
Filme Wicked For Good apresenta atuações emocionantes e músicas inesquecíveis, abordando temas de opressão e desigualdade.
Por Chauncey K. Robinson
Wicked: For Good é a segunda parte da saga musical cinematográfica Wicked, que reconta a história da chamada “Bruxa Má do Oeste”, de O Mágico de Oz.
No coração da história está uma jovem que foi ostracizada pela cor de sua pele, que se levanta contra o regime fascista que governa Oz e é vilanizada por isso. Quando o foco está na heroína principal, Elphaba, e em sua jornada, Wicked está em seu ponto mais forte — como no primeiro filme.
Condeba regimes opressivos
Infelizmente, a segunda metade parece dispersa e um pouco desequilibrada, mas atuações poderosas e números musicais memoráveis suavizam o impacto. E, embora o final pareça um pouco apressado, a história funciona como uma bela condenação de regimes opressivos e desigualdade, com o bônus de belas canções ao longo do caminho.
Retomando exatamente de onde o primeiro filme parou, com um pequeno salto temporal, a de pele verde Elphaba, agora demonizada como a Bruxa Má do Oeste, vive exilada na floresta de Oz, enquanto Glinda reside no palácio da Cidade das Esmeraldas, desfrutando dos privilégios da fama e da popularidade. Elphaba tem trabalhado para revelar o fato de que o governante de Oz, o Mágico, não tem poder real e está apenas usando os habitantes não humanos (os animais que podem falar) como bodes expiatórios, retirando seus direitos e muitas vezes fazendo-os desaparecer das ruas caso se manifestem contra ele.
Essencialmente, Oz não é só magia e arco-íris; é na verdade um pouco fascista, já que muitos cidadãos consomem avidamente a propaganda que o Mágico e sua cúmplice, Madame Morrible, disseminam. Essa dupla vilanesca queria usar os poderes mágicos naturais de Elphaba para prolongar seu reinado, mas, ao descobrir o que faziam com os animais, Elphaba escolheu lutar pelo bem e repudiou o Mágico. Glinda, que também estava presente durante essa revelação, decidiu ficar ao lado do regime em troca de popularidade, reconhecimento e um poder mágico aparente, já que ela não possuía nenhum por si mesma.
Agora, ela é uma figura política decorativa, posicionada como a “Bruxa Boa” em oposição à “Bruxa Má” Elphaba aos olhos do público. As coisas chegam a um ápice de violência e caos quando o Mágico e Morrible tentam se livrar de Elphaba de uma vez por todas, forçando todos a escolherem de que lado realmente estão.
Mais sombrio que o primeiro
Enquanto Wicked (2024) parecia capaz de se sustentar sozinho como uma história completa, mesmo sem uma continuação, Wicked: For Good depende fortemente de o público ter o primeiro filme fresco na memória ao assistir. Há muitas referências a falas anteriores, e a história não oferece muita exposição ou recapitulação do filme anterior.
Portanto, se você não viu o filme de 2024 há quase um ano, definitivamente precisa revisá-lo para sentir plenamente o impacto das pequenas referências inseridas no filme de conclusão. É um filme mais sombrio do que a primeira parte, já que o regime fascista do Mágico agora está totalmente exposto, tensionando relações. Portanto, quem procura uma mistura de números mais felizes e um pouco mais de leveza ficará desapontado.
Para espectadores que querem ir direto ao cerne do que Wicked realmente aborda — a noção do que significa ser verdadeiramente “bom” diante da injustiça e as complexidades de quem se levanta e quem se torna cúmplice — ainda assim podem ficar desapontados, pois For Good turva suas águas quando se trata da mensagem.
Adaptação
Wicked é baseado no musical da Broadway de mesmo nome, que é uma adaptação mais sanitizada, condensada, coesa — e muito menos deprimente — da série de livros Wicked: The Life and Times of the Wicked Witch of the West (Maligna, em português).
A série literária é muito mais adulta, gráfica, cínica e escancarada em sua mensagem política. O musical da Broadway adicionou leveza, comédia, amizade e romance à mistura, resultando em uma história mais acessível, com uma mensagem central semelhante.
O diretor Jon Chu manteve grande parte disso, mas passa por cima de elementos e personagens-chave na segunda metade, enfraquecendo o impacto. Ele também dá mais foco a certos personagens do que a outros, resultando em uma narrativa desequilibrada.
Elphaba
Para ser claro, esta deveria ser a história de Elphaba. Embora Glinda desempenhe um papel importante na vida de Elphaba — e sua amizade seja um catalisador para certos pontos da trama — Wicked brilha quando — como na série de livros e, de muitas maneiras, no musical da Broadway — se concentra totalmente em Elphaba.
