Por Carolina Maria Ruy
Baseado na peça homônima de Gianfrancesco Guarnieri (que estreou no Teatro de Arena, em 1958), o filme registra, através da história fictícia sobre a relação entre o operário e líder sindical Otávio e seu filho, o jovem operário Tião, a vida operária tendo como pano de fundo greve dos metalúrgicos de São Paulo em 1979, no período final da ditadura militar no Brasil (1964/1985).
O momento era apropriado. O Brasil vivia as grandes greves operárias do final da década de 1970, que colocaram em xeque o projeto de abertura controlada da ditadura militar. O novo protagonismo operário foi fundamental para a derrota da ditadura.
Ao retratar os metalúrgicos de SP, não de SBC, ele mostra como aquele movimento foi complexo e se espalhou pelo estado e pelo país e como em cada lugar a luta acontecia de forma diferente.
O central em Eles não usam black-tie é a dificuldade de organização. São os embates, não só entre os trabalhadores e os patrões ou entre os sindicalistas e a ditadura, mas entre os próprios trabalhadores e sindicalistas que divergiam muito por causa de visões políticas e sobre a estrutura sindical.
A morte do ativista Santo Dias naquela greve é representada pelo ator Milton Gonçalves (Monte Santo de Minas, 9 de dezembro de 1933 – Rio de Janeiro, 30 de maio de 2022), que encarna o perfil conciliador e apaziguador do metalúrgico que foi assassinado com um tiro da polícia em outubro de 1979.
O tema de Eles Não Usam Black-tie é a luta de classes, a exploração da mão de obra e a velha contradição entre o capital e o trabalho, mostrando vidas em que o trabalho pesado e o dinheiro escasso dão base para a história. E também a contradição que existe na luta operária; no filme, por exemplo, ela gira em torno da relação entre o operário, dirigente sindical e líder grevista Otávio, e seu filho, o jovem operário Tião. Um fura-greves submetido à lógica patronal.
Confira o trailer
Eles Não Usam Black-tie
Brasil, 1981
Direção: Leo Hirszman
Elenco: Gianfrancesco Guarnieri, Fernanda Montenegro, Milton Gonçalves, Carlos Alberto Riccelli, Bete Mendes
Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical. Do livro “O mundo do Trabalho no cinema”, publicado por Centro de Memória Sindical