PUBLICADO EM 18 de out de 2024
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Filme mostra que o jogo do capital nunca é justo para quem vive do trabalho

O jornalista Marcos Ruy comenta o filme Jogo Justo, uma produção impactante que expõe a desumanização do sistema capitalista e suas consequências.

Filme Jogo Justo. Foto: Netflix

Filme Jogo Justo. Foto: Netflix

Por Marcos Aurélio Ruy

Jogo Justo (2023), com roteiro e direção de Chloé Domont, é um desses filmes no limiar entre o entretenimento e a obra autoral. Em cartaz na Netflix, a produção estadunidense mostra a desumanização do sistema capitalista que só vê pela frente números e descarta qualquer trabalhador que não lhe serve mais.

No caso em pauta, uma empresa do mercado financeiro, sequiosa de mais lucros a qualquer preço, promove Emily, interpretada por Phoebe Dynevor, a um cargo de direção importante, após demitir de maneira traumática o homem que ocupava essa vaga porque já havia completado dois anos na empresa.

Desse jeito, a agência matou dois coelhos numa cajadada só. Demitiu um funcionário para manter os salários em níveis mais baixos e promoveu uma mulher para ficar bem na fita, para o mercado, por ter mulheres em cargos de direção, sem se importar se era a única em meio a dezenas de homens. Como deixa claro o poderoso chefão Campbell, interpretado por Eddie Marsan.

Com a promoção, Emily passa a enfrentar problemas no relacionamento com o namorado e colega de trabalho Luke, interpretado por Alden Ehrenreich. O ciúme de Luke ganha força com os comentários maldosos de seus colegas na empresa, porque uma mulher ser promovida só poderia ser sinal de que estava mantendo um relacionamento com o chefe.

A vida de Emily remonta à vida das mulheres que têm mais pedras no caminho da ascensão na carreira do que os homens, até em atividades com maioria de mulheres, ao mostrar a postura agressiva de seu companheiro (com relacionamento escondido, pois a empresa não permitia que funcionários se relacionassem entre si), que acreditava ser ele o merecedor da promoção.

O filme aponta que a luta das mulheres contra o patriarcado se insere no contexto de luta de classes, porque o capitalismo usa o preconceito e a discriminação para facilitar a sua exploração de quem só tem sua força de trabalho para vender. O jogo é sempre muito injusto e mais ainda para as mulheres, porque o patriarcado fomenta a masculinidade tóxica para manter as mulheres sob o tacão da submissão.

Mas a toxidade não se estabelece apenas na questão sexual. Mas também no relacionamento com os que eles chamam de “colaboradores” (entenda-se trabalhadoras ou trabalhadores com contratos muitas vezes sem vínculo empregatício, inclusive), que ficam com a vida submetida aos interesses da empresa.

Filme Jogo Justo mostra um ambiente de trabalho tóxico

Filme Jogo Justo mostra um ambiente de trabalho tóxico

Tanto que Campbell liga para Emily às duas horas da manhã para chamá-la a uma conversa num bar, como se isso fosse normal num relacionamento de trabalho, e então lhe comunica a promoção. O que mostra uma subordinação extrema de seus “colaboradores”.

Essa exacerbação da dominação sobre a força de trabalho comprada pelo capital chega às vias do assédio moral, quando Emily desaponta o chefão ao errar num prognóstico, e ele sente a necessidade de mostrar o seu poder e humilhá-la. O assédio aconteceria fosse quem fosse o funcionário subordinado, mas por se tratar de uma mulher a violência foi maior.

Jogo Justo leva a pensar sobre a importância de um movimento sindical forte e atento às novas formas que o capital encontrou para explorar o trabalho. Até porque como diria Karl Marx, é impossível humanizar o capitalismo, sistema que vive da exploração das pessoas que vivem do trabalho, invariavelmente na labuta cotidiana pela sobrevivência.

Atenção: quem não tem Netflix pode tentar assistir a obra online.

Assista aqui o trailer do filme:

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  • Ana Tomas

    Filme ótimo!Concordo com suas colocações! A mulher, em muitas empresas, ainda é desvalorizada e desacreditada quando ocupa um cargo de direção.

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