PUBLICADO EM 27 de dez de 2022
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Elon Musk está transformando o Twitter em um espaço livre para fascistas

Por John Bachtell (People’s World)

Algum bilionário já destruiu um investimento e bem público mais depressa do que Elon Musk está destruindo o Twitter? Além de especulações sobre porquê o capitalista mais rico do mundo comprou o Twitter por $44 bilhões, uma coisa é clara: a plataforma está indo pelo esgoto rapidamente, e muitos se perguntam se ela vai sobreviver.

Desde 27 de outubro, Musk demitiu metade da equipe, incluindo os responsáveis por monitorar e remover o conteúdo de ódio. Consequentemente, posts racistas, misóginos, antissemitas, anti-LGBTQ, e anti-trans explodiram. Musk se aliou publicamente com o movimento trumpista “Fazer a América Grande de Novo”, com a extrema direita global, e com regimes autocráticos, incluindo a monarquia Saudita, que ajudou a financiar a aquisição, em tweets e feitos.

Anteriormente, o Twitter fez algumas tentativas de regular o conteúdo, mas Musk está desmantelando a regulação e restabeleceu 62.000 contas suspensas por discurso de ódio, incluindo a de Donald Trump, Marjorie Taylor Green e outros fascistas, do movimento “Fazer a América Grande de Novo,” e escória neonazista.

“Elon Musk mandou o Bat-sinal para todo tipo de racista, misógino, e homofóbico de que o Twitter está aberto para negócios,” disse Imran Ahmed, chefe executivo do Centro para Conter o Ódio Digital. Posts com desinformação sobre a COVID-19 e outras domésticas e estrangeiras e teorias da conspiração do QAnon estão surgindo.

Usuários enojados estão fugindo do Twitter em massa, procurando por novas plataformas que ofereçam um ambiente seguro e “praça pública” democrática, como o The Post e Mastodon. O consequente caos está levando a grandes anunciantes corporativos a congelar as compras de anúncios.

A compra de Musk e a rápida remodelação do Twitter em uma latrina da extrema direita é inseparável da concentração global capitalista de riqueza e poder e a agressão por bilionários de extrema direita a democracia constitucional, as instituições democráticas, o estado de direito, e a transferência de poder pacífica.

“Isso é emblemático dos oligarcas da tecnologia acumulando tanto poder e influência,” disse Thomas Zimmer, professor da Universidade de Georgetown, que chama o Twitter de a principal plataforma política crítica no mundo. Zimmer é coapresentador do podcast “Is This Democracy?”, com Perry Bacon, Jr., e Lilliana Mason. “Oligarcas da tecnologia entram sem cheques e saldos, e não guiados pelo bem público,” ele disse.

Musk dizima os aspectos democráticos e enorme potencial do Twitter impondo suas visões de extrema direita e hierárquicas a plataforma. A degradação começou muito antes de Musk, mas acelerou sob seu breve comando.

“Musk esteve em uma trajetória para a direita por algum tempo,” disse Zimmer. “Não é coincidência que a direita trumpista o queira no comando do Twitter e está bom para eles. Musk, como Peter Thiel e outros libertários, se tornam direitistas extremos, miram remover todas as regulações e manter hierarquias tradicionais (de classe, racial, de gênero).” Eles estão em alinhamento com regimes autocratas e com a extrema direita global.

Como muitos usuários, eu tenho uma relação de amor e ódio com a plataforma. Como um jornalista ativista, eu aprecio o papel positivo que o Twitter desempenha na sociedade civil. Ele tem um amplo uso prático. Por exemplo, gerenciadores de emergências o usam para coletar informações e responder a crises e desastres naturais. Governos e oficiais eleitos o usam para informar ou interagir com o público.

Mas o Twitter também permite o trabalho organizacional, político e ideológico de movimentos democráticos de massa e fornece uma plataforma para vozes marginalizadas que não são ouvidas nas mídias tradicionais.

Através do Twitter, eu sou parte de numerosas comunidades online prósperas. Eu posso me conectar e aprender de uma diversidade de principais ativistas, acadêmicos, legisladores, cientistas, trabalhadores culturais, organizações, e analistas políticos no mundo todo, incluindo muitos que eu nunca teria conhecido. Eu valorizo as últimas notícias e tweets ao vivo de protestos, campanhas eleitorais, conferências de imprensa, e fóruns.

“O Twitter democratizou o nosso discurso,” disse Bacon. “Pessoas que não tinham muita influência podem ter seus comentários, se eles fossem interessantes o suficiente, ser ouvidos amplamente. Muito da organização inicial em torno do “Vidas Negras Importam” aconteceu lá. Os protestos de 2020 depois do assassinato de George Floyd não acontecem do mesmo modo (sem o Twitter).” Musk não tem consideração por essas vozes, disse Bacon, que se preocupa que o discurso vai desaparecer.

Há muita apreensão sobre a perda e devastação de todas essas redes que nós construímos através        dos anos, disse Mason. “Musk está trazendo muito caos e incerteza que muitos desses grupos sentem que estão sendo enfraquecidos. (Parece que) a perda de toda uma comunidade é inevitável e ninguém sabe o que fazer agora. Para a democracia, parece que nós podemos perder muitas vozes,” ele disse.

