
Trump e Rutte na entrevista coletiva do dia 25 de junho: deboche sobre guerras
Por Tim Brinkhof
Na dia 25 de junho, Donald Trump e o ex-primeiro-ministro holandês Mark Rutte participaram de uma coletiva de imprensa na cúpula da OTAN em Haia.
Questionado sobre a guerra em curso entre Israel e Irã — um conflito no qual, apesar de suas promessas de paz e isolacionismo, o próprio Trump arrastou os Estados Unidos — o presidente expressou suas opiniões com termos caracteristicamente inapropriados:
“Eles tiveram uma grande briga, como duas crianças no pátio da escola. Brigam ferozmente; você não consegue pará-los. Deixe que briguem por uns dois, três minutos, depois é mais fácil de interromper.”
Normalmente, o líder mundial que estiver ao lado de Trump apenas ouve. Às vezes, força um sorriso, lança um olhar preocupado ou confuso para as câmeras, ou adota uma expressão neutra para tentar esconder sua incredulidade diante da situação.
Rutte não fez exatamente isso. Abaixando-se ao nível — ou melhor, abaixo do nível — retórico de Trump, ele respondeu com toda a diplomacia e elegância que se esperaria de um estadista experiente:
“Papai às vezes precisa falar com força”.
Esse comentário já seria chocante por si só, mas é ainda mais, considerando que Rutte está atualmente servindo como secretário-geral da OTAN, a aliança militar mais poderosa do planeta. Pior ainda é o fato de que isso não foi um ato falho ou erro de tradução (embora os holandeses sejam famosos pelo uso de diminutivos fofos), mas parte de um esforço mais amplo de conduzir a diplomacia apelando ao ego de Trump.
Durante a conferência, Rutte deu continuidade ao tom de uma mensagem privada enviada por Signal a Trump no dia anterior — e que Trump posteriormente divulgou no Truth Social:
Sr. Presidente, querido Donald,
Parabéns e obrigado por sua ação decisiva no Irã — foi realmente extraordinária, algo que ninguém mais teve coragem de fazer. Isso nos torna todos mais seguros. Você está voando rumo a outro grande sucesso em Haia esta noite. Não foi fácil, mas conseguimos que todos assinassem os 5%!
Donald, você nos conduziu a um momento realmente, realmente importante para os EUA, a Europa e o mundo. Você vai conseguir algo que NENHUM presidente americano em décadas conseguiu. A Europa vai pagar — e muito — como deve, e essa vitória será sua.
Boa viagem e nos vemos no jantar de Sua Majestade!
Alguns funcionários europeus se sentiram constrangidos com a conduta de Rutte (falando anonimamente, uma fonte disse ao Político que “a bajulação foi bem exagerada”), mas outros seguiram seu exemplo. “O clima estava bom”, disse outra pessoa. “Esse é o efeito Trump.” Diplomatas, segundo relatos, parabenizaram o presidente por intermediar um cessar-fogo entre Israel e Irã — um que ambos os lados já violaram desde então. O rei da Holanda também participou da operação, convidando Trump — um fã declarado de tudo que é monárquico e dinástico — para uma “noite do pijama” no palácio.
Enquanto nas redes sociais a reação ao comentário de Rutte sobre o “papai” foi amplamente negativa — um usuário chamou o chefe da OTAN de “lacaio bajulador”, outro de “marionete favorita de Trump” —, a grande mídia foi mais condescendente. Tanto dentro quanto fora dos Países Baixos, artigos descreveram a estratégia de bajulação de Rutte como astuta, engenhosa e eficaz, referindo-se a ele como um “atlanticista pragmático” e um “encantador de Trump” — alguém que sabe, melhor que qualquer outro líder mundial, como fazer o cão raivoso, que é Donald Trump, sentar-se.
Na verdade, Rutte não é o “encantador de cães” do Animal Planet, Cesar Millan — é mais um carteiro comum. Ele não está treinando ou hipnotizando Trump, apenas o distraindo o suficiente para entregar o jornal sem ser despedaçado. Mas sua conduta não é apenas constrangedora. Se ele realmente acredita que pode bajular o presidente dos EUA a ponto de fazê-lo honrar o Artigo 5 em caso de um ataque russo à Romênia, Finlândia ou aos Bálcãs, ou convencê-lo a recuar em sua guerra comercial alimentada por tarifas contra a União Europeia, o chefe da OTAN está, na verdade, apenas incentivando Trump a continuar em seu caminho imprudente.
Sob a liderança de Rutte, a cúpula da OTAN deste ano esteve menos preocupada em enfrentar os maiores desafios da aliança e mais em garantir que o convidado de honra estivesse se divertindo. Pontos importantes da pauta foram descartados ou reduzidos conforme os interesses e a capacidade de atenção do presidente, com o comunicado final consistindo em apenas cinco parágrafos — comparados aos trinta e oito do ano anterior. Assuntos urgentes, porém, divisivos — como a guerra na Ucrânia ou o argumento de que os países não conseguem aumentar seus orçamentos de defesa enquanto enfrentam tarifas — foram amplamente ignorados.
