Em 29 de agosto de 1943, nascia, no Rio de Janeiro, Eduardo de Góes Lobo, que se transformaria num dos maiores compositores da música popular brasileira. Filho do compositor Fernando Lobo (1915-1996), virou Edu Lobo por insistência de Vinicius de Moraes (1913-1980), um de seus grandes parceiros.
Upa, Neguinho (1966), de Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri; canta Elis Regina
Fortemente influenciado pela bossa nova, principalmente pelo violão e canto de João Gilberto e mais ainda pelo maestro Tom Jobim (1927-1994) – para alguns o maior músico do planeta –, Edu seguiu seu caminho mesclando tudo isso com ritmos nordestinos, música clássica, samba, jazz e outros gêneros, por influência de seu avô paterno.
Ponteio (1967), de Capinam e Edu Lobo; cantam Edu e Marília Medalha
Ele iniciou sua carreira, como muitos outros, participando dos grandes festivais; e foi o vencedor de vários. Já em 1965, no 1º Festival de Música Popular Brasileira, da TV Excelsior, recebeu o prêmio de primeiro lugar, com a canção Arrastão, em parceria com Vinicius de Moraes, com interpretação de Elis Regina (1945-1982).
Em 1967 ele venceu Gilberto Gil, Chico Buarque e Caetano Veloso entre outros grandes compositores no icônico Festival da Música Popular Brasileira da TV Record com Ponteio, em parceria com José Carlos Capinam, interpretação de Edu e Marília Medalha.
Arrastão (1965), de Edu Lobo e Vinicius de Moraes
Como resistência à ditadura de 1964, aproximou-se de Ruy Guerra, Oduvaldo Vianna Filho – O Vianinha (1936-1974) – e Augusto Boal (1931-2009), musicando peças teatrais. Em 1966, compôs a trilha sonora do importantíssimo espetáculo Arena Conta Zumbi, em parceria com Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), de onde saiu o grande sucesso Upa Neguinho, na voz de Elis Regina. Edu Lobo também recebeu a influência de Sérgio Ricardo (1932-2020), João do Vale (1934-1996), Carlos Lyra, entre outros.
Sobre Todas as Coisas (1983), de Chico Buarque e Edu Lobo; canta Gilberto Gil
Fez, ainda, os arranjos do musical Calabar: o Elogio da Traição, de Chico Buarque e Ruy Guerra, em 1973. Com um truque da censura, a peça foi liberada, mas, depois de tudo pronto, a encenação foi proibida, causando grande prejuízo financeiro.
Ciranda da Bailarina (1983), de Chico Buarque e Edu Lobo
Depois de ter voltado de uma temporada nos Estados Unidos, estudando música, gravou um disco com o seu ídolo, Tom Jobim, e desenvolveu parcerias com Chico Buarque; talvez a dupla mais criativa da MPB. Surgiu, nessa época, o balé, de Naum Alves de Souza, depois transformado em disco, O Grande Circo Místico, baseado em poema homônimo de Jorge de Lima (1893-1953), em 1983. E O Corsário do Rei, em 1985, com base em peça homônima de Augusto Boal.
Dos Navegantes (2017), de Edu Lobo e Paulo César Pinheiros
Com 60 anos de carreira, Edu comemora os seus 80 anos em plena atividade. Por isso, diz custar “a acreditar” que vai fazer 80 anos.
“Porque a minha cabeça é igual à de 40. Eu não estou diferente, sei lá, com dificuldade motora, então fica difícil acreditar. É uma idade grande, né? Comecei com 19, fazendo uma música com Vinicius de Moraes. Quando penso na minha carreira, tenho certeza de que foi o melhor trabalho que escolhi para a minha vida. Veja bem, quando tudo começou, eu estava estudando direito, não queria ser advogado, de jeito nenhum, mas pensava em seguir carreira diplomática. Que sorte que eu não fui, porque não tem nada que eu deteste mais na minha vida do que ouvir ou fazer discurso”.
Beatriz (1983), de Chico Buarque e Edu Lobo; canta Milton Nascimento
Na realidade, a sorte é do Brasil, que ganhou um dos maiores compositores e músicos de todos os tempos.
Que Edu Lobo consiga manter a sua criação artística ainda por muitos anos! Que em seus 80 anos venham tantos projetos que Edu Lobo não cesse jamais de criar tantos clássicos para o riquíssimo acervo da MPB, ao lado de grandes parceiros como sempre teve ou em produções solo! A grandeza de sua arte nunca se perde.
Como canta em Lero-Lero, em parceria com Cacaso (1944-1987): “Não guardo mágoa, não blasfemo, não pondero/ Não tolero lero-lero, devo nada pra ninguém” e completa: “Porque no amor quem perde quase sempre ganha/ Veja só que coisa estranha, saia dessa se puder”.
Lero-Lero (1978), de Cacaso e Edu Lobo
Marcos Aurélio Ruy é jornalista
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