O Twitter também é uma ferramenta em guerra de informação e doutrinação em massa, incluindo por bilionários, movimentos e regimes autocráticos de extrema direita. Musk está trabalhando para fazê-lo parte de uma vasta mídia de direita e ecossistema de propaganda e espera atrair outros investidores de direita. Esse ecossistema inclui Fox News, Infowars, Breitbart, Newsmax, salas de chat online fascistas, boletins informativos Substack, podcasts, e outros canais independentes.

Eu testemunhei o ódio, a intolerância generalizada, e bullying e eu vi como trolls de direita e extrema esquerda promoveram discurso tóxico atacando cruelmente usuários, incluindo eu mesmo. Fascistas do movimento “Fazer a América Grande de Novo” usam o Twitter para instigar a violência. O dano causado por conspirações do QAnon e desinformação está bem documentado, incluindo a interferência russa nas eleições em 2016, 2018, 2020 e 2022 e na votação do Brexit.

Rumores e desinformação também afetam o trabalho de socorristas, gerenciadores de emergências, e trabalhadores humanitários. “A informação errada e a desinformação podem infligir dano em organizações humanitárias,” disse Robert Mardini, o diretor geral do Comitê Internacional da Cruz Vermelha. “Quando a Cruz Vermelha ou parceiros do Movimento da Cruz Vermelha Crescente Vermelho encaram falsos rumores sobre nosso trabalho ou comportamento, isso pode colocar a segurança de nossas equipes em perigo.”

A degradação ocorrendo no Twitter está acontecendo em vários graus com outros pilares das mídias sociais da praça pública moderna. Gerentes de fundos de hedge estão atrapalhando o fluxo de informações comprando jornais legados e estripando-os para lucrar, deixando comunidades sem notícias locais de qualidade e jornalistas profissionais desempregados.

Plataformas de mídias sociais como o Twitter e o Facebook, sob o controle de bilionários, tem contribuído para a extrema polarização política. A demanda por lucros cria algoritmos que dirigem o comportamento dos usuários. Os usuários respondem ao ódio e as ofensas e ficam presos em uma “casa de espelhos” de informação. Os debates escalam rapidamente para níveis tóxicos, criam polarização, e minam a sociedade civil e a democracia.

A jornalista, ativista e ganhadora do prêmio Nobel da Paz filipina, Maria Ressa, diz que a posse das mídias sociais por bilionários e a ascensão dos ditadores andam juntas. “Um habilita o outro,” Ressa disse a Steven Colbert no The Late Show. “Há uma razão porquê 60% do mundo está sob governos autoritários e o número de democracias voltou para os níveis de 1989.”

Em 2016, Ressa pediu por um fim para a brutal guerra às drogas do Presidente Rodrigo Duterte e da dominação da mídia social do Facebook da sociedade filipina. Nas Filipinas, 100% dos residentes têm conta no Facebook, e a Meta, a dona do Facebook, acumulou seus interesses, redes e hábitos para gerar lucros.

Ela descreveu os paralelos com os eventos nos EUA levando a violenta insurreição de 6 de janeiro. A mesma metodologia estava em jogo “nas redes sociais de baixo para cima,” disse Ressa. “Uma mentira contada um milhão de vezes se torna um fato, então vem de cima para baixo do Presidente, e então você não tem ideia de onde está a verdade. Nós vimos que a sociedade estava estilhaçando.”

“Sem acordo sobre os fatos, nós não temos realidade compartilhada e não há democracia,” disse Ressa. “As mídias sociais chegaram e usaram a liberdade de expressão para sufocar a liberdade de expressão.” Ódio, ultraje, mentiras, raiva, e medo mantém as pessoas nas mídias sociais e geram lucros, e as empresas de mídias sociais não são responsabilizadas.

As plataformas de mídias sociais são um bem público essencial em uma sociedade democrática moderna. Estudos mostram, por exemplo, que a inspiração viaja mais rápido que as mentiras. Designers de softwares e engenheiros construíram as plataformas, e bilhões de usuários as moldaram às necessidades da sociedade.

A luta para refrear o poder das corporações tecnológicas gigantes e bilionários da tecnologia e regular as plataformas de mídias sociais é um aspecto crítico da luta pela democracia, especialmente a luta para repelir o movimento fascista “Fazer a América Grande de Novo” e a agressão de bilionários de extrema direita que despertou milhões a ação.

Para alcançar seu potencial como um bem público, o público deve liberta-las de posse privada e ganância corporativa. Posse pública ou cooperativa, regulação democrática, ou algum status quase em lucro com conselhos administrativos públicos, similar a NPR ou PBS, é um modo melhor de assegurar seu papel positivo. Democratizar o fluxo de informações e as plataformas de mídias sociais é necessário para democracia política e econômica completa.

John Bachtell é presidente da Long View Publishing Co., editora do site People’s World.

Fonte: People’s World

Tradução: Luciana Cristina Ruy

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