E embora a superestrela pop Ariana Grande faça um bom trabalho como a ambiciosa socialite Glinda, parece que o estúdio e Chu sentiram que Glinda precisava de um arco de personagem mais desenvolvido para evitar que fosse retratada como pouco mais do que uma cúmplice do regime fascista do Mágico. Esse aprofundamento parece ter ocorrido às custas do tempo de tela de outros personagens, como Boq e Nessa, embora seus intérpretes, Ethan Slater e Marissa Bode, façam o possível com o tempo muito limitado que têm no filme.
Pode-se argumentar de forma convincente que Cynthia Erivo, como Elphaba, simboliza a situação das mulheres negras na sociedade — um grupo frequentemente superexplorado e marginalizado que, apesar de suas próprias dificuldades, integra movimentos em busca de justiça e igualdade para todos. Glinda, por sua vez, representa um certo tipo de feminilidade branca que, equivocadamente, se alia a um sistema patriarcal e opressivo na esperança de proteção e privilégio, apesar dos prejuízos gerais.
A amizade entre elas pode ser vista como uma irmandade manchada, na qual um lado (Elphaba) demonstra solidariedade incondicional, enquanto o outro (Glinda) oferece solidariedade apenas enquanto isso não lhe for inconveniente. E embora, mesmo no espetáculo da Broadway, Glinda até consiga se acertar no final, o verdadeiro destaque de sua personagem é como ela acaba perdendo as pessoas que ama por causa de sua complacência inicial — ou mesmo apoio — à tirania.
Wicked: For Good obscurece essa perspectiva no final, dando a Glinda uma espécie de “recompensa” que ela está longe de merecer. É uma mudança em relação ao musical da Broadway — um ajuste que deveria ter sido descartado. Sem falar na canção original e desnecessária (além de insossa) do filme, “The Girl in the Bubble”, que tenta justificar de alguma forma suas decisões terríveis.
Para ser ainda mais clara: há apenas uma heroína nesta história, e seu nome é Elphaba. Glinda não é uma vítima; tampouco é muito heroína. Se comparássemos as personagens a grupos reais, Elphaba representaria os 92% das mulheres negras que continuam aparecendo para defender todos os outros durante as eleições, enquanto Glinda seria aqueles 55% das mulheres brancas que seguem apoiando a ideologia ultradireitista “trad-wife” em busca de ganhos pessoais nas urnas. Suavizar o impacto desse simbolismo não faz nenhum favor à história ou ao filme.
Uma conclusão à altura
Por alguma razão, Wicked: For Good é cerca de 30 minutos mais curto do que o primeiro filme, e essa falta de tempo é sentida. A edição parece um pouco dispersa, já que a história salta de um lugar para outro. O primeiro filme se beneficiou do fato de grande parte da trama ocorrer na Universidade Shiz. Ainda há momentos visualmente deslumbrantes, mas, como no primeiro longa, algumas cenas parecem esmaecidas ou escuras demais.
Cynthia Erivo continua brilhando como a incompreendida Elphaba na segunda parte, à medida que ela chega a novas percepções sobre si mesma relacionadas à autopreservação e à alegria — que também pode ser um ato de rebeldia em um mundo que deseja vê-la sofrer. Elphaba também ganha uma nova canção original, “No Place Like Home”, que se encaixa bem na trama à medida que ela tenta convencer muitos dos animais a não fugirem de Oz, mas a ficarem e lutarem pelo sonho do que seu país pode realmente ser.
É um ponto muito relevante para o nosso cenário político atual. Afinal, como o Mágico aponta, muito do que ele sabe sobre opressão e propaganda ele aprendeu no lugar de onde veio originalmente — o nosso mundo não-mágico.
Há momentos como esses, entrelaçados ao longo da trama, que ajudam a reforçar a mensagem importante de que, embora Oz possa ser um lugar fictício, muito do que ele enfrenta é bastante real.
Os melhores números musicais para ficar de olho são “As Long as You’re Mine”, um poderoso dueto entre Elphaba e Jonathan Bailey como Fiyero, e o solo de Erivo em “No Good Deed”.
No geral, apesar de algumas falhas, Wicked: For Good é uma conclusão à altura de uma bela história sobre uma jovem que ousou ser “má” em nome do verdadeiro “bem”.
Chauncey K. Robinson é uma jornalista e crítica de cinema premiada.
Texto traduzido do People´s World por Luciana Cristina Ruy
Veja aqui o trailer de Wicked: For Good
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