As escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro incendiaram o sambódromo neste domingo, na primeira das duas noites de desfile, que teve conotação de crise política e social.
Carros que criticavam o prefeito evangélico Marcelo Crivella, que cortou a verba para os desfiles, ou exibiam o presidente Michel Temer como um vampiro foram alguns dos destaques da noite.
A Paraíso do Tuiuti apresentou um enredo com o tema “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”, que lembrou que, este ano, completam-se apenas 130 anos desde o fim desta forma de exploração humana no Brasil, sem que suas sequelas tenham sido eliminadas.
Várias alas foram dedicadas a lembrar este fato, como o alto nível de desigualdade social, a exploração do trabalho rural e em oficinas industriais, e o trabalho informal. Também denunciaram a recente reforma trabalhista, que flexibilizou as normas de contratação e demissão.
Em um dos carros alegóricos, uma figura de “Drácula” ganhou os traços do presidente Michel Temer. Apesar da clara referência ao emedebista, o destaque do carro, um homem pálido e vestindo terno e uma faixa presidencial verde e amarela cheia de cédulas de dinheiro, foi chamado oficialmente pela escola de “Vampiro do Neoliberalismo”.
O protesto “é um caminho que as escolas retomam, porque têm um papel social: reivindicar a voz das pessoas mais pobres”, disse o professor de história Leo Morais, 39, que interpretou o Drácula.
Confira a letra do samba enredo:
Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?
Irmão de olho claro ou da Guiné
Qual será o valor?
Pobre artigo de mercado
Senhor eu não tenho a sua fé, e nem tenho a sua cor
Tenho sangue avermelhado
O mesmo que escorre da ferida
Mostra que a vida se lamenta por nós dois
Mas falta em seu peito um coração
Ao me dar escravidão e um prato de feijão com arroz
Eu fui mandinga, cambinda, haussá
Fui um rei egbá preso na corrente
Sofri nos braços de um capataz
Morri nos canaviais onde se planta gente
Ê calunga!
Ê ê calunga!
Preto Velho me contou, Preto Velho me contou
Onde mora a senhora liberdade
Não tem ferro, nem feitor
Amparo do rosário ao negro Benedito
Um grito feito pele de tambor
Deu no noticiário, com lágrimas escrito
Um rito, uma luta, um homem de cor
E assim, quando a lei foi assinada
Uma lua atordoada assistiu fogos no céu
Áurea feito o ouro da bandeira
Fui rezar na cachoeira contra bondade cruel
Meu Deus! Meu Deus!
Se eu chorar não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social
Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião
Meu Tuiuti o quilombo da favela
É sentinela da libertação
Confira o vídeo da íntegra do desfile, divulgado pelo canal Enredo e Samba, no Youtube:
https://youtu.be/RkVKiEzQMUw
Val Gomes
A escola também trouxe os coxinhas/patos da Fiesp do impeachment, manipulados pelas mãos “visíveis” do mercado etc.