PUBLICADO EM 25 de nov de 2024
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Eleição de Trump fomenta racismo e misoginia nos EUA

Descubra os impactos da eleição de Trump e como seus indicados estão promovendo racismo e o sexismo abertamente.

Eleição de Trump fomentou movimentos racistas, misóginos e contra minorias. Foto: Pexels

Eleição de Trump fomentou movimentos racistas, misóginos e contra minorias. Foto: Ivan Samkov, Pexels.

A galeria de personagens que Donald Trump está preenchendo com possíveis indicados para seu gabinete antecipa a ofensiva de políticas anti-povo que está por vir, quando ele assumir o poder em janeiro. Mas a base fascista já começou a agir antes disso. Online, nas escolas e nas ruas, o terror de Trump já está em andamento.

Enquanto analistas e economistas debatem os fatores financeiros e outros que podem ter convencido milhões de pessoas a votar em Trump na última semana, é inegável que, para os leais hardcore do MAGA, o racismo e o sexismo abertos do candidato republicano foram alguns dos incentivos mais importantes que os levaram às urnas.

Com seu líder prestes a voltar à Casa Branca, esses grupos estão se sentindo encorajados e intensificando suas ameaças e intimidações contra pessoas negras, imigrantes e mulheres.

FBI investiga racismo

Na manhã de 6 de novembro, logo após a vitória de Trump, mensagens de texto contendo variações da seguinte mensagem começaram a ser enviadas para afro-americanos – incluindo crianças e estudantes em universidades historicamente negras (HBCUs) – em várias partes do país:

“Saudações,

Você foi selecionado para colher algodão na plantação mais próxima. Esteja pronto às 13h00 EM PONTO com seus pertences. Nossos Escravos Executivos virão buscá-lo em uma van marrom, esteja preparado para ser revistado ao entrar na plantação. Você pertence ao Grupo C da Plantação. Bom dia.”

O FBI, os procuradores-gerais da Virgínia, Ohio e Washington, D.C., além de várias escolas e universidades, estão investigando o caso. Essas mensagens de spam foram relatadas em pelo menos dez estados e ocorreram após uma onda de ameaças de bomba que visaram locais de votação predominantemente negros no Dia da Eleição.

Maldade que remonta à era pré-Jim Crow

O presidente e CEO da NAACP (Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor, em inglês: National Association for the Advancement of Colored People), Derrick Johnson, destacou que essas mensagens e ameaças “perpetuam um legado de maldade que remonta à era pré-Jim Crow.”

Enquanto isso, protestos chamados “Fechem a Fronteira” em Massachusetts e outros lugares estão mirando imigrantes e fomentando apoio aos esquemas de deportação de Trump e seu novo “czar da fronteira”, Tom Homan. Em Boston, um evento no domingo criticou a governadora democrata Maura Healey, que se recusou a comprometer recursos estaduais para qualquer operação de deportação em massa.

Entre os gritos dos manifestantes, destacaram-se frases como: “Eles todos deveriam sair daqui.” Esses protestos iniciais são provavelmente apenas um prenúncio do que está por vir nos próximos meses, quando vários estados e cidades devem resistir às ações anti-imigrantes planejadas por Trump.

Slogan pró-estupro

No entanto, o poder motivador da misoginia tem sido o mais evidente nos últimos dias. “Seu corpo, minha escolha” – o novo slogan pró-estupro da base de Trump – inundou as redes sociais e já chegou ao mundo real.

O influencer Nicholas Fuentes publicou no X, em 5/11/2024 a frase "Your Body, my choice. Forever"

O influencer Nicholas Fuentes publicou no X, em 5/11/2024 a frase “Your Body, my choice. Forever”

Esse novo mantra do MAGA é uma distorção cruel do slogan “meu corpo, minhas escolhas”, que afirma a autonomia das mulheres sobre seus corpos e seus direitos reprodutivos e sexuais.

O supremacista branco e ex-convidado de Trump para jantar, Nick Fuentes, cunhou a frase na noite da eleição, postando no X: “Seu corpo, minha escolha. Para sempre.” A declaração de supremacia masculina sobre as mulheres não é surpresa, já que Trump, um condenado por abuso sexual, construiu sua campanha apelando à misoginia e a uma ordem de gênero hierárquica.

Homens pró-Trump adotaram o slogan, que está se espalhando rapidamente. A “Groyper Army” – formada por trolls online, homens da Geração Z, nacionalistas brancos, fãs de Elon Musk e outros – vê o retorno de Trump ao poder como sua chance de tornar a supremacia masculina novamente dominante na sociedade. Camisetas e bonés com o slogan já estão sendo vendidos.

Esses sucessores do fenômeno “alt-right” de 2016-17 operam com memes, “piadas” e sarcasmo aparente, mas a política por trás dessa fachada humorística é mortalmente séria. Eles buscam normalizar a ideia de que a autonomia corporal das mulheres é condicional e que essas condições devem ser ditadas por homens.

Mulheres e meninas estão sendo atacadas e provocadas com o slogan no TikTok, em corredores de escolas, no transporte público e no local de trabalho. E os ataques não se limitam às escolhas de saúde reprodutiva – também incluem ameaças de agressão sexual. A ideia de estupro está sendo abertamente promovida.

O Instituto de Diálogo Estratégico rastreou o uso do slogan “seu corpo, minha escolha” e frases semelhantes, como “volte para a cozinha” e “revoguem a 19ª emenda”, no X, TikTok, Facebook e Reddit, nos cinco dias após a eleição. Os resultados mostraram um aumento de 4.600% no uso em comparação com o mês anterior.

Retrocesso na lei eleitoral

A frase “revoguem a 19ª” se refere à 19ª Emenda à Constituição, que garantiu às mulheres o direito de votar em 1920 e foi o resultado de uma longa campanha pelo sufrágio feminino.

Poucos dias antes da eleição, o conselheiro de Trump, John McEntee, publicou um vídeo no X dizendo: “Eles entenderam errado. Quando dissemos que queríamos votação apenas por correspondência, quisemos dizer masculina – ‘M-A-L-E.’ Desculpe, queremos votação apenas para homens. A 19ª pode ter que desaparecer.” O vídeo foi visto milhões de vezes.

Para aqueles que lutam contra o fascismo e por justiça econômica e social, o recado é claro: o combate ao racismo e à misoginia deve permanecer como princípios centrais de nossos movimentos e figurar com destaque em tudo o que dizemos e fazemos.

A unidade continua sendo a melhor arma que os movimentos possuem. É essencial para proteger aqueles que estão na mira da extrema-direita e trazer novos aliados para nossas coalizões.

C.J. Atkins é editor-gerente do People’s World.

Artigo traduzido do People´s World por Luciana Cristina Ruy

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  • Rita de Cássia Vianna

    Ele está escolhendo os radicais da extrema direita…quer vingança…o que vai dar?

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