Durante a pandemia, os trabalhadores do ramo foram considerados essenciais. Havia alguma expectativa de que o emprego no transporte urbano apresentasse alguma melhora no período, com mais ônibus circulando para reduzir aglomerações dentro dos veículos. Mas ocorreu o contrário.
A frota foi reduzida pelos empresários, a superlotação deu o tom no transporte urbano durante a pandemia, provocando revolta e desespero em capitais como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Salvador e Brasília, entre outras.
A regra na capital fluminense que impõe um limite de dois passageiros em pé por metro quadrado virou piada. Em Salvador e no Distrito Federal, a distância de um metro e meio entre as pessoas estabelecida pelas autoridades não saiu do terreno da ficção. As autoridades em geral são coniventes com o lucrativo caos.
Superlotação
Em Belo Horizonte, pesquisa realizada pelo Movimento Tarifa Zero revelou 93% dos usuários reclamando que andaram em veículos lotados durante a pandemia e 91% deles disseram ter esperado mais de 30 minutos por um ônibus.
Já 80% dos passageiros afirmaram que os horários de partidas das linhas não estavam sendo respeitados. A redução no quadro de horários dos ônibus no período foi criticada por 72% dos entrevistados. Note-se que foi na capital mineira que empresários de transportes patrocinaram uma vacinação ilegal de burgueses privilegiados que furaram a fila do SUS e são hoje alvo de investigação da Polícia Federal.
A lógica capitalista faz com os empresários desprezem a vida da população e dos trabalhadores no afã de maximizar os lucros. A BHTrans já aplicou nada menos que 12,364 autuações aos consórcios que exploram o sistema de transporte urbano na capital mineira por descumprimento das medidas voltadas à prevenção da disseminação da epidemia de Covid-19.
A superlotação é um completo contrassenso especialmente neste momento de pandemia, em que é fundamental evitar aglomerações humanas. Para contorná-la seria preciso aumentar a frota e contratar mais motoristas e cobradoras, mas a iniciativa privada está fazendo precisamente o contrário.
Emprego, saúde e vida
Focadas exclusivamente na redução de custos e aumento de lucros as empresas privadas não relutaram em sacrificar o emprego da categoria, ao mesmo tempo em que transformaram o sistema de transporte urbano num repasto para a Covid-19, colocando em risco a saúde e a vida de trabalhadores e usuários.
São Paulo lidera o ranking das demissões na categoria em 2020, ano em que registrou a destruição de 10.435 mil postos de trabalho, sendo 3.403 cobradores e 7.032 motoristas. É seguido pelo Rio de Janeiro, com um total de 9.262 (2.040 cobradores e 7.222 motoristas), Minas Gerais (5.339 vagas a menos, sendo 2.529 de cobradores e 2.810 de motoristas), Rio Grande do Sul (saldo de 4.378 demissões, 2.009 cobradores e 2.369 motoristas) e Pernambuco (3.963 demissões, sendo 2.290 cobradores e 1.673 motoristas).
Fonte: Portal CTB