PUBLICADO EM 23 de jun de 2025

EUA querem excluir Irã da rota da seda com Rússia-China; diz analista

Rota da seda está sendo construída pela China com apoio do Brics

Rota da seda está sendo construída pela China com apoio do Brics

A entrada direta dos Estados Unidos (EUA) no conflito entre Israel e Irã é parte do esforço de Washington para retirar o país persa da rota econômica construída pela China e pela Rússia na região da Eurásia, que é o território que une a Europa com a Ásia. Essa é a avaliação do historiador e pesquisador de conflitos armados e de geopolítica, o delegado Rodolfo Queiroz Laterza.

“Os EUA estão se reorientando para um confronto de longo prazo na região da Ásia-Pacífico e tentando retirar o Irã do contexto geoeconômico construído pela China e pela Rússia através da rota Transcaspiana, que alijaria a Europa e as rotas comerciais controladas pelo eixo atlanticista [do Atlântico Norte, ou seja, dos EUA e da Europa]”, explicou.

A rota Transcaspiana é uma rota comercial do sudeste asiático que liga a China com a Europa via Cazaquistão, Azerbaijão, Mar Cáspio e Turquia, entre outros. Para Laterza, a entrada dos Estados Unidos no conflito deve ser analisada no contexto de uma nova ordem mundial emergente onde a desintegração da globalização sugere a criação de blocos econômicos regionais rigidamente controlados.

Nesse cenário, o corredor comercial euroasiático é chave e um dos objetivos da guerra contra o Irã seria excluir o país persa desse processo de integração econômica.

“O Irã alavancaria a iniciativa da Rota da Seda e a União Econômica Eurasiática, a qual o Irã teve adesão ano passado no formato de acordo de livre comércio”, completou o especialista.

A Rota da Seda é a iniciativa da China, criada em 2013, para conectar, por meio de projetos de infraestrutura, sua economia com a de outros países. O Irã é visto como um parceiro estratégico da China na Nova Rota da Seda.

Já a União Econômica Eurasiática (UEE) é uma aliança comercial iniciada em 2015 que busca conectar estados asiáticos como Cazaquistão, Quirguistão e Armênia aos europeus Rússia e Belarus, criando esse corredor econômico euroasiático. O acordo da UEE com o Irã entrou em vigor em maio deste ano.

“O verdadeiro objetivo estratégico é a sobrevivência econômica dos EUA. Portanto, eles buscam cortar o fornecimento de petróleo em condições favoráveis para a Europa e a China, forçando ambos a aceitarem termos comerciais rigorosos – tarifas em troca de acesso renovado aos fluxos de energia”, analisou.

Essa avaliação diverge das narrativas oficiais, que sustentam que a guerra é movida para impedir o programa nuclear do Irã de chegar a uma bomba nuclear, o que o Irã sempre negou. Em 2018, no primeiro governo Trump, os EUA se retiraram, sem consultar seus parceiros, do acordo nuclear firmado em 2015 com Irã, que contou com apoio da França, Reino Unido, Alemanha, Rússia e China.

A avaliação de Laterza faz parte de uma corrente de opinião que sustenta que a emergência econômica, militar e tecnológica da China ameaça a hegemonia que os Estados Unidos exercem sobre a economia global, o que teria levado o país a impor tarifas comerciais unilaterais e atacar iniciativas globais de integração como o Brics, ao qual o Irã se integrou no ano passado.

Longo prazo

Para o analista, a guerra contra o Irã deve ser avaliada ainda tendo em mente a estratégia de longo prazo dos EUA de se retirar completamente do Oriente Médio, onde mantém diversas bases militares.

“Para isso, seria preciso não deixar nenhuma infraestrutura intacta para trás. Isso garantiria que nenhum rival, seja China ou Rússia, pudesse explorar o que resta e minaria o eixo geoeconômico construído pela China e Rússia”, diz Laterza.

Fonte: Agência Brasil

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