O afastamento de Maurício Souza e a posterior rescisão de seu contrato com o time masculino de vôlei do Minas Tênis Clube depois de reiteradas declarações homofóbicas nas redes sociais foi resultado de pressão da opinião pública e, especialmente, dos dois principais patrocinadores da equipe mineira. Essa cobrança das empresas só tem ocorrido com mais veemência graças à comunicação rápida nas redes sociais, avalia o especialista em marketing Fábio Wolff.
“As redes sociais possibilitaram isso. A comunicação é rápida e a sociedade está evoluindo no sentindo de não permitir que algumas coisas que no passado eram relativamente comuns no passo ou até mesmo corriqueiras, mas que hoje reverberam de maneira muito mais forte, pois cada um tem a sua voz e seu poder de manifestação”, observa Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports & Marketing.
“A sociedade hoje não tolera mais esse tipo de atitude, de postura. As pessoas expõem suas opiniões e cobram das empresas ou marcas um posicionamento. E querem empresas que se posicionam”, completa.
A Fiat salientou que repudia “qualquer tipo de declaração que promova ódio, exclusão ou diminuição da pessoa humana”. A Gerdau afirmou sua posição contrária a “qualquer tipo de manifestação de cunho preconceituoso ou homofóbico” e garantiu ser compromissada “com a diversidade e inclusão, um valor inegociável para a companhia”.
A publicação que resultou na demissão de Maurício Souza criticando a nova versão de quadrinhos do Super-Homem, na qual o herói é bissexual, foi feita há 15 dias em seu Instagram. O Minas só afastou o central na terça e decidiu romper o vínculo do atleta nesta quarta. E só fez isso depois que a Fiat e Gerdau, patrocinadores do clube, divulgaram notas oficiais deixando claro que não compactuam com qualquer tipo de preconceito. Wolff entende que a decisão foi acertada, embora tenha sido tomada com lentidão.
“A solução encontrada pelo Minas foi adequada, mas demorou para acontecer. E esse atraso, esse vaivém, acabou deixando a população e o mercado discutindo uma situação sem entender qual era de fato a posição do clube. Foi uma resposta muito lenta”, opina.
O Minas disse que “não aceita e não aceitará manifestações intolerantes de qualquer forma” e prometeu que intensificará “campanhas internas em prol da diversidade, respeito e união, por serem causas importantes e alinhadas com os valores institucionais”.
O atleta foi multado e orientado a se retratar. Primeiro, fez uma retratação tímida no Twitter, plataforma que pouco utiliza e na qual tinha menos de 100 seguidores no momento da publicação. No dia seguinte, voltou a pedir desculpas, desta vez por meio de um vídeo no Instagram onde fizera as postagens preconceituosas, mas novamente de forma protocolar e em muitos momentos se colocando como vítima. Não convenceu a opinião pública, os patrocinadores e o Minas, que anunciou sua dispensa minutos depois de o jogador fazer a publicação.
No vídeo no Instagram, o central passou a mensagem de que não estava arrependido e lamentou por, na sua visão, não poder expressar o que acredita ser a sua opinião. O central reclamou que “não pode mais dar a opinião” e “colocar os valores de família acima de tudo”. “Senão a gente é taxado de homofóbico, preconceituoso. Eu não concordo com isso”, contestou. “Infelizmente chegamos a esse ponto. Os patrocinadores repudiaram. Não sei o que fiz, se foi algum crime. Se fosse algum crime a polícia já teria vindo aqui em casa me prender. Apenas defendi o que acredito e coloquei a minha opinião”, completou.
Wolff entende que um caso semelhante a esse no futebol também poderia ter o mesmo desfecho. Para citar dois episódios de preconceito no futebol, Danilo Avellar foi dispensado pelo Corinthians depois de comentários racistas em um jogo virtual e Robinho, ídolo do Santos, encerrou sua quarta passagem pela equipe sem entrar em campo. A torcida e os patrocinadores fizeram pressão e exigiram a suspensão do vínculo em decorrência de o jogador ter sido condenado por estupro em primeira e segunda instância na Itália. “É difícil e cada caso é diferente do outro, dependendo da situação e do jogador”, pontua.
Fonte: Estadão