUA.

O encontro registrado no filme, que ocorreu em Hong Kong, em junho de 2013, foi justamente o ato das revelações, e não uma conversa sobre as revelações. A conversa, divulgada pelos jornais The Guardian e The Washington Post, apontou detalhes de comunicações e tráfego de informações executada através de vários programas, entre eles o programa de vigilância PRISM dos Estados Unidos.

Após as revelações, o Governo dos Estados Unidos acusou Snowden de roubo de propriedade do governo, comunicação não autorizada de informações de defesa nacional e comunicação intencional de informações classificadas como de inteligência para pessoa não autorizada.

Desde agosto de 2013, Snowden vive em asilo político na Rússia.

Snowden

EUA, 2016. Direção: Oliver Stone.

Snowden é o filme que encena o encontro revelado em Citizenfour, com a vantagem de abordar os impactos na vida pessoal do protagonista, após ele se tornar inimigo número um da nação. No filme, sua namorada dele, Lindsay Mills, aparece como alguém que o instiga politicamente e que pode ter alguma influência em suas ações radicais.

The Post

EUA, 2017. Direção: Steven Spielberg

The Post dramatiza a história real dos jornalistas do Washington Post ao tentar publicar documentos secretos sobre o envolvimento dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã, vazados pelo ex-funcionário do Pentágono, Daniel Ellsberg, e apelidados pelo jornal The New York Times, a quem parte deste documento foi entregue em 1971, de Pentagon Papers.

As revelações, que foram divulgadas em séries de artigos nos jornais The New York Times e The Washington Post, mostraram que os Estados Unidos deliberadamente expandiram sua ação na guerra, depois de o presidente Lyndon Johnson prometer que isso não aconteceria.

A guerra, que começou na década de 1950 (os EUA, que já atuava ali a pretexto de oferecer “apoio humanitário” desde o início, entrou em peso no Vietnã em 1965), atravessou vários governos, e teve um custo altíssimo aos EUA, tanto em termos de vidas, quanto em recursos e também em moral. Aquelas revelações escandalizaram a opinião pública causando um grande desgaste ao presidente Richard Nixon.

Este caso também é mostrado, com registros documentais, na série A Guerra do Vietnã: Um filme de Ken Burns e Lynn Novick (2017).

Mark Felt – O Homem que Derrubou a Casa Branca

EUA, 2017. DIREÇÃO: Peter Landesman

Mais de quarenta anos do lançamento de Todos os homens do presidente, Mark Felt – O Homem que Derrubou a Casa Branca, conta a mesma história, mas do ponto de vista da fonte dos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, o Garganta Profunda, “Deep Throat”. O filme também tem a vantagem de contar com as descobertas levantadas ao longo destas décadas, entre elas identidade do informante: o ex-vice-presidente do FBI, William Mark Felt.

Privacidade hackeada

EUA, 2019. Direção: Karim Amer, Jehane Noujaim.

O angustiante documentário releva as relações entre a empresa Cambridge Analytica, com a eleição do presidente Trump, nos Estados Unidos, e o referendo Brexit, no Reino Unido.

Criada em 2013, a função da empresa era compilar e analisar dados com comunicação estratégica. Em outras palavras, comprava e decupava dados das redes sociais com fins eleitorais. Em 17 de março de 2018, os jornais The New York Times e The Observer revelaram que a Cambridge Analytica usou informações pessoais de 50 milhões de perfis do Facebook. Em resposta, a rede social baniu a Cambridge Analytica e proibiu a empresa de fazer publicidade em sua plataforma. Em 4 de abril do mesmo ano o Facebook anunciou que as contas de pelo menos 87 milhões de pessoas foram atingidas em 10 países, e, segundo suas estimativas, os dados pessoais de milhões de brasileiros foram usados sem consentimento. Nos Estados Unidos foram atingidas mais de 70 milhões de pessoas.

O filme mostra a saga de David Caroll, professor de design de mídia da Parsons School for Design, de Nova Iorque, ao mover um processo por ter seus dados usados sem consentimento ao responder um quiz no Facebook. Mostra também a luta da jornalista do The Guardian, Carole Cadwalladr, contra a apropriação e uso ilegais de dados que interferem diretamente nas democracias e soberania dos povos.

 

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  • Rita De c v gava

    Falando de hoje Intercept tem papel importante na revelação do implicito que mostrou se.
    Os bastidores da política tem meandros complicados

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