Ainda assim, alguns veem razão para acreditar que a estratégia de Rutte está dando resultado, principalmente porque Trump parece ter saído da cúpula com um humor melhor do que no ano anterior. Naquele ano, ele chegou atrasado, empurrou o chefe de estado de Montenegro, Duško Marković, bagunçou toda a programação com uma reunião de emergência para repetir seus já conhecidos planos de retirada e foi embora mais cedo. Desta vez, ele disse à imprensa que teve uma experiência diferente, aparentemente agradável:
“Observei os líderes desses países se levantarem, e o amor e a paixão que demonstraram por seus países foram inacreditáveis. Eles querem proteger seus países, e precisam dos Estados Unidos.”
Por mais esperançosas que essas palavras possam soar, seria ingênuo da parte de Rutte e de outros líderes europeus achar que elas sinalizam o início de uma melhora nas relações entre Estados Unidos e Europa. Transformar Trump em um aliado é uma coisa; garantir que ele continue sendo é outra completamente diferente. Isso fica evidente a partir de seu histórico dentro dos próprios EUA, onde — com a notável exceção de Stephen Miller — nenhum dos principais integrantes do primeiro mandato de Trump conseguiu permanecer até o segundo. Mike Pence, Rudy Giuliani, Elon Musk — muitos dos relacionamentos políticos mais íntimos do presidente terminaram em rompimentos que deram lugar à indiferença, hostilidade e ressentimento.
O erro de Rutte não revela apenas um fraco julgamento de caráter, mas também uma falta de compreensão da política dos EUA. Por trás dos esforços determinados e autodepreciativos do chefe da OTAN para se aproximar de Trump está uma recusa — ou incapacidade — de reconhecer que o sentimento isolacionista do outro lado do Atlântico vai muito além do movimento MAGA e provavelmente sobreviverá ao tempo de Trump no poder. Mesmo que o campo de Rutte consiga apaziguar Trump no curto prazo — o que ainda é uma grande incerteza —, um futuro presidente pode muito bem seguir o precedente estabelecido por Trump e se recusar a oferecer assistência financeira e militar à Europa.
Qualquer plano de ação que não leve essa possibilidade a sério corre o risco de agravar a crise existencial da OTAN. Para que a União Europeia possa responder aos temores de seus membros orientais diante das ameaças imperialistas da Rússia, seus líderes precisam aceitar que já não podem mais contar com o dinheiro ou a força militar dos Estados Unidos — independentemente de quem ocupe a Casa Branca.
A bajulação de Rutte representa um risco não apenas à segurança europeia, mas também à sobrevivência da democracia americana. Ao se lançar — e, simbolicamente, lançar toda a Europa — aos pés do presidente dos EUA, o chefe da OTAN está, essencialmente, prestando serviços de marketing ao culto de personalidade de Trump em seu país. As imagens em vídeo do comentário sobre o “papai”, que rapidamente se tornaram virais pelo mundo, alimentam a crença sustentada por conservadores de que Trump é um líder poderoso e competente, respeitado e temido por seus pares internacionais, menos poderosos e menos capazes. Quanto mais os americanos acreditarem nisso, menos resistência o movimento de Trump enfrentará em seu caminho para desmontar instituições e salvaguardas anti-autoritárias.
Por fim, há um outro desfecho igualmente preocupante a se considerar: que a bajulação e submissão de Rutte funcionem bem demais — que, ao se colocar à disposição de Trump, ele acabe convidando-o a comandar a OTAN da mesma forma que comanda o governo dos EUA: como um instrumento público para alcançar objetivos pessoais. Nesse sentido, o elogio de Rutte a Trump por sua “ação decisiva no Irã” — uma ação que supostamente “nos torna a todos mais seguros” — evoca uma visão de futuro na qual os membros da OTAN seriam forçados a participar de guerras preventivas por procuração, enquadradas como atos de autodefesa, sob pena de Trump cortar o financiamento.
À luz das interações de Rutte com Trump, é inevitável questionar as motivações por trás de sua nomeação ao cargo de secretário-geral em outubro passado, às vésperas do retorno de Trump à Casa Branca. Embora a posição historicamente tenha sido ocupada por figuras relativamente pouco controversas, é possível que a escolha do holandês Rutte — um político sem carisma, vindo de um país igualmente sem presença de palco — tenha sido pensada como um sinal adicional para os Estados Unidos: mesmo que vocês queiram abandonar a família, ainda são o nosso papai, e faremos qualquer coisa para convencê-los a voltar para casa.
Tim Brinkhof é um jornalista holandês baseado em Atlanta. Estudou literatura comparada na Universidade de Nova York e já escreveu para a Vulture, JSTOR Daily e New Lines.
Texto traduzido do site Jacobin por Luciana Cristina Ruy
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