Por Carolina Maria Ruy
Transformador, selvagem e violento, o processo de ocupação do Oeste nos EUA é um tonel de lendas e de histórias. Histórias de honra e de traições, mas, acima de tudo, histórias de mudanças, do advento de novos tempos, do início de novas histórias.
O Oeste imaginário é alaranjado pelo encontro do sol com a terra no vazio. É distante, vasto, desconhecido. É o que restou de intocado do Novo Mundo. Por outro lado, o Oeste inspira oportunidades, empreitada, tomadas de posse. Inspira trabalho por fazer, lapidação da pedra bruta. Mantém ares de Eldorado.
Em Era uma Vez no Oeste, Sergio Leone traduziu este espírito para o cinema. Seu enredo é elementar: a ex-prostituta de New Orleans, Jill, larga a vida na cidade grande para casar com Brent McBain, dono da fazenda Água Doce, no vazio do Oeste.
Ao chegar à fazenda ela se depara com a mais crua verdade daquele lugar sem lei. Sua nova família jaz morta sobre as mesas de sua festa de casamento. A questão é: quem foi o mandante? E por quê? Algumas possibilidades se revelam e a narrativa se desenvolve.
Jill toma a frente dos negócios de seu ex-noivo e percebe que está diante de um projeto com grande potencial, pois, quando construída, a ferrovia deveria passar necessariamente por sua propriedade, já que ali havia água.
Mas o empreendimento deflagra um processo de choques de interesses, contra o qual Jill deve lutar. Ela simboliza a prosperidade do local. Simboliza os novos tempos.
A tradução correta do título em italiano (C´era una volta il west), que significa Era uma Vez o Oeste, faz alusão ao fim do Oeste e à vinda do progresso. E o Oeste em questão corresponde à parte ocidental dos EUA, a partir do Mississippi, do período anterior à Guerra Civil Americana até a virada do século XX. O western (que significa ocidental) refere-se à fronteira do Oeste norte-americano durante a colonização. Evoca o tempo da ocupação de terras, do estabelecimento de grandes propriedades de criação de gado, das lutas com os índios e a sua segregação, das corridas ao ouro na Califórnia etc.
Com o tempo, a fronteira converteu-se num mito nos Estados Unidos. A conquista do Oeste passou a figurar como referência a certos valores do país, como a criação de oportunidades, o pragmatismo, a capacidade de inovação e o esforço orientado para o progresso. Para o bem e para o mal este mito é a base do self-made man típico dos EUA. Tanto para o empreendedor visionário e idealista quanto para o sanguinário justiceiro.
Era uma Vez no Oeste (C´era una volta il West )
Itália, EUA, 1968
Direção: Sergio Leone
Elenco: Charles Bronson, Henry Fonda, Jason Robards e Claudia Cardinale
Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical. Do livro “O mundo do Trabalho no cinema”, publicado por Centro de Memória Sindical
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